Portugal sem comboios internacionais de longa distância há quatro anos

Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro espera que o próximo governo e a CP “cumpram o compromisso de reposição destes serviços estratégicos”.

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Miguel Manso
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Foi a 17 de Março de 2020 que os comboios Sud Expresso (Lisboa–Hendaya) e Lusitânia Expresso (Lisboa–Madrid) circularam pela última vez. A sua suspensão foi determinada pela pandemia, mas estava-se, porém, longe de pensar que estes comboios já não voltariam a circular.

Aproveitando-se desta situação, e ainda antes do fim da pandemia, a Renfe (parceira da CP na ligação Lisboa-Madrid) fez saber que não queria de volta o Lusitânia Expresso pois era sua intenção acabar com todos os serviços nocturnos que circulavam na Península Ibérica, o que veio a acontecer. Como o Sud Expresso, comboio explorado exclusivamente pela CP, circulava em conjunto com o Lusitânia em grande parte do seu percurso, poupando-se assim no pagamento de taxa de uso (portagem ferroviária), a transportadora portuguesa decidiu, também, não o relançar justificando-se com os seus elevados custos.

A APAC (Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos de Ferro) emitiu um comunicado onde lamenta que Portugal ainda não tenha recuperado estas duas ligações ferroviárias internacionais.

“As ligações ferroviárias transfronteiriças de passageiros têm assumido um dinamismo cada vez maior na Europa, inclusive as nocturnas, pelo que não podemos deixar de lamentar a manutenção desta situação. Num contexto internacional em que a sustentabilidade e eficiência ambiental no sector dos transportes é um dos mais importantes temas em debate e tendo a Alta Velocidade voltado a ser “assunto do dia” em Portugal, esperamos não vir a assinalar esta triste efeméride no ano de 2025”, diz o documento.

Os amigos dos caminhos-de-ferro esperam que “o próximo governo e a CP cumpram o compromisso público assumido de reposição destes serviços estratégicos, com máxima urgência”.

O PÚBLICO pediu ao Ministério das Infraestruturas um comentário sobre a situação exposta, tendo recebido como resposta que “o comunicado [da APAC] destina-se ao próximo governo”.

Actualmente Portugal é o país da Europa continental mais isolado em termos de relações ferroviárias internacionais, contando apenas com uma automotora regional que liga o Entroncamento a Badajoz duas vezes por dia, e o Celta que liga o Porto a Vigo, também duas vezes por dia e é realizado por uma velha automotora a diesel apesar da linha estar integralmente electrificada.

Esta particularidade portuguesa contrasta com o recrudescimento dos comboios nocturnos na Europa que se contam já em várias dezenas de ligações internacionais. Recentemente foram relançadas as relações Paris-Viena, Bruxelas-Viena e Bruxelas-Berlim (que deverá futuramente ser prolongada a Praga) e espera-se para breve o relançamento do comboio nocturno Barcelona-Zurique (desaparecido em 2011) havendo também planos para uma ligação Barcelona-Amesterdão.

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