Andebol falha qualificação no jogo decisivo e Portugal não vai a Paris
Em 2024, ao contrário de 2022, o andebol nacional não vai aos Jogos Olímpicos, depois de deixar passar, neste domingo, num pavilhão cheio de húngaros, a última vaga para o torneio de Paris.
“Caros portugueses, se querem falar de Olimpíadas ou de resultados heroicamente inesperados, falem connosco. Nós tratamos disso”. Seria algo deste tipo que a selecção portuguesa de andebol gostaria de dizer ao país neste domingo, como já disse em tantas outras vezes. Mas não dirá.
Em 2024, ao contrário de 2022, o andebol nacional não vai aos Jogos Olímpicos, depois de falhar, neste domingo, a qualificação para o torneio com uma derrota (30-27) frente à Hungria. Esta era a última vaga disponível.
Tudo se passou, no caminho para Paris, com contornos semelhantes ao apuramento para Tóquio. A equipa precisou do torneio pré-olímpico para se qualificar, tal como na rota para os Jogos 2022, e chegou ao último jogo desse apuramento a um passo do abismo: ganhando neste domingo, iria a Paris – tal como foi a Tóquio. Perdendo, veria a prova no sofá – fatalismo que caberá, ficando uma das 12 vagas para a Hungria.
E a presença do andebol nos Jogos não seria uma mera conquista para a modalidade ou apenas mais um detalhe na missão olímpica. Esta qualificação alteraria o panorama do projecto olímpico para 2024 – e não é palpite, é garantia de José Manuel Constantino, em entrevista ao PÚBLICO no mês passado.
“A presença de uma modalidade colectiva tem valor quantitativo que não é negligenciável. O andebol acrescentaria um número significativo de atletas e a própria missão seria totalmente distinta do ponto de vista simbólico. Tem sido difícil, com excepção do futebol e andebol, ter Portugal representado com equipas colectivas”, apontou.
E detalhou: “Seria muito importante para a dimensão da missão e o aumento da representatividade entre modalidades colectivas e individuais. E também para o próprio andebol que repetiria a presença de Tóquio. O andebol acrescentaria valor simbólico às características da própria representação nacional”.
Nada disto se passará e o motivo segue descrito em baixo.
Em Tatabánya, o jogo não começou bem para Portugal, com a defesa a tentar várias intercepções, abdicando de uma postura mais expectante e posicional – e três dos primeiros cinco golos húngaros foram em intercepções falhadas dos portugueses.
Os húngaros não estavam com especiais problemas em carregar os portugueses com faltas, levando a partida para a dimensão mais física que lhes convém, “empenando” a velocidade e dinâmica que mais conviria a Portugal.
Com duas exclusões em poucos minutos, a selecção portuguesa acabou por expor-se bastante a desvantagem permanente – nos jogadores e no resultado.
Também os guarda-redes estavam a um nível abaixo do que Portugal gostaria, com Capdeville e Rema pouco efectivos, ao contrário do guardião húngaro, com várias defesas de alto nível.
O regresso de Frade, depois de alguns minutos de descanso, conjugado com alguns erros técnicos húngaros (muitos turnovers), permitiram a Portugal aproximar-se no marcador e a exclusão de um adversário fez o resto: 16-16 ao intervalo, resultado que bastaria a Portugal para ir a Paris.
Na segunda parte, Portugal chegou aos dois golos de vantagem, aproveitando uma exclusão, e a dada altura parecia que tudo corria bem a Portugal: Rema defendia mais, Bartucz defendia menos, adversários eram excluídos e até lesões em jogadores-chave, como Bánhidi e Ancsin, corriam bem aos portugueses.
A equipa portuguesa, que não teve Kiko Costa ao melhor nível, acabou por não capitalizar esse momento para mais do que dois golos de vantagem e quando lhe calhou o momento menos fulgurante, com três erros técnicos no ataque, a Hungria reequilibrou a partida.
A expulsão de Sipos, a 12 minutos do final, deixou a Hungria dois minutos em inferioridade, mas também sem um dos principais defensores para o resto do jogo.
Esperava-se momento de vantagem clara para Portugal, mas os húngaros conseguiram um par de golos que colocaram o marcador em 27-25 a cinco minutos do final.
A dois minutos e meio do fim houve exclusão para Bodo, mas a Hungria, sem guarda-redes, chegou aos três golos de vantagem. Nada poderia ser feito, sobretudo porque Bartucz decidiu que assim seria.