Moldova lança “o primeiro vinho sério do mundo” produzido por Inteligência Artificial

Os Vinhos da Moldova apresentaram duas edições especiais, um vinho branco e um tinto, na ProWein, produzidas por um “enólogo meta-humano” chamado Chelaris.

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Os vinhos tinto e branco criados pelo "bot" Chelaris no projecto moldavo "AI Wine" (Vinho IA) Direitos Reservados
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A Moldova lançou o que diz ser "o primeiro vinho sério do mundo" produzido com o recurso à Inteligência Artificial (IA) na feira internacional ProWein, que decorreu nos últimos três dias na Alemanha — e onde estiveram mais de 300 produtores de vinho portugueses.

Segundo refere em comunicado a Wine of Moldova (Vinho da Moldávia), entidade que promove os vinhos da Moldova no estrangeiro, "quase mil profissionais do sector do vinho, de todo o mundo", provaram pela primeira vez no evento de Düsseldorf um vinho tinto e outro branco "produzidos sob a orientação de um bot de IA chamado Chelaris".

Não é que Chelaris assine a enologia dos dois inusitados produtos, nascidos no âmbito do projecto "AI Wine" (Vinho IA) e apresentados no stand da Wine do Moldova. Esclarece a marca colectiva que as duas referências nasceram de uma "extensa colaboração entre enólogos moldavos", gente da tecnologia e profissionais de marketing.

A prova decorreu no contexto de uma masterclass, orientada pelo consultor e autor Robert Joseph, no passado domingo, o primeiro dia da ProWein, e onde, continuando a citar os Vinhos da Moldova, "os participantes tiveram uma visão potencial do futuro da enologia — a fusão da inteligência humana e artificial".

Os participantes provaram as duas edições especiais e foram convidados a provar vinhos equivalentes 100% feitos por enólogos de carne e osso. No final, foi-lhes pedido que "votassem" nos vinhos que entendiam ser melhores.

Diz a Wine of Moldova que "a maioria — 65% — do público ficou surpresa ao saber que a vinificação e o blend do vinho branco, uma mistura das castas Fetească albă, Fetească Regală e Viorica, seguira as instruções do bot".

Ao que parece, o tinto de Fetească Neagră feito pelo Chelaris também impressionou, apesar de a preferência dos presentes ter recaído sobre um blend daquela casta tinta com Rară Neagră, um vinho feito pelo coordenador técnico do projecto, Don Elizaveta Beanha.

Os rótulos dos vinhos também foram gerados por IA. “A Moldova prova que não tem apenas terroir e tradições, mas também um sector vitivinícola vibrante que abraça tecnologias inovadoras. A Moldova está a tornar-se uma nação líder no mundo do vinho", comentou Robert Joseph, que é citado no comunicado da Wine of Moldova.

O projecto dos vinhos do bot Chelaris contou com a colaboração com o Gabinete Nacional da Vinha e do Vinho da Moldova, através do qual a sua equipa pôde utilizar "algoritmos sofisticados para apoiar as decisões humanas no planeamento — e execução — de todos os aspectos do processo de produção: colheita, vinificação, loteamento, rotulagem e comunicação".

Seja para criar outros vinhos assinados por IA, seja para melhorar outros aspectos da cadeia de produção, o futuro do vinho moldavo, sustenta a sua marca colectiva, "dependerá parcialmente desta parceria crescente entre os sectores vitícola e tecnológico", sendo a mesma "mutuamente benéfica" e potenciadora "novas oportunidades" de negócio.

Será ou estará o vinho a vender a alma, como sugeriu recentemente José Augusto Moreira na newsletter Terroir que assina no PÚBLICO? No texto em causa, o jornalista dava conta de em Itália estar para breve um "nariz electrónico" capaz de rastrear as características, origem e qualidade de um vinho, enquanto uma tecnológica americana se prepara para lançar uma aplicação assente em IA para substituir os humanos na escolha de vinhos.

Voltando ao AI Wine, diz a sua coordenadora, Diana Lazăr, que o "enólogo meta-humano" Chelaris personifica o potencial inovador da inteligência artificial por detrás deste projecto. Apesar disso, a maioria dos participantes na masterclass da ProWein preferiu os vinhos produzidos pelo homem, o que leva a Wine of Moldova a sossegar todos quantos trabalham e/ou se interessam pelo mundo do vinho: tão cedo, as máquinas não conseguirão substituir a experiência humana neste sector.

O director do Gabinete Nacional da Vinha e do Vinho, ​Stefan Iamandi, apontou outro motivo de interesse ao projecto. A Moldova tem "um ambicioso plano de desenvolvimento sustentável" e, com o sector a querer "investir em novas vinhas, no aumento de capacidade [de produção] e na inovação tecnológica ao longo dos próximos anos", toda a (boa) inovação será bem-vinda para alcançar essas metas.

A indústria do vinho tem peso na economia nacional, "contribuindo com cerca de 3% do Produto Interno Bruto do país e 8% do total das exportações, para a subsistência de mais de 50.000 famílias nas zonas rurais", nota ainda a Wine of Moldova, cujo stand na ProWein deu a conhecer 51 produtores de vinho.

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