Casas e estúdios de artistas invadidos pelos serviços de segurança russos

Intervenção estará relacionada com o caso contra o activista e artista Piotr Verzilov. Eleições presidenciais decorrem entre esta sexta-feira e domingo.

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os raids estarão relacionados com o activista político e artista Piotr Verzilov, na fotografia Oleg Nikishin/Getty Images
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Em mais de sete cidades da Rússia, incluindo Moscovo, São Petersburgo e Novgorod, casas e estúdios de mais de 30 artistas foram alvo de buscas e apreensões pelos serviços secretos. A notícia foi avançada esta sexta-feira pelo jornal Art Newspaper com base em informações de agências internacionais, como a AFP, e sites de informação independentes especializados em assuntos russos, como o agregador de notícias Meduza, baseado na Letónia, ou o Mediazona, um órgão de oposição ao regime de Vladimir Putin.

No decurso das buscas foram confiscados computadores e telemóveis, e tudo indica que a operação esteja relacionada com o caso contra o activista e artista Piotr Verzilov, membro do grupo Pussy Riot, uma vez que os artistas cujas casas foram vistoriadas contam que as primeiras perguntas que lhes fizeram diziam todas respeito a Verzilov, que vários deles nem sequer conheceriam.

No ano passado, este artista russo-canadiano revelara numa entrevista ao jornalista Yuri Dud, divulgada no YouTube, que se alistara nas Forças Armadas ucranianas para lutar contra a Rússia. O artista, no exílio, foi condenado in absentia, em Novembro passado, a oito anos e meio de prisão por espalhar "falsidades" sobre o aparelho militar russo. A acusação remonta a 2022, quando publicara nas redes sociais relatos sobre a morte de civis ucranianos em Bucha, a cidade amaldiçoada pela guerra, pouco depois da invasão da Ucrânia a 24 de Fevereiro de 2022.

Activista político, Verzilov foi editor do Mediazona, que a sua ex-mulher, Nadezhda Tolokonnikova, e Maria Alyokhina, também elas co-fundadoras das Pussy Riot, fundaram em 2014, após terem saído da prisão a que tinham sido condenadas em 2012 por terem ocupado o altar da Catedral de Cristo Salvador com uma "oração punk" contra Putin.

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Um dos elementos das Pussy Riot, Nadezhda Tolokonnikova, com Marina Abramovic Jed Cullen/Dave Benett/Getty Images)

Uma das mais famosas performances de Verzilov foi correr pelo campo na final do Campeonato do Mundo de Futebol, em 2018, vestido com uniforme da polícia. Putin estava presente. Pouco depois seria internado. "Gravemente doente", segundo as autoridades. "Envenenado", acusaram as Pussy Riot.

Entre os que foram agora alvo de buscas estão três membros das Pussy Riot, a mãe de Verzilov e, segundo o Art Newspaper, um conjunto de criadores que abrange duas gerações e inclui os nomes dos principais artistas e curadores contemporâneos russos que ainda não deixaram o país, como Katrin Nenasheva, uma artista de São Petersburgo que várias vezes se pronunciou em nome das vítimas de abuso em instituições psiquiátricas; Artem Filatov, considerado o artista do ano em 2023 pela Feira Internacional de Arte Contemporânea Cosmoscow; Nailya Allahverdieva, directora do Museu de Arte Contemporânea de Perm , ou ainda Anatoli Osmolovsky, pioneiro da performance pós-soviética, que terá já abandonado a Rússia depois das buscas.

Um ex-fundador do Museu de Arte Contemporânea de Perm, Marat Guelman, que há dez anos abandonou a Rússia, avisara que as autoridades iriam brevemente investir contra todos os artistas contemporâneos, depois de terem estado dedicados mais especificamente aos que assumiam publicamente as suas posições anti-guerra ou aos artistas LGBTQ+.

Ao mesmo tempo que decorria esta ofensiva policial contra os artistas, Leonid Volkov, que nas presidenciais de 2018 foi chefe de gabinete da campanha de Aleksei Navalny - o líder da oposição a Putin que morreu há um mês numa prisão siberiana -, sofreu um violento ataque perpetrado por um homem armado com um martelo à porta da sua casa em Vilnius, na Lituânia.

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