Putin repete que Rússia está pronta para usar armas nucleares se for ameaçada

Putin disse esperar que os EUA evitem qualquer escalada que possa desencadear uma guerra nuclear e anunciou envio de tropa e de “sistemas de destruição” para a fronteira com a Finlândia.

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Vladimir Putin dá entrevista a media estatais antes das eleições Gavriil Grigorov/Reuters
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A Rússia está pronta para usar armas nucleares se houver uma ameaça ao Estado, à soberania ou à independência do país, declarou o Presidente russo, numa entrevista transmitida esta quarta-feira.

À televisão estatal russa, Vladimir Putin disse esperar que os Estados Unidos evitem qualquer escalada que possa desencadear uma guerra nuclear, mas sublinhou que as forças nucleares da Rússia estão prontas.

O líder russo tem falado já várias vezes da sua disposição em usar armas nucleares desde que iniciou a invasão da Ucrânia em Fevereiro de 2022. A ameaça mais recente foi feita no seu discurso do estado da nação no mês passado, quando declarou que o maior envolvimento ocidental na guerra na Ucrânia acarretava o risco de uma guerra nuclear.

Questionado se alguma vez considerou usar armas nucleares na frente de batalha na Ucrânia, o líder russo respondeu que não havia necessidade.

Na mesma entrevista, Putin afirmou que a entrada da Finlândia e da Suécia na NATO é “um passo sem sentido” e que a Rússia irá enviar tropa e sistemas de destruição para a fronteira finlandesa.

“Este é um passo absolutamente insignificante [para a Finlândia e a Suécia] do ponto de vista da garantia dos seus próprios interesses nacionais”, disse o Presidente russo, acrescentando: “Não tínhamos forças militares na fronteira finlandesa, agora elas estarão lá. Não havia lá sistemas de destruição, agora eles vão aparecer.”

Putin também expressou confiança de que Moscovo alcançará os objectivos na Ucrânia, mas disse estar aberto a negociações, acrescentando que qualquer acordo exigiria garantias firmes do Ocidente.

“Estamos preparados, mas apenas para negociações que não se baseiem em alguns desejos após o uso de psicotrópicos, mas nas realidades que foram criadas, como dizem nestes casos, no terreno”, frisou.

Na mesma entrevista, Putin acusou a Ucrânia de lançar ataques em solo russo numa tentativa de interferir nas eleições presidenciais marcadas para 15 e 17 de Março, em que tem vitória certa.

Várias regiões russas, nomeadamente Belgorod e Kursk, na fronteira com a Ucrânia, foram alvo de ataques de drones [aparelhos aéreos não tripulados] ucranianos pelo segundo dia consecutivo, tendo como alvo infra-estruturas de energia.

Uma refinaria de petróleo foi atacada por um drone esta madrugada, em Ryazan, a cerca de 200 quilómetros a sudeste de Moscovo, num ataque que causou feridos e desencadeou um incêndio, disse o governador regional.

Quase 60 drones atingiram também outras regiões russas, incluindo Belgorod, Bryansk, Kursk e Voronezh, todas na fronteira com a Ucrânia, sem causar feridos, de acordo com as respectivas autoridades regionais.

Na terça-feira, voluntários russos que lutam pela Ucrânia também alegaram terem-se infiltrado na Rússia e assumido o controlo de uma aldeia fronteiriça na região de Kursk, uma incursão que o exército de Moscovo garantiu ter repelido.

Estes ataques podem ser explicados de uma "forma muito simples. Tudo isto está a acontecer num contexto de falhas [ucranianas] na linha da frente", disse Putin.

“No entanto, o objectivo principal, não tenho dúvidas, se não conseguirem minar as eleições presidenciais na Rússia, é pelo menos tentar impedir de alguma forma os cidadãos de expressarem a sua vontade”, alegou o líder russo.

Vladimir Putin, no poder há mais de duas décadas e candidato à reeleição, é o favorito nas presidenciais, na ausência de qualquer oposição.

A eleição deverá manter Putin no poder até 2030, ano em que completará 77 anos, com a possibilidade de um mandato adicional até 2036, graças a uma alteração constitucional feita em 2020.