Agrupamento de escolas em Gondomar testa proibição do telemóvel

Em alguns dias da semana, os cerca de 1100 alunos da escola estão proibidos de usar o telemóvel, quer seja na sala de aula, quer seja no recreio.

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O objectivo final da escola é implementar a proibição do uso destes equipamentos de forma gradual Nelson Garrido
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A utilização de telemóveis no Agrupamento de Escolas Infanta D. Mafalda, em Gondomar foi proibida de forma parcial neste ano lectivo, tendo sido bem aceite pelos alunos, que cumpriram a orientação, com a excepção de “dois ou três casos”. Nesta terça-feira, os cerca de 1100 alunos da escola-sede daquele agrupamento de escolas do concelho de Gondomar estão proibidos de usar o telemóvel, quer seja na sala de aula, quer seja no recreio.

É o primeiro dos quatro dias determinados pela direcção daquele agrupamento para o mês de Março. Desde o início do ano lectivo, altura em que foi implementada a proibição total do uso destes equipamentos, que todos os meses são definidos dias, nem sempre quatro, sem telemóvel.

A única excepção é o uso do telemóvel para actividades lectivas e pedagógicas, explica à Lusa o director Laureano Valente, que sublinha que o grande objectivo é promover a comunicação e convívio entre os alunos.

“O nosso objectivo é que os nossos alunos comecem a ter outras rotinas de comunicação, de convívio e de crescimento em grupo porque — numa sociedade de comunicação global onde estamos cada vez mais isolados — é importante que os nossos jovens criem esses hábitos de proximidade uns com os outros, que não através da máquina”, defendeu.

Com concordância de alunos e encarregados de educação, com quem houve reunião no início do ano lectivo, a orientação tem sido cumprida, quase sempre à risca. Com a excepção de dois ou três casos de infracção, um deles até por esquecimento. O sucesso mede-se também pela aquisição de novos comportamentos no recinto escolar.

Com a experiência acumulada de já vários meses, Laureano Valente relata que, nos dias sem telemóvel, os alunos sentam-se a conversar ou a jogar às escondidas, à batalha naval, entre outros jogos do mesmo género. Não há ecrãs, nem olhares presos a um telemóvel ou uma comunicação que se limita aos gritos de resposta aos jogos virtuais.

“Acima de tudo, vê-se que os nossos alunos começam a conversar de uma forma serena, sem estarem ali aos berros”, descreveu.

Concentração, visão, postura corporal

Aos benefícios decorrentes da promoção de novas formas de comunicação, junta-se a redução dos impactos negativos do uso excessivo do telemóvel, sejam eles ao nível da concentração, da visão ou postura corporal.

À frente dos destinos do agrupamento — que no total, incluindo, o pré-escolar e o ensino básico, tem 2100 alunos — por pouco mais de um ano, Laureano Valente tem como objectivo final implementar a proibição do uso destes equipamentos de forma gradual e regressar a um cenário que era uma realidade naquela escola há alguns anos.

Em Outubro, na sequência de um pedido de parecer do ministro da Educação, o Conselho das Escolas — órgão consultivo que representa os directores escolares — considerou que a solução para responder aos impactos negativos do uso dos telemóveis em contexto escolar não passa por proibir a sua utilização, defendendo que devem ser os próprios agrupamentos a decidir.

No documento, o Conselho das Escolas reconhecia que a utilização dos telemóveis em contexto escolar pode implicar alguns riscos, relacionados com a exclusão social ou excessiva dependência da tecnologia, mas afirmava que “a solução não passa por proibir o uso de telemóvel nas escolas”.

Em vez disso, entendiam os conselheiros que a escola, reflectindo o comportamento social e familiar, não é responsável “por os alunos portugueses passarem um elevado número de horas em frente a ecrãs”, mas deve assumir um papel activo de sensibilização.