O Pritzker de Riken Yamamoto: quando as paredes aproximam

Edifícios como os de Yamamoto reforçam o sentimento de pertença a uma comunidade, numa resposta pragmática a alguns dos maiores flagelos das nossas sociedades: o individualismo extremo.

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Megafone P3: O Pritzker de Riken Yamamoto: quando as paredes aproximam Fujitsuka Mitsumasa
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Foi uma escolha inesperada para o público do Archdaily. Riken Yamamoto não estava na lista dos dez nomes mais votados para receber o afamado "Nobel" da Arquitectura de 2024. O que fez o júri pensar de forma diferente? Este desvio dos nomes mais mediáticos faz ecoar formas de construir e fazer cidades inesperadas, pelo menos num contexto europeu, e que nos ensina muito.

Riken Yamamoto teve um percurso diferente dos "starchitects" de que tanto ouvimos falar. Ao longo dos seus 78 anos de vida, poucas foram as aparições em grandes eventos. Mas a sua introversão era atenta, consciente. "Não sou muito bom no design", admitia o arquitecto na sua monografia de 2012, mas está atento ao que está à sua volta. Quantos arquitectos teriam o atrevimento de usar tais palavras sobre as suas próprias obras? Yamamoto vai mais longe em algumas das suas entrevistas, quando refere os clientes que acabaram por deixá-lo, por não se reverem na forma como desenhava habitação.

A citação do júri do Pritzker destaca, na obra de Yamamoto, um tema que é muito querido a tantos arquitectos: a relação entre o espaço público, comunitário e privado. No caso das obras mais conhecidas, o jogo de opacidades e transparências é desenhado com obsessivo detalhe, para que os espaços acolham atividades informais e espontâneas. Mas desengane-se quem espera edifícios espectaculares, facilmente instagramáveis, com formas ousadas e inéditas. Antes pelo contrário, há em Yamamoto uma forma de homenagear a herança vernacular, isto é, a forma de construir do povo: simples, prática, pragmática, sem artifícios ou nostalgias, com ritmos tantas vezes monótonos de perfis metálicos e superfícies de vidro que fogem do protagonismo.

Riken Yamamoto é um ávido viajante, mas só conheceu outros continentes quando já tinha mais de 40 anos. E nos países onde passou, da África à América, esteve sempre atento, registando a forma como viviam as pessoas, que viviam de acordo com as suas possibilidades tecnológicas, ecológicas e, talvez acima de tudo, de coexistência. A coexistência possível.

É da busca de uma comunidade que fala a obra de Yamamoto. Na Universidade de Saitama, as salas de aula vêem-se umas às outras e o espaço de circulação entre edifícios tem espaços de permanência, num convite assumido à aprendizagem interdisciplinar. No quartel de bombeiros de Hiroshima Nishi, edifício com a máxima transparência, toda a vida no interior, de testes e ensaios do combate aos incêndios, parece projetada para o exterior, mostrando como ali dentro também se faz serviço comunitário. Chegam crianças das redondezas que ali brincam, pisando chão transparente onde se expõe equipamento de combate aos incêndios.

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Quartel de Bombeiros em Hiroshima Tomio Ohashi

Edifícios assim concebidos reforçam o sentimento de pertença a uma comunidade, numa resposta pragmática a alguns dos maiores flagelos das nossas sociedades: o individualismo extremo e as suas comorbidades, como os níveis de depressão, tão extremos em países como o Japão. As propostas de Yamamoto estão alicerçadas num entendimento cosmopolita da profissão, aberta à aprendizagem, onde quer que seja. Uma vez construídas, melhoram o espaço público, na certeza de que, tal como nas palavras de Anna Arendt (que influenciaram Yamamoto), as cidades que construirmos vão sobreviver-nos, ultrapassando a nossa própria existência. Vem a obra de Yamamoto lembrar-nos como habitação unifamiliar não pode ser a nossa única preocupação, ou as tendências de polarização social e política que nos rodeiam não terão fim à vista.

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