Morreu, aos 101 anos, Juli Lynne Charlot, criadora da saia poodle

Uma ideia para uma roupa de festa de Natal transformou-se num dos looks mais famosos dos anos 50.

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Juli Lynne Charlot com a sua saia circular original, adornada com árvores de Natal DR
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Foi por acaso que Juli Lynne Charlot, no final de 1947, inventou uma peça de roupa que se tornou um ícone da moda norte-americana dos anos 50, a saia poodle. Aos 101 anos, a artista e designer de moda morreu, no domingo, na sua casa em Tepoztlán, México, noticia o The New York Times (NYT).

Nascida em Nova Iorque, no bairro de Bronx, a 26 de Outubro de 1922, foi na adolescência que Shirley Ann Agin adoptou o nome Juli Lynne, já depois de a família se ter mudado para o Sul da Califórnia. Então, a filha de um electricista e de uma bordadeira de origem judaica, que foram à procura de trabalho nos estúdios de Hollywood, sonhava tornar-se uma soprano, mas tornou-se uma artista que, por exemplo, participou na digressão dos Irmãos Marx, pelas bases militares norte-americanas, durante a Segunda Guerra, recorda o The Washington Post (WP).

Na escola secundária de Hollywood teve colegas de turma que se tornariam famosas, como as actrizes ​Lana Turner (1921-1995), Judy Garland (1922-1969) e Ann Miller (1923-2004). Aos 13 anos, a ainda Shirley começou a ter aulas de voz e, depois de terminar o secundário, trabalhou como cantora em grupos como o Los Angeles Civic Light Opera. Estreou-se na Broadway em 1945, na opereta The Red Mill, de Victor Herbert; e chegou ao cinema no ano seguinte, onde apareceu no filme Night in Paradise.

Com um convite para uma festa de Natal, em Hollywood, e com pouco dinheiro, Juli utilizou a régua de cálculo do irmão para calcular as dimensões para fazer um círculo perfeito numa peça de tecido que a mãe lhe oferecera. Depois veio a tesoura. “Eu não sabia fazer costura, por isso, cortei um círculo com um buraco no meio, coloquei-o na cintura e tinha a minha saia”, recorda Juli Lynne Charlot, citada pelo WP.

O design simples feito para a festa — com a cintura apertada, um pedaço de tecido que parecia um sino, a balançar, e com apliques alusivos à época — tornou-se um dos visuais que melhor definem a juventude da década de 1950, e que nunca falta em cada nova produção de musicais como Grease, a que se juntam os soquetes nos pés e os rapazes vestidos de negro, nas suas motos.

A saia tornou-se um sucesso e uma loja de Beverly Hills pediu a Juli Lynne que produzisse mais três que rapidamente foram vendidas. Então, os proprietários da boutique sugeriram à criadora que, em vez das decorações natalícias, juntasse à saia rodada um motivo com cães. A sua primeira ideia foi fazer apliques com um macho e duas fêmeas de raça Dachshund, mas depois vieram os poodles de todos os tipos, numa alusão ao chique francês, recorda o NYT. E a saia ficou assim baptizada.

Seguiram-se os grandes armazéns e, para fazer face às encomendas, a criadora abriu uma pequena empresa de confecção e aprendeu a costurar. Um negócio que podia não ter corrido bem. “A minha mãe penhorou o anel de diamantes três semanas seguidas para me ajudar a pagar os ordenados”, confessou à United Press, em 1953. Depois chegaram encomendas de outras lojas de renome, incluindo a Neiman Marcus, em Dallas, e a Bergdorf Goodman, em Nova Iorque. A moda espalhava-se assim por todo o país e até a futura rainha britânica vestiu um exemplar, numa visita ao Canadá.

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A futura rainha Isabel II, com uma saia poodle, numa visita ao Canadá em 1951 DR

Criatividade não faltava à artista, que aplicou vários temas às enormes rodas das suas saias, de animais diversos a temas florais, passando por paisagens, incluindo a Torre Eiffel. Durante as eleições presidenciais de 1956, desenhou o burro democrata a dar um pontapé ao elefante republicano. Sem sucesso, uma vez que o republicano Dwight D. Eisenhower conseguiu a reeleição.

Juli Lynne acrescentou ao nome o apelido Charlot, quando se casou com um visconde, filho de pais francês e mãe britânica, Philip Charlot, um oficial da Marinha Real Britânica, na década de 40. A pedido do marido, que também tentou a sorte como editor em Hollywood, a artista abandonou a sua carreira, mas, lembra o NYT, não tinha falta de “admiradores famosos”, entre eles os actores Harold Lloyd (1893-1971), Gary Cooper (1901-1961) e o violinista Isaac Stern (1920-2001), recorda a própria.

Casou-se quatro vezes, com dois milionários, um visconde e um filho de um barão. O primeiro casamento, com um milionário, “não contou muito”, disse a própria, já que se divorciaram ao fim de três dias. O segundo foi com Philip Charlot, a quem daria o divórcio, porque aquele não queria que ela tivesse uma carreira. Seguiu-se o segundo milionário e por fim o filho mexicano de um barão alemão. Desconhece-se que a artista tenha descendentes, refere a especialista em moda Lizzi Bramlett ao WP.

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Uma saia poodle custava 35 dólares, o equivalente a 400 dólares nos dias de hoje The Washington Post

No início dos anos 80, Juli Lynne Charlot começou a produzir interpretações de vestidos de noiva tradicionais mexicanos numa fábrica na Cidade do México — também estes trajes têm como característica as enormes saias rodadas. Mas um terramoto, em 1985, destruiu a fábrica e ela desistiu. Entre os coleccionadores de roupa vintage, uma saia poodle original pode valer centenas de dólares. Alguns dos modelos mais raros, como as saias políticas de edição limitada, podem atingir mais de mil dólares.

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