Avaliado a meio do jogo, António Costa diz deixar muita obra para Pedro Nuno inaugurar

O primeiro-ministro trouxe um presente envenenado ao novo líder, mostrando-lhe o legado que deixa para inaugurar até 2026, a meio do próximo mandato. E lembra que governar é muito mais que isso.

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Pedro Nuno Santos e António Costa no comício no Porto Daniel Rocha
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A avaliar pela ovação com a frase de ordem "Costa, amigo, o povo está contigo" gritada durante 30 segundos quando subiu ao palco para discursar no pavilhão Rosa Mota, no Porto, o actual primeiro-ministro ainda tem muito capital político. E não é só pelo empurrão que Francisco Assis lhe dera antes para presidir ao Conselho Europeu.

António Costa tem muita obra para mostrar, como fez questão de assinalar numa intervenção mais demorada que a de Pedro Nuno Santos, e diz deixá-la para o seu sucessor socialista inaugurar. Não teria nada de mal, se não tivesse também avisado que a AD só sabe inaugurar obra que não é sua, mas sim que o PS lançara. Se Pedro Nuno Santos tem repetido o "orgulho" no legado da governação de Costa, coisa diferente é ouvi-lo da boca do próprio perante uma plateia de 4000 mil pessoas e transmitido em directo na TV.

Costa recordou que o PS foi "avaliado por duas vezes": em 2019, por ter virado a página da austeridade, levou um "bom mais" e em 2022, depois do combate à pandemia, um "muito bom". Em condições normais, só seria avaliado em 2026, mas está como o aluno avaliado a meio do segundo período ou um jogo do Porto com o Santa Clara, suspenso aos 40 minutos com um empate. Costa acredita que, mesmo com esse tempo de jogo, o PS "vai ganhar as eleições".

Argumentou que os dois últimos anos "foram muito difíceis", marcados pela guerra e a "maior crise inflacionista" em 30 anos, mas duvidou que os adversários fizessem melhor, já que os planos de emergência do PSD foram sempre menores que os do Governo, que continuou a aumentar salários e pensões e lançou vários pacotes de ajudas. "Eu gostava de saber de onde é que eles saíram limpos", questionou, para defender que a direita aumentou a dívida entre 2011 e 2105 até aos 131%, enquanto ele a deixa abaixo dos 100% do PIB, e com um rating da República devolvido a A por todas as agências.

"Há muitos problemas que estávamos a tentar resolver”, disse, admitindo que o SNS é uma das áreas. Costa diz ter ido confirmar a afirmação do PSD de que Passos Coelho fez sete hospitais: estavam, afinal, já todos lançados ou prestes a inaugurar. “Isto significa que para eles governar é inaugurar.” Qualquer “político adulto” sabe que “só na poesia basta que Deus queira, o homem sonhe e a obra nasça”. Na vida real, “para que obra nasça, há muito trabalho a fazer” e Costa avisa que não vale a pena apostar na "impreparação" de Montenegro para governar.

Porém, não resistiu a dizer ao novo líder do PS que também ele terá muita obra para inaugurar para além das que lançou como ministro - obra sua, de Costa. E foi desfiando a lista de cinco hospitais, de centenas de centros de saúde, de milhares de camas nas residências universitárias e lugares em creche que deixa no país. "Se o PSD ganhar, nunca poderá dizer 'esta obra é minha' sobre casas públicas em construção, os muitos quilómetros do IP3, e as muitas obras das linhas [férreas]: Serão obra sua”, fez questão de dizer.

O palco do Palácio de Cristal foi sobretudo para o primeiro-ministro. Pedro Nuno seguiu o guião de discurso que tem usado todos os dias, mas deteve-se mais no Estado social, nos salários e na saúde. Insurgiu-se contra a estratégia “errada” da AD de 23,5 mil milhões de euros de menos receita de impostos e mais despesa. "É mais do que um PRR", disse Pedro Nuno, "traduzindo" isso em obra: "Significam casas, centros de saúde, hospitais, creches, lares, estradas, ferrovia, transportes públicos, escolas. Significa Estado social."

Recorrendo à imagem da manta para tapar os mais ricos mas que deixa destapados os pés da maior parte dos portugueses, apontou: "O choque fiscal da AD é para alguns mas é um xeque-mate ao Estado social e à maioria do povo português." Por isso, o PS preferiu elaborar um "cenário sério, cauteloso, responsável e com indicadores credíveis para não fazer promessas irrealizáveis e poder proteger pensões e salários (...) Mas também ambicioso."

No final, deixou com um apelo dramático aos indecisos. "Confiem em nós. Confiem em mim, em quem sempre se bateu por um país para todos, inclusivo, e que não deixa ninguém para trás. Não vos vou desiludir”, prometeu antes da apoteose do palco cheio de candidatos e Costa, a quem abraçou de largo sorriso. Remataram batendo as quatro mãos num high five.

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