Biden anuncia que os EUA deverão lançar ajuda humanitária sobre Gaza

O Presidente norte-americano afirmou que Washington “faria tudo o que conseguisse” para permitir a entrada de mais ajuda humanitária no enclave. Ajuda inclui bens alimentares.

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Joe Biden anunciou a ajuda humanitária na Sala Oval da Casa Branca EPA/CHRIS KLEPONIS / POOL
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O Presidente norte-americano anunciou esta sexta-feira que as Forças Armadas dos Estados Unidos deverão largar nos próximos dias sobre Gaza, por via aérea, ajuda humanitária que inclui alimentos e outros bens. Joe Biden afirmou ainda que Washington faria tudo o que pudesse para conseguir que mais ajuda entrasse no enclave palestiniano.

As declarações foram feitas um dia depois de uma centena de palestinianos à espera de ajuda terem sido mortos no Norte de Gaza, num incidente que voltou a chamar a atenção para a catástrofe humanitária em curso no território.

Pelo menos 576 mil pessoas na Faixa de Gaza – um quarto da população do enclave – estão a um passo de passar fome, de acordo com o Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.

As autoridades de saúde de Gaza, controladas pelo Hamas, dizem que as forças israelitas mataram mais de cem pessoas que tentavam alcançar camiões de ajuda humanitária esta quinta-feira. O ataque aconteceu num contexto de desespero cada vez maior, ao cabo de cinco meses de uma guerra que se seguiu ao ataque de 7 de Outubro do Hamas a Israel.

Israel, por seu turno, disse que as mortes de quinta-feira aconteceram devido a multidões descontroladas que se dirigiram aos camiões de ajuda, tendo as vítimas sido espezinhadas ou atropeladas pelos veículos civis. Um responsável israelita disse também que as tropas tinham, "numa resposta limitada", disparado contra grupos de pessoas que pareciam constituir uma ameaça.

Num contexto em que há pessoas a comer alimentos para animais e cactos para sobreviver, e em que os médicos dizem haver já crianças a morrer nos hospitais, desnutridas e desidratadas, a ONU diz que enfrenta "obstáculos enormes" ao tentar conseguir a entrada de ajuda em Gaza.

David Deptula, um general reformado da força aérea norte-americana, disse à Reuters que os lançamentos aéreos eram algo que o exército conseguiria executar com eficácia.

Israel "sabe" do lançamento de ajuda

Existem no entanto dúvidas sobre a eficácia do lançamento aéreo de ajuda em Gaza. Um responsável norte-americano, falando sob anonimato, disse que estes só teriam um impacto limitado no alívio do sofrimento da população civil.

"Não resolve a questão de raiz", afirmou, acrescentando que só a abertura de fronteiras terrestres pode permitir que se lide com a crise humanitária de uma forma séria.

Outro problema, acrescentou o responsável, é o facto de os EUA não conseguirem garantir que a ajuda não acabe nas mãos do Hamas, tendo em conta que não há soldados norte-americanos no terreno.

"Os trabalhadores humanitários queixam-se sempre que os lançamentos aéreos dão boas oportunidades para fotografias mas são uma má forma de fornecer ajuda", disse o director do International Crisis Group, Richard Gowan. O responsável acrescentou também que a única forma de levar ajuda suficiente era através de camiões de ajuda, assim que haja uma trégua no conflito.

"É inquestionável que a situação em Gaza é tão má que quaisquer bens podem aliviar, pelo menos, algum do sofrimento. Mas isto é, na melhor das hipóteses, um penso temporário", disse Gowan.

"Sabemos do lançamento de ajuda humanitária", disse um responsável israelita em Washington. O responsável, que falou sob condição de anonimato, não respondeu a perguntas sobre se os Estados Unidos tinham procurado a aprovação israelita sobre o lançamento ou se estavam a coordenar a acção em conjunto.

A ONU levou ajuda ao Norte de Gaza pela primeira vez em mais de uma semana esta sexta-feira, disse o Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU. As Nações Unidas forneceram medicamentos, vacinas e combustível ao hospital de al-Shifa em Gaza.

O Programa Alimentar Mundial disse há dez dias que iria colocar em pausa o fornecimento de ajuda alimentar ao Norte de Gaza até que as condições no enclave palestiniano permitisse uma distribuição segura.

A UNRWA (Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos) disse esta sexta-feira que durante Fevereiro tinha entrado em Gaza, todos os dias, uma média de 97 camiões. Em Janeiro, a média diária era de 150 camiões. "O número de camiões a entrar em Gaza continua bem abaixo do objectivo dos 500 por dia", acrescentou.