A Vinha do Eirol e o tinto exótico e original das Carvalhas

Mesmo nos vinhos cirúrgicos que as Carvalhas produzem, há lugar para surpresas. Aqui, boas. Um vinho que dá prazer, é poesia, domina a conversa e pode bem ser descrito como arquétipo de um novo Douro.

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O Quinta das Carvalhas Vinha do Eirol Tinto 2021 é uma das novidades absolutas que a Real Companhia Velha apresentou há dias Gonçalo Villaverde / Direitos Reservados
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Da Quinta das Carvalhas, uma propriedade abençoada — com "uma diversidade de terroirs inacreditável", várias exposições e altitudes, vinhas muito velhas (e outras mais jovens) —, e de uma sucessão de acasos mais ou menos felizes, chega-nos um tinto exótico, com um nariz originalíssimo e que nos provoca uma mistura de sentimentos. Que veste como uma luva a história que contou, há dias, Jorge Moreira. Quando era ainda um "miúdo" no mundo do vinho, o enólogo perguntou a Jancis Robinson sobre as três coisas necessárias para fazer um grande vinho e a crítica de vinhos e guru britânica respondeu-lhe "location, location, location" ("lugar, lugar, lugar"). Mas Jorge é modesto: o lugar não é tudo, e aqui há uma enologia moderna e de detalhe que tira partido do lugar e das suas uvas.

A Real Companhia Velha (RCV) apresentou cinco novidades das Carvalhas, duas são estreias absolutas. É o caso deste Quinta das Carvalhas Vinha do Eirol Tinto 2021, um vinho que desafia qualquer matriz. Não foi o nosso favorito à mesa — arrebatou o nosso coração o Quinta das Carvalhas Tinta Francisca 2020; pode ler essa e outras notas de prova no Terroir —, mas teve o condão de espoletar uma conversa interminável.

Também a RCV tem vindo a comprar pequenas parcelas de vinha a viticultores que, seja pela sua idade avançada, seja porque o rendimento que tiram da vinha é indigno, vão desistindo de produzir uvas no Douro. A Vinha do Eirol, com 1,2 hectares de várias castas misturadas e videiras plantadas em 1920, a 360 metros de altitude e virada a Poente, é uma dessas parcelas.

Conta Pedro O. Silva Reis que a equipa de enologia que integra, e que é liderada por Moreira, está a trabalhar num "vinho de cariz mais pessoal", que a seu tempo será apresentado, com "uma vinificação diferente" e cuja matéria-prima vem de três parcelas de vinhas muito velhas, uma delas a do Eirol. Acontece que 2021 — uma vindima longa, fresca e chuvosa, que deu quantidade e mostos frescos e ligeiramente menos alcoólicos — originou um vinho que "não se enquadrava" nessa tal referência misteriosa mas que, por ser "muito fora do baralho", a empresa entendeu engarrafar a solo.

Na vinificação, 70% dos cachos de uvas entraram inteiros e a fermentação aconteceu num pequeno balseiro de carvalho francês, com pigéage ligeira e remontagens feitas a balde. O objectivo era extrair pouco e devagar. O resultado é um vinho de cor granada, mais aberta do que a de um Douro clássico, e um vinho mais leve também, com apenas 12,5% de álcool.

Parece-nos ter algo farmacêutico, para além de fruta do bosque e um lado vegetal (lenha verde). Autêntico quebra-cabeças, de repente chegámos lá: cheira-nos às pêras passas da mesa de Natal, as pêras de São Bartolomeu! Na boca, ainda é jovem, intenso e tem um tanino bom e um lado fino, que segundo Álvaro Martinho, responsável pela viticultura nas Carvalhas, virá do Rufete, aparentemente a casta mais representada na Vinha do Eirol.

"Um vinho que abre o leque da diversidade no Douro", como notou o enólogo Jorge Moreira. E que, parafraseando Martinho, dá "prazer e poesia".

Nome Quinta das Carvalhas Vinha do Eirol Tinto 2021

Produtor Real Companhia Velha

Castas Vinhas Velhas (mistura de castas)

Região DOC Douro

Grau alcoólico 12,5%

Preço (euros) 50

Pontuação 95

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Novidade absoluta no portefólio da Real Companhia Velha, é um tinto exótico e com um nariz originalíssimo. Nasceu na centenária Vinha do Eirol, uma das várias parcelas ali à volta das Carvalhas que a empresa tem vindo a adquirir, e esteve para integrar um vinho de lote, ainda no segredo dos deuses, acabando por ser engarrafado a solo. Ainda bem. É um vinho de lugar e de enologia moderna, de cor aberta e mais leve, outro Douro. No nariz, oferece fruta do bosque, um lado vegetal (lenha verde) e uma nota intrigante, que a princípio parecia farmacêutica, mas que a nossa memória olfactivo situou na mesa Natal: cheira-nos àquelas pêras secas! Jovem, intenso, com um tanino bom e um lado fino que virá do Rufete, a mais representada na vinha. Final longo. Só 600 garrafas.

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