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Estamo-nos nas tintas para a acção climática?
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Estamos em plena emergência climática. Nas semanas que antecederam a COP28, no Dubai, foram vários os relatórios que mostraram os défices existentes em termos de acção climática: não cortámos (nem temos planos para cortar) o suficiente nas emissões de gases com efeito de estufa, não estamos a olhar com atenção para a adaptação dos territórios, não há planos concretos sobre como financiar estes esforços. No início deste ano, o Conselho Consultivo Científico Europeu sobre Alterações Climáticas (ESABCC) apelou à UE para que aumente os esforços para traçar um retrato dos investimentos necessários (e efectivos) na mitigação das alterações climáticas, a fim de avaliar os progressos – porque pouco sabemos, em detalhe, sobre se o que estamos a fazer tem impacto.
Em Junho do ano passado, um relatório do Tribunal de Contas Europeu (TCE) notava que, tendo por base o orçamento comunitário 2021-2027 e os planos nacionais de energia e clima dos Estados-membros, não era nada claro como chegaremos à meta definida pela União Europeia de reduzir as emissões em 55%, por comparação a 1990. Logo no seu subtítulo, o relatório Metas da UE em matéria de clima e energia dizia que "pouco indica que as acções para alcançar as aspirações de 2030 sejam suficientes". Em suma, os relatórios mostram que os governos europeus não têm estado verdadeiramente à altura do desafio do combate às alterações climáticas.
Posto isto, foi com perplexidade que vi ontem a acção do movimento climático estudantil na campanha de Luís Montenegro, em Lisboa. Um jovem atirou tinta verde contra o líder da AD, sendo quase imediatamente detido. Nos telejornais, programas de comentário e reacções dos outros partidos, a condenação foi quase unânime. As reivindicações do movimento Greve Climática Estudantil, essas, foram resumidas a "uma causa justa" e muito pouco aprofundadas. Na cobertura Ao Minuto do PÚBLICO, procurámos incluir a mensagem dos estudantes, de que "nenhum partido tem um plano adequado à realidade climática" e que, defendem, é necessário o fim dos combustíveis fósseis até 2030, o fim do gás para produzir electricidade até 2025 e uma transição para 100% de electricidade renovável e gratuita. Mas, enquanto escrevia a breve notícia, pensei várias vezes: em que medida é que isto funciona? Será que, como repetiu mais tarde o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, estas acções "já perderam eficácia"?
A transformação social – como a que precisamos neste momento no sentido de mais ambição ecológica – funciona de formas que nem sempre compreendemos. No Verão passado, a propósito dos vários torneios desportivos interrompidos por activistas, o jornal britânico The Guardian noticiou um estudo que questionou dezenas de especialistas em movimentos sociais para compreender até que ponto acções mais disruptivas são eficazes no longo prazo. As respostas foram surpreendentes (pelo menos para mim): por mais reacções virulentas que despertem no momento, este tipo de acções não prejudica as causas. Pelo contrário, ajudam a colocar determinados temas na agenda, abrindo espaço a que movimentos mais moderados ou institucionais consigam complementar esse percurso. "Quer gostemos, quer não, a história da mudança social é também uma história de contestação política e disrupção", afirmava Bart Cammaerts, professor da London School of Economics, um dos inquiridos.
Contudo, nem todas as acções de "guerrilha" valem o mesmo no momento em que acontecem. Apesar de os cientistas garantirem que as reflexões despertadas por este tipo de acções serão valiosas no nosso caminho para repensar a sociedade em que vivemos, há várias questões que não me saem da cabeça nos últimos meses (ou anos), desde que o movimento pela justiça climática começou as suas acções "disruptivas". Se acreditarmos que "o meio é a mensagem", será que atirar tinta sobre um político em campanha é adequado para garantir que a mensagem passa com clareza? Nesta sociedade do espectáculo, será que estas acções perante as câmaras de televisão conseguem, de facto, fazer valer a substância das reivindicações, mais do que apenas alimentar o "espectáculo"? As minhas dúvidas, no entanto, regressam inevitavelmente à questão da emergência em que nos encontramos – e à inércia que vemos, seja na acção, seja no discurso político.
É possível – e até provável – que não concorde com a acção que teve lugar esta quarta-feira. Mas tendo em conta que a crise climática e ambiental não tem estado, efectivamente, no centro do debate político, sucessivamente deixada para segundo plano em nome do "imperativo" da economia (como se a economia, como a sociedade, não dependesse de um planeta "saudável"), é importante que nos questionemos: se não assim, então como? O que fizemos nós hoje – eu e quem agora me lê – para, através de meios que consideramos justos, alertar as nossas comunidades, os nossos políticos e as nossas empresas para a urgência de agir?