CEDEAO enterra o machado de guerra para evitar que Níger, Mali e Burkina Faso deixem a organização
Líderes da África Ocidental mudam estratégia e levantam sanções a Níger e Guiné-Conacri e restrições ao Mali. Organização regional quer evitar que países da Aliança dos Estados do Sahel deixem o bloco
A primeira página desta segunda-feira do diário nigerino L’Enqueteur está toda ocupada com o levantamento das sanções económicas ao país, bem como ao Mali e à Guiné-Conacri. “O Níger, e por extensão a AES, estará pronto para um regresso à CEDEAO?”, pergunta-se na manchete inspirada no editorial assinado pelo director da publicação, Soumana Idrissa Maïga.
A decisão dos líderes da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), reunidos no fim-de-semana na Nigéria, que incluiu também “o levantamento das sanções económicas e financeiras contra a República da Guiné” e “o levantar de restrições ao recrutamento de cidadãos da República do Mali para posições em instituições da CEDEAO”, é a reacção do bloco ao anúncio de saída da organização dos países da Aliança dos Estados dos Sahel (AES), o grupo de três países dirigidos por juntas militares que assinaram um acordo de cooperação em matéria de defesa.
Um sinal de abertura ao diálogo que a CEDEAO pretende enviar de modo a reverter o anúncio da saída do Níger, Mali e Burkina Faso da organização. Como referiu o presidente do bloco, o chefe de Estado da Nigéria, Bola Tinubu, uma mudança estratégica empunha-se para evitar que os líderes militares do Níger, Burkina Faso, Mali e Guiné-Conacri “olhem para a organização como o inimigo”.
Os três países anunciaram a saída conjunta imediata do bloco regional no final de Janeiro, depois de a CEDEAO ter ameaçado até com uma intervenção militar para repor a ordem constitucional no Níger, após o golpe militar de Julho do ano passado. A resposta foi um acordo de cooperação militar dos três Estados: em caso de entrada de soldados da CEDEAO num dos países, os outros dois eram obrigados a ajudar na defesa.
Da reunião à porta fechada dos líderes da CEDEAO saiu o fim imediato do encerramento de fronteiras, do congelamento dos activos do Estado e do banco central e da suspensão das transacções comerciais no Níger. O comunicado justifica a decisão com razões humanitárias, mas trata-se de uma jogada política para sentar os líderes das juntas militares à mesa e evitar a amputação do bloco de três dos seus membros. Aliás, o próprio comunicado “exorta ainda os países a reconsiderar a decisão tendo em conta os benefícios que os Estados-membros da CEDEAO e os seus cidadãos desfrutam na comunidade”.
Maïga advoga no seu editorial “a reintegração do Níger e da AES na CEDEAO", por ser "uma estratégia ganhadora para o futuro”, pois permitirá “dar forma a uma África Ocidental mais forte, mais unida e mais próspera”.
O director do L’Enqueteur sublinha que, numa altura em que “as grandes potências estão envolvidas numa luta de influência em África”, a CEDEAO permite que os países da África Ocidental ganhem força, porque “uma frente unida pode eficazmente defender os interesses dos seus membros e contrariar qualquer tentativa de exploração unilateral”.
Omar Alieu Touray, presidente da comissão da CEDEAO (director executivo da organização e das suas instituições), fez questão de sublinhar que “as sanções individuais e políticas se mantêm” e voltou a pedir “a libertação imediata” de Mohamed Bazoum, o Presidente nigerino deposto, afirmações que não deixam de ser vistas como um gesto para disfarçar o recuo político da organização no braço-de-ferro com os militares golpistas de que nitidamente se viu obrigada a abdicar.
“Temos de rever a nossa abordagem quanto ao regresso à ordem constitucional em quatro dos nossos países-membros”, disse Bola Tinubu, depois de os seus homólogos da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, do Togo, Faure Gnassimbé, do Benim, Patrice Talon, se terem mostrado favoráveis a uma nova abordagem, mais dialogante, com os militares golpistas que assumiram o poder nos quatro países.