No Evereste, alpinistas estão agora proibidos de deixar cocó: têm de carregá-lo em saquinhos

No monte Evereste, o cocó é um problema. Os alpinistas passam a ser obrigados a ensacar o seu cocó e a transportá-lo até ao acampamento base, decidiram as autoridades de Khumbu Pasanglhamu.

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Um alpinista em frente ao Evereste Reuters/Navesh Chitrakar
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Os alpinistas que ascendem ao monte Evereste deverão recolher o seu cocó em sacos e transportá-lo de volta para o acampamento base, de acordo com os novos regulamentos das autoridades locais, que tentam resolver o problema de dejectos humanos há muito existente no pico mais alto do mundo.

As autoridades locais do município rural de Khumbu Pasanglhamu, o organismo que governa a maior parte do Evereste, trabalharam com o grupo local de gestão de resíduos Comité de Controlo da Poluição de Sagarmatha para a aquisição de milhares de sacos para os alpinistas e o pessoal. De acordo com Archana Ghimire, responsável pelo ambiente do município rural de Khumba Pasanglhamu, as autoridades têm sacos para cerca de 400 alpinistas estrangeiros, 800 membros do pessoal de apoio e 300 membros da equipa de resgate. Cada pessoa receberá três sacos para reutilizar durante a escalada e para os deitar fora no final da viagem.

Normalmente, são necessárias duas semanas ou mais para completar o cume depois de chegar ao acampamento base, onde os alpinistas receberão os sacos.

Há anos que os alpinistas têm vindo a poluir a montanha. Mas à medida que o turismo de aventura continua a crescer, as encostas e cumes nevados da montanha estão cada vez mais cheios de fezes humanas e outros resíduos. De acordo com o relatório de 2022 do Comité de Controlo da Poluição de Sagarmathah, na Primavera, os alpinistas produziram mais de 16 toneladas de cocó no monte Evereste, no monte Lhotse e no monte Nuptse, três picos na região de Khumbu.

É um efeito colateral malcheiroso de uma indústria de escalada que — para além de destruir a beleza estética da montanha — representa um risco para a saúde da população local perto da base da montanha, e tem resultado em consequências cada vez mais mortais para os alpinistas e guias. O Nepal emitiu um recorde de 463 autorizações para escalar o Evereste na época da Primavera de 2023, segundo a Reuters.

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O turismo no monte Evereste não pára de crescer Reuters

“Ao impor regulamentos rigorosos de gestão de resíduos, o Governo local espera reivindicar e restaurar a beleza natural da região do monte Evereste e combater a poluição”, disse Mingma Chhiri Sherpa, presidente do município rural de Khumba Pasanglhamu, num email.

Quando as pessoas escalam o Evereste, passam a maior parte do tempo no acampamento base, para se ambientar à altitude antes de recomeçar a subida. O acampamento base tem tendas com algo semelhante a uma “casa de banho” — essencialmente um buraco no chão com bidões por baixo que são esvaziados regularmente. Mas assim que os alpinistas começam a subir ao cume, a situação torna-se um pouco mais livre.

Alguns grupos de expedição transportam os seus próprios bidões para os dejectos; outros cavam buracos na neve para se aliviarem. Mas, especialmente à medida que se sobe mais alto, há quem simplesmente se alivie em qualquer lado. E as temperaturas geladas em altitude preservam as fezes, cobrindo uma maravilha histórica e espiritualmente significativa para as comunidades nepalesas que facilitam as caminhadas pela montanha.

“No passado, [os alpinistas] cavavam buracos ao acaso perto do acampamento ou talvez colocassem alguns blocos de neve para ter privacidade”, disse Daniel Mazur, um guia de caminhada do grupo de expedição Summit Climb. “Basicamente, ia-se à casa de banho num buraco escavado na neve, e esse buraco era preenchido e nenhum dos dejectos humanos era retirado do buraco.”

Agora, os alpinistas receberão os sacos no acampamento base e deverão carregá-los de volta no final da viagem.

Excesso de turistas

O regulamento é o mais recente de uma série de esforços das autoridades locais nepalesas e das organizações de supervisão para gerir o crescente problema dos resíduos provocado pela sobrelotação da montanha, que se tornou um destino popular para as empresas de guias ocidentais desde que foi oficialmente escalada pela primeira vez por sir Edmund Hillary e pelo guia sherpa Tenzing Norgay, em 1953.

Para reduzir os resíduos físicos produzidos pelos alpinistas — detritos, plásticos e outro lixo não biodegradável — o município rural de Khumbu Pasanglhamu exige que os grupos paguem um depósito de lixo antes do cume, que é depois devolvido quando terminam a caminhada com pelo menos oito quilos de lixo a reboque, segundo Chhiri. O Comité de Controlo da Poluição de Sagarmatha lançou várias campanhas e programas para limpar a montanha desde a década de 1990, quando o alpinismo comercial começou a ganhar força.

“O Governo nepalês tem estado a aplicar leis para acabar com o lixo no Evereste desde 2015”, disse Chhiri. “O nosso objectivo é introduzir grandes melhorias neste local classificado como Património Mundial, obrigando ao transporte de sacos de cocó e protegendo-o de futuros danos causados pela poluição causada por resíduos humanos e lixo não biodegradável.”

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Uma vista do vale de Khumbu Reuters

Ainda não se sabe como o uso de sacos será aplicado e se os alpinistas terão de pesar os seus excrementos quando descerem. Mazur, que trabalha com o Projecto de Biogás do monte Evereste, disse que, com mais pessoas a trazerem as suas fezes da escalada, mais esgotos se acumularão em Gorak Shep, uma área perto do acampamento base onde são despejados os resíduos das casas de banho das tendas. Isto também aumentaria a poluição dos cursos de água e do ambiente para a comunidade local.

“Já estamos a transportar os resíduos para este poço”, afirmou. O Projecto de Biogás do monte Evereste está a tentar desenvolver um sistema para decompor os resíduos que se desenvolveram na área em resultado da popularidade da montanha. Actualmente, grande parte das fezes não é tratada.

O problema do excesso de cocó é, na realidade, um problema de demasiadas pessoas. A aglomeração de gente tornou a montanha mais perigosa ao longo dos últimos 20 anos, à medida que a indústria do alpinismo comercial se foi apegando ao pico.

A economia do Nepal, um dos países mais pobres do mundo, depende em grande medida do alpinismo e do turismo. No entanto, quanto mais pessoas — e particularmente, quanto mais alpinistas ocidentais sem qualquer experiência — tentam chegar ao cume da montanha, mais perigoso se torna. Este facto foi ilustrado talvez mais claramente em 2019, quando um engarrafamento humano na montanha resultou em 11 mortos.

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Khumbu Pasanglhamu exige que os grupos paguem um depósito de lixo antes do cume Reuters

No final da época de escalada, em Maio passado, 17 pessoas foram dadas como mortas num dos piores anos de que há registo desde 2014, quando vários sherpas morreram numa avalanche.

Mesmo assim, o Governo local nepalês não indicou que irá limitar o número de licenças para este ano.

O custo de escalar o Evereste pode ir de dezenas de milhares a mais de cem mil euros — e as empresas de guias de baixo custo começaram a recrutar um grupo mais recente de alpinistas menos experientes, o que pode representar um risco mortal para os guias e outras pessoas que tentam escalar a montanha.

Outros locais populares de montanhismo, como o Denali, o ponto mais alto da América do Norte, implementaram requisitos semelhantes de sacos para fezes para limitar os resíduos, mas a questão da sobrelotação está a tornar-se cada vez mais comum.

“As coisas que aprendemos sobre como gerir a sobrelotação no Evereste, podemos estender a aprendizagem sobre como gerir a sobrelotação noutras montanhas”, disse Mazur.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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