A devoção ao tempo da Quinta do Tamariz

Quando bons, os vinhos Verdes crescem com o tempo e adquirem um perfil de classicismo que os torna irresistíveis.

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Quando bons, os vinhos Verdes crescem com o tempo e adquirem um perfil de classicismo que os torna irresistíveis José Sérgio
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Em 1986, a Quinta do Tamariz inovou ao introduzir um monocasta Loureiro no mercado. Em 2013, a propriedade da família Vinagre voltou a inovar ao reservar uma parte da sua produção para lançar no mercado com alguns anos de envelhecimento. Nos dois movimentos, ficaram expressas duas tendências de fundo da região dos Vinhos Verdes: a de aproveitar o potencial único de algumas castas para lá do Alvarinho; e a de tentar contradizer velhas ideias segundo as quais os vinhos Verdes estavam condenados a serem frescos e leves, afastados por isso de qualquer pretensão sobre a complexidade que por regra o envelhecimento confere aos vinhos clássicos.

A descoberta de Verdes com idade é, por isso, uma missão recente, embora há muito que produtores e enólogos soubessem do potencial dos vinhos do Noroeste para evoluírem com o tempo. Porque os brancos da região dispõem do elemento crítico para a evolução na garrafa: a acidez. Como diz Jorge Sousa Pinto, enólogo do Tamariz há mais de 20 anos, “brancos com 13,5% de volume alcoólico, um pH de 3 e acidez de 8 não há em mais lado nenhum”.

Três brancos com idade foram dados à prova no momento da apresentação do livro do historiador Barros Cardoso e todos passaram no teste, embora o mais antigo conte mais pela originalidade da experiência do que pelo seu valor intrínseco. O primeiro, um Tamariz Grande Escolha de 2015, exibia uma nota de verniz no aroma, combinado com fruta seca e uma sugestão mentolada. Na boca exibia um excelente volume, uma acidez deliciosa e garantia um grande final. O Loureiro de 2004 estava num estado superlativo. Aroma delicado, sedoso na boca, com uma acidez fina e sempre presente, com sabores de fruta seca e uma complexidade de prova notável.

Finalmente, um Vinha do Landeiro, de 1980, “abafado” na sua fase final de vinificação com sulfuroso para conservar a doçura natural. Um vinho ainda cheio de vida, mas com a presença de uma nota química a sugerir enxofre que deixava no final uma certa sensação de desequilíbrio, certamente consequência do seu processo de vinificação.

Como balanço, porém, Tamariz mostra que a sua aposta de 2013 tem futuro. Quando bons, os vinhos Verdes crescem com o tempo e adquirem um perfil de classicismo que os torna irresistíveis. A pretensão da região em afirmar-se como uma das mais extraordinárias da vitivinicultura do país começa a ganhar um novo trunfo.

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