Arquitectura
Há uma janela que separa os anos 1950 do presente, nesta casa no Porto
A Casa IMLA reabilitou a construção original a acrescentou um volume contemporâneo. No interior, há uma "escadaria escultórica" e portas que lembram os anos 1950.
O Bairro da Vilarinha, no Porto, foi o local escolhido para, em 1958, serem construídas várias habitações destinadas a funcionários públicos, durante o Estado Novo. Nessa altura, o tamanho da moradia era atribuído consoante a importância do cargo. A Casa IMLA é uma das maiores da rua, mas nada se sabe sobre quem lá viveu, explica ao P3 o arquitecto Francisco Mesquita Moura.
Em 2022, quando já não restava quase nada do que era original, foi comprada pelos actuais proprietários e restaurada pelo atelier Luppa Architects. A autarquia ditou que o traçado original teria de ser preservado, mas tudo o que fosse construído de raiz deveria ser contemporâneo e destacável de tudo o resto.
As pequenas dimensões da casa obrigaram a uma ampliação — e assim nasceu uma “nova volumetria desligada da original”. “A ideia foi criar uma divisão entre o passado e o presente. De um lado da rua vê-se a casa original e, do outro, uma parte nova e moderna adequada aos dias de hoje”, destaca o arquitecto.
A estreita janela vertical, que começa no tecto e termina no chão, foi um dos elementos usados para criar esse efeito. As caixilharias pretas ficam lado a lado com as brancas da casa antiga, assim como a relva e o novo pavimento permeável escolhido para o exterior a pensar nos dias de chuva.
No interior são visíveis o que o arquitecto apelida de “pontuais toques modernistas”, onde se inclui o contraste entre a madeira e a mármore, os interruptores redondos e as portas espelhadas ou de vidro canelado que recordam os anos 50.
A par disto, revela Francisco Mesquita Moura, “a única coisa mantida foi a escadaria que ficou no mesmo sítio”. “Ao trocar a porta de entrada, que passou da rua mais movimentada para a outra, a escada ficou de lado em vez de estar de frente e tornou-se um elemento escultórico”, adianta. A acompanhar tudo isto está o corrimão que se dobra consoante a trajectória.
A reabilitação da Casa IMLA ficou concluída em 2023. As fotografias de Ivo Tavares evidenciam uma moradia antiga que se reinventou e multiplicou para dar lugar a um espaço actual. Para o arquitecto, a relação entre estes dois volumes “foi o mais bem conseguido neste projecto.”