Concentração de polícias junto ao Capitólio não põe em causa legitimidade do protesto, dizem sindicatos

Elementos da GNR e da PSP seguiram da Praça do Comércio para o Capitólio, numa iniciativa para a qual não tinham autorização. PSP abre inquérito e vai comunicar factos ao Ministério Público.

Foto
Profissionais das Forças de segurança reuniram-se em protesto na Praça do Comércio e seguiram até ao Capitólio Nuno Ferreira Santos
Ouça este artigo
00:00
02:57

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O porta-voz da plataforma que junta os sindicatos da PSP e associações da GNR considerou que a concentração junto ao Capitólio, em Lisboa, na noite de segunda-feira, enquanto Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro debatiam, não põe em causa a legitimidade dos protestos e elogiou o comportamento dos polícias.

"Espelha alguma irregularidade do ponto de vista legal. Ainda assim, os polícias souberam comportar-se com maior elevação e respeito, sem ter, em momento algum, coagido e isso merece destacar", disse Bruno Pereira, em declarações à agência Lusa.

Na segunda-feira, após uma concentração que juntou na Praça do Comércio, em Lisboa, cerca de 3000 elementos da PSP e da GNR, muitos seguiram para o cineteatro Capitólio, onde decorreu o debate eleitoral entre os líderes do PS e do PSD, numa marcha espontânea que não foi autorizada.

Rejeitando que os protestos, que se prolongam há várias semanas, estejam a fugir ao controlo da plataforma, o porta-voz reconheceu que "não é propriamente fácil lidar com uma insatisfação tão grande" e que a deslocação ao cineteatro Capitólio foi sinal disso mesmo.

"O que se passou a seguir (à concentração na Praça do Comércio) foi puramente espontâneo e mostra que os policias estão bastante insatisfeitos, intranquilos e quiseram fazer-se ouvir de forma mais audível, simbolicamente, no sitio onde decorreu o debate entre os líderes do PS e do PSD", sublinhou.

Bruno Pereira insistiu que a marcha decorreu de forma tranquila e elogiou o comportamento "sereno, elevado e democrático" dos polícias. "Não estou a ver onde é que isso possa macular a legitimidade do protesto, mas mostra o sentimento dos polícias aos dias de hoje", acrescentou.

Questionado sobre se a contestação se manteria, a menos de um mês das eleições legislativas, Bruno Pereira admitiu que "provavelmente abrandará", para "dar espaço a que se faça a discussão e combate político".

Até agora, acrescenta, o objectivo foi influenciar e apelar ao debate. "Já sabemos que quem vai ter de resolver esta questão será um dos líderes, que irá formar o novo Governo. Ambos já assumiram que iriam dar a maior prioridade à resolução desta questão. Respeitamos os tempos da democracia, da constituição do novo Governo, até que possam renovar os votos do que prometeram", concluiu.

Na sequência do protesto, a Direcção Nacional da PSP confirmou à Lusa que vai comunicar ao Ministério Público a marcha e a concentração de polícias junto ao Capitólio por o protesto não estar autorizado.

Já esta terça-feira, a direcção nacional da PSP avançou que, "tendo em conta o eventual envolvimento de polícias da PSP nesta acção não comunicada", foi determinada a abertura de um processo de inquérito à Inspecção da Polícia de Segurança Pública pelo director nacional, "com o objectivo de apurar as circunstâncias" em que decorreu a concentração junto ao Capitólio e confirmar a eventual participação de polícias da PSP, "de forma a apurar eventual responsabilidade disciplinar". Os factos serão depois comunicados ao Ministério Público.

Os elementos da PSP e da GNR estão em protesto há mais de um mês para exigir um suplemento idêntico ao atribuído à Polícia Judiciária.