Imigrantes brasileiros apelam ao voto no BE para “travar a extrema-direita”

Os subscritores defendem que “é um direito e um dever” participarem nas eleições, recusando ser “espectadores passivos de quem quer determinar” as suas “condições de vida e trabalho”.

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Manifestação de apoio a Lula da Silva no 25 de Abril Matilde Fieschi
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Um grupo de 116 brasileiros a residir em Portugal, de "profissões e activismos variados", lançou um apelo ao voto no Bloco de Esquerda (BE) nas próximas eleições legislativas. Recusando ser "espectadores passivos" e lembrando o apoio da esquerda durante a presidência de Bolsonaro, os subscritores assumem que se vão mobilizar no 10 de Março "para travar a extrema-direita".

Entre as figuras que assinam o texto, algumas das quais são militantes e dirigentes do partido, estão os músicos Luca Argel e Fred Martins e Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa e candidata do BE pela capital, que impulsionaram a iniciativa.

De acordo com dados facultados ao PÚBLICO pela Administração Eleitoral através do Ministério da Administração Interna, estão inscritos no recenseamento eleitoral 478 cidadãos brasileiros detentores do estatuto de igualdade de direitos e deveres e de direitos políticos, que poderão votar nestas legislativas porque fizeram esse registo. Há também alguns milhares de cidadãos brasileiros com dupla nacionalidade portuguesa que poderão votar. Os cidadãos brasileiros que residem em Portugal, mas que não tenham nacionalidade portuguesa ou que não tenham feito o recenseamento eleitoral para as legislativas não podem votar a 10 de Março, apesar de poderem votar em eleições autárquicas por serem residentes.

No apelo, a que o PÚBLICO teve acesso, os subscritores lembram "o apoio dado por tantas e tantos na esquerda portuguesa nos tempos mais difíceis de Bolsonaro" e assumem que se vão mobilizar para votar no 10 de Março, numas eleições que consideram "ser decisivas para travar a extrema-direita e dar um rosto mobilizador à esperança".

Os apoiantes do BE defendem que "o mundo está um lugar perigoso" devido à ascensão da extrema-direita em diferentes latitudes do globo", que "acentua as desigualdades, o discurso de ódio e os ataques aos direitos sociais". E argumentam que essa "vaga antidemocrática" que se expressa "abertamente" só "será travada se a mobilização cívica se fizer ouvir e estiver presente nos momentos decisivos".

Dando o exemplo do Brasil, onde lembram que o "bolsonarismo" continua "vivo" (apesar de, nas últimas eleições, Jair Bolsonaro ter perdido para Lula da Silva), os subscritores avisam que, mais do que "proclamações", é preciso "acção" e "respostas concretas aos problemas sociais" para proteger a democracia.

Pedem, por isso, uma "esquerda internacionalista forte e dialogante, que se bata pelo direito à habitação e pelo salário digno", mas também pela saúde, a escola pública e o "combate à injustiça social e a todas as formas de machismo, racismo e xenofobia".

No texto "O Brasil também é aqui", os assinantes fazem ainda uma defesa dos direitos da comunidade brasileira em Portugal, assinalando que "é um direito e um dever" participarem nas eleições "a partir de uma cidadania vivida por inteiro" e recusando ser "espectadores passivos de quem quer determinar" as suas "condições de vida e trabalho".

Lembram que os imigrantes "dão um contributo indispensável, não só em termos económicos", nomeadamente, do "gigantesco saldo positivo para a Segurança Social", mas "também sociais e culturais", e declaram que "Portugal será tanto melhor quanto mais plural e solidário for".

"Nos 50 anos da Revolução dos Cravos, tomamos partido pela memória, pela luta e pelo futuro. E apelamos ao voto no Bloco de Esquerda", rematam.

O apelo, que surge numa altura em que o Chega tem intensificado o seu discurso anti-imigração, será publicado esta terça-feira e estará aberto à subscrição de qualquer pessoa brasileira que resida em Portugal. O Bloco organizará, depois, iniciativas em Lisboa, Porto e Coimbra, como um evento na associação Os Combatentes, a 1 de Março, na capital, que contará com concertos e a leitura do manifesto. Com Maria Lopes

Notícia actualizada com dados sobre os cidadãos brasileiros recenseados

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