Governo israelita rejeita, por unanimidade, Estado palestiniano
Netanyahu respondeu a plano do Presidente Joe Biden divulgado pelo Washington Post na semana passada, levando-o a votação do seu executivo que, sem surpresas, o rejeitou.
O Governo de Israel decidiu, neste domingo — o primeiro dia útil da semana no país — aprovar uma rejeição de um Estado palestiniano, porque seria um “prémio sem precedentes para o terrorismo”.
A votação do Governo ocorre depois de, na semana passada, ter sido divulgado pelo diário The Washington Post um plano do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, junto com vários países árabes, que incluiria uma calendarização para se chegar a um Estado palestiniano.
Fontes israelitas citadas sob anonimato confirmaram que Israel sabia dessa proposta, que mereceu rejeição imediata por parte de vários ministros. Não é surpreendente, já que o próprio primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse em Dezembro que se orgulhava de ter impedido a criação de um Estado palestiniano.
Este domingo, o Governo quis deixar um sinal claro, com o primeiro-ministro a levar uma declaração contra este plano à reunião semanal do Governo, que aprovou por unanimidade a rejeição de um Estado palestiniano proposto pela comunidade internacional e “imposto unilateralmente a Israel”.
Quaisquer decisões sobre o que ocorre no terreno deveriam ser tomadas apenas por negociações envolvendo Israel, declararam os ministros, num comunicado publicado na conta do primeiro-ministro na rede social X. “Israel rejeita totalmente o diktat internacional tendo em vista um acordo permanente com os palestinianos. Este deveria ser conseguido apenas por negociações directas entre as partes, sem condições prévias.”
Fazê-lo nesta altura, continua a declaração, seria "dar um prémio sem precedentes ao terrorismo".
As tentativas de negociar estão paradas desde 2014, quando o então secretário de Estado, John Kerry, fez uma derradeira tentativa do lado dos EUA. A Autoridade Palestiniana tem seguido uma via de uma série de acções para obter reconhecimento para o Estado da Palestina em instituições internacionais, incluindo na ONU, onde tem, desde 2012, um estatuto igual ao do Vaticano, de Estado observador independente. Israel e os EUA opuseram-se sempre a estas acções.
O ministro Gideon Saar disse, segundo o site Ynet, do diário de grande circulação Yediot Ahronot: “A afirmação de que um Estado palestiniano nos vai trazer segurança é o maior absurdo de todos.”
Na proposta de Biden, o acordo incluiria países da região, incluindo a Arábia Saudita e outros países árabes que normalizariam relações com Israel, sendo a contrapartida a criação do Estado palestiniano.
Ainda no sábado, na conferência de Segurança de Munique, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita, o príncipe Faisal bin Farhan, afirmou que a criação de um Estado palestiniano era “a única via” para segurança e estabilidade no Médio Oriente.
O país — que antes dos ataques de 7 de Outubro do Hamas estava a negociar esta normalização num processo apoiado pelos Estados Unidos — tem entretanto repetido que apenas irá abrir relações diplomáticas com Israel depois da criação de um Estado palestiniano.
O ministro da Energia de Israel, Eli Cohen, que até há pouco tempo ocupava a pasta dos Negócios Estrangeiros, rejeitou esta ideia: “Se o preço de alargar os acordos de paz [com a Arábia Saudita ou outros países árabes] é a criação de um Estado palestiniano, então desisto dos acordos de paz.”
Netanyahu está, entretanto, a ver uma subida de tom nos protestos contra si, com grandes manifestações pedindo o seu afastamento. O líder da poderosa central sindical Histadrut, Arnon Bar-David, fez um duro ataque ao Governo, acusando-o de ter falhado ao não conseguir prevenir o ataque de 7 de Outubro, e disse que Netanyahu se devia demitir e que deveria haver eleições até ao final do ano.
Notícia corrigida às 16h. Onde se lia negociações "entre partidos", alterou-se para o correcto negociações "entre as partes".