O Vizela teve uma ideia, o Benfica teve várias

Os vizelenses levaram à Luz uma ideia elogiável, mas aplicada de forma “cega”. E o Benfica fez disso uma plataforma para um jogo fácil. Schmidt venceu na “revolução” que aplicou.

Foto
Jogadores do Benfica celebram no Estádio da Luz Reuters/PEDRO NUNES
Ouça este artigo
00:00
04:20

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Neste domingo, no Estádio da Luz, houve “destruição” do Benfica ao Vizela, com 6-1 na I Liga, que fez lembrar uma discussão muito em voga, mas longe de ser nova.

No futebol moderno, quando uma equipa apresenta um modelo inegociável de defesa é criticada pela falta de ambição. Quando pressiona mais alto e tenta sair com construção curta e apoiada é elogiada pelo chamado “futebol positivo”. Mas nenhuma destas premissas tem de ser estanque.

É possível ser elogiado pelo futebol defensivo e criticado pelas ideias mais audazes – o que importa é a adequação ao jogo, quer no ponto de partida, quer na mudança em função dos acontecimentos.

Serve isto para dizer que o Vizela foi audaz na construção e na pressão alta. O problema é que pressionar alto de forma anárquica não é elogiável e sair curto como preceito inegociável e imutável também não. E foi por aí que a equipa “morreu” ainda antes de começar a segunda parte.

"Revolução" no Benfica

Para este jogo, o Vizela resistiu a levar uma linha de cinco defesas e nem sequer apostou num 4x3x3 bem fechadinho. A ideia seria forçar o Benfica a uma pressão alta que nunca lhe cai bem, num 4x4x2 que tinha, porém, Quina numa posição algo estranha em “terra de ninguém” – não ajudava Essende a pressionar em dois contra dois, mas também não recuava para fazer um trio no meio-campo. E isto já parecia ser um equívoco.

No Benfica houve “revolução” na equipa – sem Cabral, Di María, António Silva e Aursnes. Quando se faz uma revolução num “onze” há uma vantagem e uma desvantagem evidentes: a desvantagem é que a equipa perde rotinas, com tantos jogadores novos. A vantagem, sobretudo quando os que entram são pouco utilizados, é que existe quase sempre muita “fome de bola” por parte de jogadores que têm de conquistar mais minutos.

No balanço entre uma coisa e outra, Roger Schmidt saiu a ganhar – pelo menos, desta vez. O Benfica teve uma dinâmica tremenda sem bola, com jogadores intensos e enérgicos na reacção à perda e na predisposição para pressionarem bem alto.

Com Tengstedt, Gouveia e até Neres (este último estranhamente intenso sem bola), o Benfica conseguiu manter o Vizela permanentemente em processo defensivo.

A inegociável saída curta do Vizela tinha, assim, algum risco, sobretudo tendo os laterais projectados. Aos 16’, saiu mal um passe, depois saiu mal uma recepção e acabou por haver recuperação alta e finalização de Neres. E dez minutos depois um cruzamento de Neres após um canto deu cabeceamento de sucesso de Otamendi.

O Vizela preferiu morrer com as suas ideias do que viver com outras, mas a certo ponto chegou a ser confrangedora a forma como nem sequer experimentava bater longo em Essende, pelo menos para permitir aos defensores respirarem um pouco e ter uma via diferente de se chegar à frente.

Transições

O Vizela é das equipas que permite menos bolas longas, com defesa sempre baixa, mas também das que mais tempo passam no terço adversário e das que mais bolas recuperam nessa zona do terreno. Havia, portanto, a sugestão de que o Benfica poderia beneficiar de espaço entre linhas ao sair a jogar mais curto, atraindo a pressão do Vizela, em vez de estar em permanente processo ofensivo, com o Vizela em bloco baixo.

E assim foi. Depois de construir o 2-0, o Benfica começou a experimentar algumas saídas mais curtas, para atrair o Vizela e deixar espaço entre linhas de frente para os defensores.

Resultado: transições com espaço, nuns casos, e perdas do Vizela na zona média, noutros casos. Aos 30’ houve 3-0 numa transição finalizada por Gouveia, aos 45’ transição para o 4-0 de Neres e aos 45+3’ transição e 5-0 de Rafa.

No Vizela, houve erros individuais, equívocos colectivos, audácia desmedida (ou no mínimo desorganizada) e um plano unidimensional para a construção. No Benfica, houve energia sem bola, sagacidade para criar engodos nos quais o Vizela caiu e, claro, inspiração a finalizar.

A segunda parte tornou-se, assim, a representação perfeita de futebol para “cumprir calendário”. A partida foi crescendo em monotonia, mesmo com o golo do Vizela, por Essende, logo a abrir a segunda parte, depois de uma “oferta” de Trubin – golo que prova que nenhuma estratégia é só boa ou só má, já que foi a pressão alta que obrigou o guarda-redes a errar.

Marcos Leonardo ainda fechou o 6-1, com nova assistência de Neres.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários