Palcos da semana: Crimp, Club Makumba e outras correntes
Vêm aí Correntes d’Escritas pela liberdade, um espectáculo Terno e Cruel pela Assédio, convites para Sulitânia Beat, Jesca Hoop em estreia tripla e o Bailado de Lorraine em dose dupla.
Jóias em êxtase
Depois de ter passado pelo Rivoli (e pelo seu palco virtual), em Novembro de 2020, com uma homenagem a Merce Cunningham, o Centro Coreográfico Nacional - Bailado de Lorraine regressa à sala portuense com um espectáculo duplo.
Com Adam Linder, coreógrafo, performer e artista visual australiano, alinha na sua “pesquisa de formas híbridas de dança, tratando estas raras evoluções físicas como jóias preciosas”, refere a companhia francesa. Sob inspiração de Jewels, de George Balanchine, Acid Gems é uma “peça animada e caleidoscópica numa paisagem visual poderosa”, acrescentam.
Com Maud Le Pladec, o grupo envereda por Static Shot, caracterizado pela coreógrafa francesa como “um êxtase interminável”, em que 23 bailarinos formam “um bloco de corpos, imagens e sons, sem princípio, meio e fim”, que procura atingir e manter uma espécie de clímax contínuo, com a energia sempre nos píncaros.
Rumo à Sulitânia
Blues do deserto, afrobeat, sons mediterrâneos, jazz transfronteiriço, injecções de mojo rock. Não são ingredientes avulsos atirados para um caldeirão. Às mãos de Tó Trips, João Doce, Gonçalo Prazeres e Gonçalo Leonardo, o quarteto que responde por Club Makumba, fundem-se como se sempre tivessem sido cozinhados juntos.
A receita, que já tinha encantado plateias dentro e fora de portas quando, há dois anos, saiu o disco de estreia homónimo (e mais cedo se faria a festa, não fosse a pandemia a adiar o trajecto), reafirma-se em Sulitânia Beat, o recém-chegado segundo álbum.
E reforça o convite à “dança como acto de resistência”, num cenário que os próprios descrevem como ninguém: “corpos que dançam desenfreados em areias quentes, beats poeirentos e suados, acompanhados por pequenas jams e brisas electrónicas, dissimuladas em actos repetitivos de resistência, loops de liberdade”.
Assédio Terno e Cruel
Não é invulgar que dramaturgos contemporâneos peguem em clássicos para os reescreverem à luz do presente. Alguns destacam-se nessa empreitada. Martin Crimp tem sido um deles. Em 2004, sob o espectro da “guerra ao terror” do pós-11 de Setembro, pegou n’As Traquínias de Sófocles, escreveu Terno e Cruel e conferiu ao mito grego uma urgência actual, ao transportá-lo para um cenário moderno em que todos os meios são justificados pela determinação de pôr fim ao terrorismo.
A Assédio leva agora à cena esta peça que “transcende os seus moldes originários” e se torna “mais relevante do que nunca”, naquela que é já a sétima investida da companhia à obra do dramaturgo britânico. A encenação é de João Cardoso, que também integra o elenco, ao lado de Ângela Marques, Daniel Silva, Inês Afonso Cardoso, João Castro, Lé Baldé, Luísa Guerra, Pedro Galiza, Pedro Quiroga Cardoso e Sara Neves.
Correntes de liberdade
“Foge-nos o tempo já de decidir”. Estas palavras, extraídas de um poema de José Augusto Seabra, dão o mote à primeira das 11 mesas-redondas propostas pelo poveiro Correntes d’Escritas. Em todas elas (e mais uma, numa extensão a Lisboa), serão palavras de liberdade a dar o tom. É que é ela, a liberdade, a conduzir um programa que assinala os 50 anos do 25 de Abril. E que junta a esse número outra comemoração redonda: a 25.ª edição do grande evento literário.
A comitiva conta mais de 120 autores de 16 nacionalidades, 31 deles em estreia. Entre “autores, tradutores, ilustradores, editores, artistas visuais e pensadores”, enumera a organização, encontram-se nomes como Hélia Correia, Germano Almeida, Lídia Jorge, João Tordo, Afonso Cruz, Dany Wambire, Gonçalo M. Tavares, Amélia Muge, Maria do Rosário Pedreira, Sérgio Godinho, José Eduardo Agualusa ou Onésimo Teotónio Almeida.
Nas entrelinhas, há espaço para 40 lançamentos de livros, leituras, música, performances, exposições, oficinas, prémios, visitas a escolas e outras actividades.
Trio de Hoop
Jessica “Jesca” Hoop, a cantautora californiana que foi criada nos preceitos mórmones, que trocou essa fé pela crença na música, que se catapultou com uma mãozinha de Tom Waits e que se afirmou na cena indie-folk americana, tem seis discos de originais editados desde 2007 – ano em que se estreou com Kismet – e muitas colaborações e digressões no currículo.
Mas Portugal nunca a viu actuar. Essa ausência quebra-se agora, com um trio de concertos apoiados no último álbum, Order of Romance (2022), mais um de Hoop com produção de John Parish, cúmplice habitual de PJ Harvey.