MediaLab identificou quatro casos desinformativos em Janeiro mas pouco virais

Centro de investigação divulga primeiro relatório para monitorizar e fazer a despistagem de desinformação política na pré-campanha e campanha eleitoral para as eleições legislativas.

Foto
As redes sociais são as plataformas onde a desinformação prolifera EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH
Ouça este artigo
00:00
03:42

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Pelo menos quatro casos desinformativos relacionados com as legislativas foram identificados, em Janeiro, nas redes sociais, com uma publicação do Chega de um gráfico com uma interpretação errada e uma afirmação descontextualizada do Bloco de Esquerda.

A conclusão é da MediaLab do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), no primeiro relatório para monitorizar e fazer a despistagem de desinformação política na pré-campanha e campanha eleitoral para as eleições legislativas de Março, ao abrigo de um protocolo com a agência Lusa.

O objectivo é identificar os conteúdos de desinformação atribuídos aos partidos ou candidatos pelos fact-checkers nacionais credenciados pela International Fact-Checking Network (IFCN), Polígrafo, Observador Fact Check e PÚBLICO - Prova dos Factos, e avaliar o impacto nas redes sociais, medido em interacções e visualizações.

"O que concluímos é que não são assim tão virais como parecem à primeira vista", comparando com outras publicações, afirmou à Lusa José Moreno, investigador em Ciências da Comunicação - Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL), não se podendo excluir que casos mais complexos venham a acontecer até às legislativas de 10 de Março.

Um dos factores em análise, além das visualizações, é a interacção de um determinado conteúdo: se for muito partilhado, com muitas interacções tem mais alcance.

Neste caso, entre 7 de Janeiro e 7 de Fevereiro, o MediaLab identificou quatro casos alvo de "fact-checking" por parte do Polígrafo e do Observador, com muitos milhares de visualizações.

O caso mais recente foi da líder do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, que, numa publicação no X (ex-Twitter) acusa a direita de ser responsável pela privatização da EDP e Polígrafo alega que está descontextualizada.

A publicação Mariana Mortágua no X, em 1 de Fevereiro, sobre a privatização da EDP por parte do governo PSD, teve 75.500 visualizações e 650 interacções (gostos, comentários e partilhas) e um total 3.533 interacções no Instagram.

O Polígrafo conclui que esta informação está descontextualizada, dado que a privatização da EDP foi distribuída por várias fases e ficou a cargo de vários governos entre 1997 e 2013, sendo o último o de Pedro Passos Coelho (PSD/CDS).

O segundo caso é de uma publicação do Chega, da autoria do deputado e dirigente Pedro Frazão que, em 22 de Janeiro, publicou no X um gráfico que, alegadamente, comprovaria a substituição populacional em curso em Portugal, nove dias depois de o líder, André Ventura, ter afirmado que 30% da população em Braga seria imigrante, o que "fack-checkers" também verificaram ser falso.

A publicação de Pedro Frazão foi partilhada 75 vezes e usado por mais um utilizador para fazer uma publicação original com o mesmo tema. No total, a imagem teve pelo menos 996 interacções e foi visualizada 36.800 vezes, de acordo com o relatório.

O Polígrafo concluiu que esta imagem é enganosa e o teor da publicação é dado como falso. A sobreposição das pirâmides de população "diz respeito a dois universos distintos que não podem ser comparáveis da forma que Pedro Santos Frazão fez".

Neste período de um mês, o MediaLab identificou mais dois casos de desinformação, um utilizador que deturpou a imagem da Aliança Democrática, e teve 428 mil visualizações na rede X. Um outro utilizador fez uma publicação com uma fotografia manipulada de Pedro Passos Coelho com uma bandeira do Chega, que teve um total de 287 interacções, com cerca de 18 mil visualizações.

Os autores deste projecto (Gustavo Cardoso e José Moreno) alertam que não existe uma relação directa entre o número de interacções (ou "gostos") com as intenções de voto de um determinado partido ou candidato.