César Boaventura condenado a três anos e quatro meses por aliciamento favorável ao Benfica

Juiz diz que Boaventura aliciou jogadores do Rio Ave para perderem frente ao Benfica. Boaventura obrigado a pagar 30 mil euros a instituições de caridade para evitar cadeia.

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César Boaventura é acusado de aliciar jogadores em benefício do Benfica Paulo Pimenta
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César Boaventura foi condenado a três anos e quatro meses de prisão com regime de pena suspensa no caso do aliciamento favorável ao Benfica. A decisão foi conhecida esta quarta-feira no Tribunal de Matosinhos, com o empresário a não marcar presença na sala de audiência por motivos de saúde.

O tribunal deu como provado que César Boaventura tentou corromper três jogadores do Rio Ave na época 2015-16 em benefício do Benfica, atribuindo uma pena de um ano e oito meses por cada um dos três crimes de corrupção activa. A sentença foi aplicada em regime de pena suspensa, com o tribunal a obrigar César Boaventura a pagar 30 mil euros a instituições de caridade em três tranches de dez mil euros cada. Boaventura está ainda impedido de, durante dois anos, exercer as funções de agente e intervir em negócios no mundo do futebol. A defesa vai recorrer para o Tribunal da Relação desta decisão.

“Em Abril e Maio de 2015-16 jogaram-se as últimas jornadas do campeonato. O arguido agiu livre e conscientemente sabendo que prometia vantagens ilegítimas com o objectivo de falsear o jogo entre Rio Ave e Benfica, com vista a que o Benfica fosse primeiro classificado ao fim das 34 jornadas. O arguido sabia que as suas acções eram proibidas por lei”, reiterou o juiz.

O julgamento arrancou em Janeiro, com três antigos jogadores do Rio Ave a confirmarem propostas de aliciamento do empresário para facilitarem em jogo contra o Benfica. Cássio, Marcelo e Lionn dizem que as abordagens de César Boaventura aconteceram poucos dias antes do encontro entre Rio Ave e Benfica jogado em Abril de 2016. No caso do guarda-redes Cássio, o jogador diz que terá aceitado uma conversa presencial com o arguido, alegando que este lhe terá acenado com 60 mil euros para comprometer a exibição e facilitar uma vitória do Benfica.

Já Marcelo, que também confirmou uma proposta de Boaventura, disse em tribunal que encarou o pedido como uma "brincadeira", algo que contraria um depoimento do futebolista prestado a inspectores da Polícia Judiciária em 2018. Nesse momento, relatou que a proposta foi rejeitada taxativamente e encarada com seriedade.

Estas alterações, justifica o juiz, serviram até para consolidar a sinceridade dos testemunhos. “Até seria estranho que as testemunhas se lembrassem de todos os pormenores e horas específicas, dando indicação que teriam preparado os seus testemunhos”, adiantou.

Também Lionn confirmou em tribunal uma abordagem de Boaventura, alegando que a conversa aconteceu junto à Staples de Vila do Conde, junto à viatura do empresário. “Ele pediu para eu deixar o telemóvel no banco de passageiro do carro dele. Disse que a proposta era de 80 mil euros em notas de 500 para fazer um penálti e ser expulso durante o jogo”, afirmou o jogador no Tribunal de Matosinhos. Lionn diz que Boaventura acenou com uma transferência para Espanha, aumentando para 100 mil euros a oferta após a recusa inicial do jogador.

Apesar de confirmar a tentativa de aliciamento, voltaram a surgir contradições face ao depoimento prestado em 2018. Nomeadamente o facto de César Boaventura ter explicitado se o dinheiro era de Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica. Há seis anos, Lionn disse que sim. No dia da audição para este processo, não mencionou esse facto. Também a data exacta da comunicação da tentativa de aliciamento não é consensual, com versões contraditórias apontadas pelo jogador.

Neste ponto, o tribunal diz que não ficou provado que o dinheiro usado neste aliciamento de facto pertencia de facto ao ex-presidente das "águias", apesar da proximidade deste ao arguido. Boaventura e Luís Filipe Vieira falavam telefonicamente de assuntos pessoais e profissionais, sublinha o juiz, estabelecendo uma relação de amizade e cumplicidade entre os dois.

As contradições apresentadas pelos rioavistas era uma das linhas de defesa de César Boaventura. Também o horário dos encontros (que terão acontecido com poucos minutos de diferença) e a ausência de testemunhas são outros factores levantados por Carlos Melo Alves, advogado do empresário. O juiz responsável pelo caso negou à defesa de Boaventura a suspensão do processo, bem como a inquirição de testemunhas adicionais. Os testemunhos dos futebolistas ouvidos foram considerados credíveis e neles assentaram esta decisão.

"O arguido negou os factos, oscilou entre dizer que o caso está relacionado com apostas desportivas e acusar outros clubes de tentarem incriminar o Benfica usando a sua ligação com Luís Filipe Vieira. As declarações do arguido não tiveram a força do convencimento para afastar os depoimentos das testemunhas", concluiu o tribunal.

César Boaventura era acusado de tentar aliciar os jogadores do Rio Ave Marcelo, Cássio e Lionn, bem como o maritimista Salin, em jogos contra o Benfica na temporada 2015/2016, época em que as “águias” conquistaram o tricampeonato. O Ministério Público (MP) acusou César Boaventura de três crimes de corrupção activa e um crime de corrupção activa na forma tentada.

No caso do crime na forma tentada, César Boaventura foi absolvido, pelo facto de o juiz considerar que o alegado delito estaria ainda em fase preparatória.

O processo que resultou na condenação do empresário não envolve o clube da Luz, visto que as magistradas responsáveis pela acusação consideraram não ter ficado provado que César Boaventura “tenha sido incumbido de qualquer tarefa” pelos dirigentes do Benfica.

César Boaventura foi condenado por ter prometido a estes jogadores “contrapartidas patrimoniais ilegítimas” para praticarem actos contrários aos interesses das equipas que estes defendiam em benefício do Benfica.

Este é o segundo processo a atingir César Boaventura, sendo que o empresário é também arguido na Operação Malapata, acusado pelo Ministério Público de dez crimes.

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