PJ faz buscas em Alvalade e na Luz. César Boaventura entre os detidos por suspeitas de fraude e branqueamento

Mandados de detenção e buscas domiciliárias levados a cabo na Operação Malapata. Movimentos financeiros detectados rondam os 70 milhões de euros.

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Francisco Romao Pereira

A Polícia Judiciária (PJ) realizou nesta quarta-feira uma operação para cumprimento de mandados de detenção e de buscas domiciliárias pela presumível prática dos crimes de fraude fiscal, burla qualificada, falsificação informática e branqueamento. Na mira das autoridades estão três indivíduos, já detidos, entre os quais, um empresário do sector metalúrgico e um empresário ligado à actividade desportiva, que o PÚBLICO apurou tratar-se de César Boaventura. Todos estão “fortemente indiciados pelos referidos crimes”. A mesma força policial desenvolveu buscas no Sporting e Benfica.

De acordo com um comunicado enviado pela PJ, esta operação, realizada através da Directoria do Norte, com o apoio dos Departamentos de Investigação Criminal de Braga e Madeira e da Unidade de Perícia Tecnológica Informática, no âmbito de um inquérito titulado pelo Ministério Público — DIAP Porto, foi desenvolvida em equipa mista com a Autoridade Tributária e Aduaneira — Direcção de Finanças do Porto.

“Através do exercício de actividade comercial fictícia de sociedades geridas pelos suspeitos, assim como de correspondentes contas bancárias tituladas por terceiros, em território nacional e no estrangeiro, aqueles lograram criar um intrincado esquema de facturação/movimentação financeira que ofereciam tanto como veículo de branqueamento para terceiros, prestando assim esse serviço ilícito pelo qual seriam remunerados, como para ocultação dos proveitos gerados da própria actividade legítima dos próprios e de terceiros, nos sectores indicados”, detalha a PJ.

No total, foram realizadas 28 buscas domiciliárias e não domiciliárias, nos concelhos de Barcelos, Braga, Esposende, Trofa, Vila Nova de Famalicão, Funchal, Benavente e Lisboa, tendo sido até ao momento identificados movimentos financeiros, em diversas plataformas, num montante superior a 70 milhões de euros. “A vantagem patrimonial em sede fiscal, estimada, associada ao principal visado, atinge o montante de 1,5 milhões de euros, apenas com base em elementos já confirmados”, acrescenta.

No decurso da operação policial, foi apreendida também documentação diversa relativa à prática dos factos, várias viaturas automóveis e material informático.

Buscas nos estádios da Luz e de Alvalade

A operação em causa motivou também buscas no Estádio José Alvalade, em Lisboa, sendo que o Sporting esclarece que nem a SAD leonina nem o clube são alvo da investigação, “directa ou indirectamente”, acrescentando que “não têm qualquer relação com o investigado, nem são visados na matéria das buscas”.

Em comunicado, os “leões” mostram-se surpreendidos com as diligências: “A Sporting SAD rege-se por uma conduta exemplar e de estrito cumprimento da lei, prezando o seu bom nome e integridade. Como tal, não pode deixar de manifestar a sua enorme surpresa dada a assumida inexistência de relação da Sociedade e Clube nas buscas em causa.”

Também o Benfica foi alvo de buscas no âmbito deste processo, assegurando os “encarnados” que não são visados nesta operação. “O Sport Lisboa e Benfica não é arguido ou sequer visado neste processo, nem qualquer membro dos seus órgãos sociais”, esclarecem, igualmente em comunicado.

“O Sport Lisboa e Benfica confirma que está a colaborar com as autoridades nas diligências realizadas ao longo do dia de hoje no âmbito de um processo que se encontra em segredo de justiça”, concluem.

Quem é César Boaventura?

O nome do agente tornou-se conhecido depois de ser tornado público que dois jogadores do Rio Ave (Lionn e Cássio) acusavam César Boaventura de aliciamento. O agente teria, alegadamente, contactado os dois brasileiros com o objectivo de que estes facilitassem no jogo contra o Benfica. A partir desse momento, o agente ver-se-ia envolto em várias polémicas.

César Boaventura chegaria mesmo, em Novembro de 2020, a ser alvo de buscas no âmbito de uma operação que investigava crimes de participação económica em negócio ou recebimento indevido de vantagem, corrupção activa e passiva no fenómeno desportivo, fraude fiscal qualificada e branqueamento”.

O nome do agente esteve ainda ligado ao caso Cashball, com o próprio a dizer à Polícia Judiciária que teve influência no surgimento das denúncias que levaram à origem do processo. Há três arguidos nesta investigação, que envolve um alegado esquema de manipulação de resultados. O ex-director geral do Sporting, André Geraldes, é um dos arguidos. O Sporting foi ilibado deste processo, com o Ministério Público a não ter considerado que a alegada manipulação estivesse mandatada pelos responsáveis “leoninos. Também André Geraldes não foi acusado neste caso.

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