Nas entrelinhas da política, há cinema para descobrir no 74.º Festival de Berlim

A selecção do 74.º Festival de Berlim apela à curiosidade e à descoberta: um legado do director artístico cessante, Carlo Chatrian. Mas também haverá reencontros com habitués.

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Cillian Murphy protagoniza o filme de abertura, Small Things Like These dr
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Black Tea leva o mauritano Abdehrramane Sissako de volta a Berlim, dez anos depois de Timbuktu DR
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Hors du Temps, o "filme da pandemia" de Olivier Assayas,Hors du Temps, o "filme da pandemia" de Olivier Assayas DR,DR
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La Cocina, do mexicano Alonso Ruizpalacios dr
74º Festival Internacional de Cinema de Berlim
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Pepe é a estreia em Berlim do dominicano Nelson Carlos de los Santos Arias dr
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Não obstante todas as circunstâncias políticas que rodeiam a 74.ª edição do Festival de Berlim, o que realmente importa… são os filmes — ou, pelo menos, são o que deveria importar. Prisioneira, como qualquer festival de cinema, das expectativas dos observadores e da “colheita” anual de estreias, a Berlinale de 2024 abre-se a uma ideia de descoberta e amplificação de talentos que remete para o trabalho anterior do director artístico cessante, Carlo Chatrian, e da sua equipa de programadores no Festival de Locarno.

Aliás, o programa deste ano pode ler-se como uma espécie de “Locarno turbo”, trazendo para um patamar superior de visibilidade cineastas revelados ou notados naquele festival suíço: no concurso principal, o dominicano Nelson Carlos de los Santos Arias, com Pepe; na paralela Encounters, a brasileira Juliana Rojas, com Cidade; Campo, as alemãs Eva Trobisch (Ivo) e Nele Wohlatz (Dormir de Olhos Abertos), o argentino Matías Piñeiro, com Tú me Abrasas, o senegalês Mamadou Dia, com Demba, ou o americano Travis Wilkerson, com Through the Graves the Wind Is Blowing.

Mas a selecção também retoma uma série de habitués de Berlim. São os casos, na competição principal, do mexicano Alonso Ruizpalacios (premiado em 2021 com Una Película de Policias, mostra este ano La Cocina), do francês Bruno Dumont (L’Empire), ou do coreano Hong Sangsoo (A Traveler’s Needs, de novo com Isabelle Huppert, depois de ter sido duplamente premiado com A Mulher que Fugiu e A Romancista e o Seu Filme). Acompanham-nos o francês Olivier Assayas, que estreia em Berlim o seu “filme da pandemia”, Hors du Temps; o mauritano Abdehrramane Sissako, que dez anos depois de Timbuktu regressa com Black Tea; e o documentarista russo Viktor Kossakovsky, com Architekton.

O primeiro embate com esta escolha — que numa primeira abordagem parece insuficientemente “activista” para a reputação do Festival de Berlim — é de curiosidade e surpresa, sensações que se amplificam perante o filme eleito para a sessão oficial de abertura. Small Things Like These é uma adaptação, pelo dramaturgo irlandês Enda Walsh (co-autor de Fome, com Steve McQueen), do romance homónimo de Claire Keegan, autora que já dera origem ao bem interessante The Quiet Girl A Menina Silenciosa. Conta no papel principal com Cillian Murphy, nomeado aos Óscares por Oppenheimer e também produtor do filme, dirigido pelo belga Tim Mielants (Um Amor na Escócia), com quem o actor trabalhou na terceira temporada da série Peaky Blinders.

A isto soma-se o Urso de Ouro honorário entregue a Martin Scorsese, que estará presente no festival. Acompanhará não só a versão restaurada do seu Nova Iorque Fora de Horas (1985), mas também o documentário do britânico David Hinton Made in England: The Films of Powell and Pressburger, onde o autor de Assassinos da Lua das Flores fala da sua admiração pela dupla de cineastas responsável por clássicos como Os Sapatos Vermelhos (1948), Um Caso de Vida ou de Morte (1946) ou Quando os Sinos Dobram (1947).

A Câmara de Ouro, o outro grande prémio honorário do festival, será este ano atribuído ao veterano alemão Edgar Reitz, nome forte do Novo Cinema Alemão, autor do lendário Heimat; Uma Crónica da Alemanha (1984).

Um ano depois do Grande Prémio do Júri a Mal Viver, de João Canijo, a representação portuguesa resume-se à longa-metragem Mãos no Fogo, de Margarida Gil (Ar de Filmes), na competição paralela Encounters. A secção Forum, não-competitiva, receberá duas co-produções com países africanos, As Noites Ainda Cheiram à Pólvora, do moçambicano Inadelso Cossa (DuplaCena), e Resonance Spiral, da portuguesa Filipa César e do guineense Marinho de Pina (Stenar Projects). Portugal está indirectamente presente no concurso principal, pois a Rosa Filmes é co-produtora minoritária de L’Empire, de Bruno Dumont.

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Mãos no Fogo, de Margarida Gil, é o único filme português a concurso neste 74.º Festival de Berlim DR

Presidido pela actriz afro-americana Lupita Nyong’o, o júri da competição principal conta com os cineastas Ann Hui, Albert Serra e Christian Petzold, os actores Jasmine Trinca e Brady Corbet e a escritora ucraniana Oksana Zabuzhko. O júri da Encounters é formado por três realizadores: Tizza Covi, Denis Côté e Lisandro Alonso. Os palmarés serão conhecidos no dia 24, uma vez mostrados os 20 títulos do concurso oficial e os 15 do concurso secundário.

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