Tricia Tuttle será a próxima directora da Berlinale
Ministra da Cultura alemã anunciou o nome da nova responsável do festival de cinema, substituindo os actuais directores, Mariette Rissenbaek e Carlo Chatrian.
Uma incógnita: é o que se pode para já reter do anúncio de que a programadora norte-americana Tricia Tuttle será, a partir do próximo dia 1 de Abril, a nova directora do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Tuttle, que dirigiu o Festival de Cinema de Londres entre 2018 e 2022 (período em que este registou um aumento de 75% no número de espectadores), é actualmente responsável do departamento de Realização de Ficção na National Film and Television School britânica e traz consigo um quarto de século de experiência nos bastidores da programação e da organização de festivais no Reino Unido, onde está radicada há longos anos.
A primeira edição da Berlinale sob a nova directora, em 2025, marcará o 75.º aniversário do festival inaugurado em 1951. A Tricia Tuttle caberá seguir as pegadas de Mariette Rissenbaek e Carlo Chatrian, que lideram a quatro mãos os destinos da Berlinale desde 2020 e o farão pela última vez entre 15 e 25 de Fevereiro próximo, com a actriz americana Lupita Nyong'o (vencedora do Óscar por 12 Anos Escravo) como presidente do júri. Rissenbaek e Chatrian procuraram desenhar um novo percurso e dar uma nova relevância artística ao festival — um projecto embotado pela pandemia de covid-19, que afectou sobremaneira as edições de 2021 e 2022, mas que mesmo assim contribuiu para reavivar o evento.
Os contratos dos dois directores chegavam ao seu termo com a edição 2024 e Rissenbaek deixara já claro que não tencionava prosseguir no cargo; já Chatrian teria recebido garantias de Claudia Roth, ministra alemã da Cultura, de que continuaria como director artístico. Isto antes de uma reviravolta da entidade estatal que financia e supervisiona o festival, a Kulturveranstaltungen des Bundes in Berlin (KBB), propor uma nova fórmula que o programador italiano disse não lhe permitir manter-se no cargo.
O anúncio da demissão de Chatrian gerou um abaixo-assinado que reuniu mais de 300 assinaturas de cineastas internacionais de renome, e também sérias críticas do meio cultural alemão, receoso de que a nova proposta da KBB para o festival subordinasse a programação artística aos interesses económicos ou ao ar dos tempos. Um dos receios implícitos era o do regresso aos tempos de Dieter Kosslick, director da Berlinale entre 2001 e 2019, período em que o festival procurou, ineficazmente, um meio-termo entre o cinema de prestígio para o grande público e o cinema de autor: um percurso cada vez mais difícil de sustentar, devido ao progressivo desinteresse dos grandes estúdios americanos pelos festivais europeus enquanto rampa de lançamento preferencial para os seus filmes, e que a produção europeia não consegue alimentar.
A escolha de Tricia Tuttle não vem, pelo menos para já, acalmar essas preocupações. A programadora americana trabalhou dez anos no British Film Institute (o Instituto do Cinema britânico), e o Festival de Londres está longe de ter o impacto internacional de festivais “secundários” como Roterdão ou Locarno, seguindo uma lógica mais próxima dos de Toronto ou Sundance, mais virados para as antestreias de prestígio.
No comunicado de imprensa oficial, a ministra Claudia Roth diz que Tuttle “é a escolha certa para conduzir a Berlinale com sucesso para o futuro”. Uma pergunta para a qual só em 2025 se terá uma resposta.