Rússia põe primeira-ministra da Estónia na lista negra por “destruir monumentos aos soldados soviéticos”

Primeira-ministra da Estónia, ministro da Lituânia e ex-deputados da Letónia estão na lista de procurados da Rússia. Em causa está o desmantelamento de monumentos aos soldados soviéticos.

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Kaja Kallas disse que o anúncio russo não demoveria o seu apoio à Ucrânia EPA/Olivier Matthys
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As autoridades russas colocaram a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, assim como o ministro da Cultura da Lituânia e membros do anterior parlamento da Letónia na lista de procurados, de acordo com a base de dados do Ministério do Interior russo.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que Kallas era procurada por "profanação da memória histórica". Segundo a agência estatal russa TASS, os governantes bálticos foram acusados de "destruir monumentos aos soldados soviéticos", actos que são puníveis com uma pena de prisão de cinco anos ao abrigo do código penal russo.

Kallas reagiu com uma publicação no X: "O Kremlin espera que esta medida ajude a silenciar-me a mim e a outros, mas não o fará". "Continuarei a apoiar firmemente a Ucrânia. Continuarei a defender o reforço da defesa da Europa", disse Kallas, acrescentando que a acção da Rússia não foi uma surpresa.

Na sequência da invasão russa da Ucrânia, há quase dois anos, as nações bálticas da Estónia, Letónia e Lituânia demoliram a maior parte dos seus monumentos da era soviética, incluindo os que comemoram os soldados soviéticos mortos na II Guerra Mundial.

Em resposta, o chefe do Comité de Investigação russo, Alexander Bastrykin, ordenou uma investigação criminal sobre o assunto. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, afirmou: "Isto é apenas o início". "Os crimes contra a memória dos libertadores do mundo do nazismo e do fascismo devem ser julgados", afirmou.

Os políticos bálticos só correm o risco de serem detidos se atravessarem a fronteira russa, caso contrário é pouco provável que a declaração de "procurados" tenha qualquer consequência prática.

De acordo com a base de dados do ministério, para além de Kallas, foram incluídos na lista o secretário de Estado da Estónia, Taimar Peterkop, o ministro da Cultura da Lituânia, Simonas Kairys, e cerca de 60 dos 100 membros do anterior Parlamento letão, que terminou o seu mandato em Novembro de 2022. Kairys disse à Reuters que a ordem de prisão significa que agiu "de forma activa e com princípios".

O destino dos monumentos soviéticos nos Estados Bálticos

Os Estados bálticos foram anexados pela União Soviética em 1940 e depois ocupados pela Alemanha nazi antes de regressarem ao domínio de Moscovo como parte do bloco comunista soviético até recuperarem a independência com o colapso da União Soviética em 1991.

Os três países são membros da União Europeia e da NATO e as suas relações com Moscovo pioraram muito desde o início da guerra. Várias dezenas de outros políticos bálticos foram também acrescentados à lista russa de procurados, incluindo presidentes de câmara, deputados municipais e a antiga ministra do Interior da Letónia, Marija Golubeva. A base de dados do Ministério do Interior não especifica qual o artigo do código penal que se aplica às pessoas incluídas na lista.

Em 2022, Kallas afirmou que as autoridades estónias iriam desmantelar 200 a 400 monumentos deste tipo. Em Agosto, foi removido um tanque soviético que celebrava a cidade de Narva, de língua russa.

Na Letónia, uma estrutura de 84 metros, construída para comemorar a vitória soviética na II Guerra Mundial, foi esmagada com um bulldozer. Dezenas de milhares de falantes de russo na Letónia costumavam reunir-se todos os dias 9 de Maio à volta do monumento, mas as suas reuniões foram proibidas após a invasão russa.

A Lituânia removeu dezenas de monumentos em memória das tropas soviéticas em 2022, incluindo um grande grupo de esculturas num cemitério de Vilnius.

Rússia prepara-se para confronto militar com o Ocidente, diz Estónia

A decisão russa de colocar líderes dos países bálticos numa lista negra surge numa altura em que o Serviço de Informações Externas da Estónia alertou que a Rússia está a preparar-se para um confronto militar com o Ocidente na próxima década — mas poderá ser dissuadida por um contra-reforço das forças armadas.

Um número crescente de responsáveis ocidentais tem alertado para uma ameaça militar da Rússia aos países situados ao longo do flanco oriental da NATO, apelando a que a Europa se prepare através do rearmamento.

O chefe dos serviços de informação disse que a avaliação se baseia nos planos russos de duplicar o número de forças estacionadas ao longo da sua fronteira com os membros da NATO, a Finlândia e os Estados Bálticos da Estónia, Lituânia e Letónia.

"A Rússia escolheu um caminho de confrontação a longo prazo (...) e o Kremlin está provavelmente a antecipar um possível conflito com a NATO na próxima década", disse Kaupo Rosin aos jornalistas durante a divulgação do relatório sobre as ameaças à segurança nacional da Estónia.

Um ataque militar por parte da Rússia é "altamente improvável" a curto prazo, disse, em parte porque a Rússia tem de manter as tropas na Ucrânia, e continuaria a ser improvável se a acumulação de forças russas fosse igualada na Europa.