Parede de caça pode ser “megaestrutura mais antiga feita por humanos na Europa”

Tem uma extensão de quase um quilómetro e é composta por 1673 pedras, das quais cerca de 300 ultrapassam, em alguns casos largamente, os 100 quilogramas.

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Foi descoberta na Alemanha, nas profundezas do mar Báltico, uma parede da Idade da Pedra que pode ser “a megaestrutura construída pela mão humana mais antiga da Europa”, conforme escrevem os investigadores responsáveis pela descoberta num artigo sobre a mesma publicado esta segunda-feira na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. Encontra-se coberta por 21 metros de água e foi encontrada por acaso, em 2021, enquanto uma equipa de cientistas, no âmbito de uma ida ao terreno com estudantes, manuseava um sonar a partir de um navio oceanográfico.

A parede, à qual foi dado o nome Blinkerwall, tem uma extensão de quase um quilómetro, estando situada na Baía de Meclemburgo, no fundo do mar. “A estrutura é composta por 1673 pedras, a maioria delas com menos de um metro de altura, colocadas lado a lado ao longo de uma distância de 971 metros”, referem os autores do artigo científico.

Este posicionamento preciso, apontam, “contraria uma origem natural” da estrutura, no âmbito da qual aquelas pedras teriam sido transportadas pela acção de um tsunami ou pelo lento movimento dos glaciares — mas reunidas de uma forma muito menos calculada, mais aleatória.

A maior parte das rochas “claramente pesam menos de 100 quilogramas”, mas foram também identificadas quase 300 pedras (288) muito mais pesadas — “demasiado pesadas para terem sido manuseadas por grupos de humanos”, como refere o The Guardian. Este jornal inglês escreve que as 1400 pedras mais pequenas “parecem ter sido posicionadas para conectar as quase 300 pedras maiores”.

Os autores do estudo referem que, com base nas informações disponíveis, a “interpretação funcional mais plausível” da existência desta megaestrutura e do seu propósito é a de que ela foi construída como uma estrutura para ajudar caçadores de renas. “Quando se persegue os animais, eles seguem estas estruturas, não tentam saltar por cima delas”, explicou, citado pelo The Guardian, o autor principal do estudo, Jacob Geersen, do Instituto Leibniz para a Investigação no Mar Báltico.

“A parede provavelmente foi utilizada para guiar as renas para um ‘gargalo’ [estreitamento da passagem, estrangulamento do caminho] entre a margem do lago adjacente e a parede, ou até para dentro do lago, onde os caçadores poderiam matá-las mais facilmente”, disse, em explicações veiculadas pela Independent Television News, Marcel Bradtmöller, co-autor do estudo científico e investigador na Universidade de Rostock, na Alemanha. “Embora as renas geralmente gostem de nadar, a água teria desacelerado os animais, permitindo uma caça eficaz por barco”, pode ler-se no estudo.

Jacob Geersen mencionou ainda a possível ideia de criar esse estreitamento da passagem “com um segundo muro”, que hoje poderá ou não estar enterrado debaixo dos sedimentos no fundo do mar Báltico, assinala-se no estudo.

Sendo improvável que a parede tenha resultado quer de processos naturais, quer de “actividades modernas”, “a Blinkerwall foi provavelmente construída nos tempos pré-históricos”, “há mais de dez mil anos”, “no final do Pleistoceno ou início do Holoceno”, escrevem os investigadores, dizendo que isto a coloca a parede entre os “exemplos conhecidos mais antigos no mundo” daquilo que descrevem como “arquitectura de caça”. “Potencialmente, torna-a também a megaestrutura mais antiga feita por humanos na Europa”, acrescentam, todavia lembrando que proceder à “datação exacta de tais estruturas é geralmente desafiador, pois muitas vezes faltam-lhes artefactos”.

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