One Love, a “história oficial” de Bob Marley

Há actores, há uma ideia de argumento, há sobretudo a música do ícone do reggae. O que não há é capacidade para dar a volta às convenções mais banais do filme biográfico.

Kingsley Ben-Adir as “Bob Marley” in Bob Marley: One Love from Paramount Pictures.
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Bob Marley: One Love estreia-se nas salas de cinema portuguesas Chiabella James
Kinglsey Ben-Adir as “Bob Marley” in Bob Marley: One Love from Paramount Pictures.
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Bob Marley: One Love estreia-se nas salas de cinema portuguesas Chiabella James
Kingsley Ben-Adir as “Bob Marley” in Bob Marley: One Love from Paramount Pictures.
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Bob Marley: One Love estreia-se nas salas de cinema portuguesas Chiabella James
Producer Ziggy Marley and Director Reinaldo Marcus Green in Bob Marley: One Love from Paramount Pictures.
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Kingsley Ben-Adir as “Bob Marley” and Lashana Lynch as “Rita Marley” in Bob Marley: One Love from Paramount Pictures.
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Lashana Lynch as “Rita Marley” and Kingsley Ben-Adir as “Bob Marley” in Bob Marley: One Love from Paramount Pictures.
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Kingsley Ben-Adir as “Bob Marley” in Bob Marley: One Love from Paramount Pictures.
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Não é coisa má sair do cinema a trautear a música de Bob Marley (Three little birds, No woman no cry, Jammin’, I shot the sheriff, One love, Exodus, Stir it up — é à escolha do freguês, ouvem-se todas no filme). Por outro lado, não era preciso ir ao cinema para andar a trautear a música de Marley, e esta fita biográfica assinada pelo americano Reinaldo Marcus Green (King Richard, Para Além do Jogo) não consegue impor-se por si própria — e até podia.

E podia porque tem, primeiro, um par de actores que se entregam a fundo e, segundo, uma ideia narrativa de mérito. Kingsley Ben-Adir é mais convencionalmente bem-parecido do que Bob Marley era, mas rapidamente faz esquecer isso com uma encarnação física bastante certeira da estrela do reggae. E, sobretudo, Lashana Lynch confirma tudo o que de muito bom já pensávamos dela com a sua Rita Marley misto de musa, paixão e apoio, “roubando” o filme a Ben-Adir sem sequer pedir desculpa.

Há, depois, a ideia de concentrar o filme entre o atentado à vida do cantor na sua Jamaica natal e o seu regresso para o concerto de 1978 que marcou o final das “hostilidades” políticas entre governo e oposição; passando pela gravação do álbum Exodus e pela digressão europeia que o tornou numa superestrela, mas também pelo diagnóstico do cancro que acabaria por o matar em 1981. Usar, em suma, um período conturbado de êxito, ascensão e dúvida, com Marley apanhado no turbilhão entre a música e a política, para captar a essência do homem e tentar explicar porque é que, mais de 40 anos após a sua morte, continua a ser icónico.

Infelizmente, One Love parece ter tido medo de se esticar — a família é produtora do filme, percebe-se de longe a rédea curta a Reinaldo Marcus Green.

Mas o realizador americano também não prova ter engenho para mais: mete o piloto automático da ilustração anónima cruzado com a falsa grandiosidade dos sonhos e flashbacks que são supostos explicar tudo (mas afinal não explicam nada), como se isso bastasse para construir um filme que ultrapassasse o meio gás das convenções.

Digamos que, com dois actores em grande forma e a ideia de encenar a dúvida de Marley entre o músico e o porta-voz, teria sido preciso um realizador com outra garra, outra tarimba e outra invenção para fazer justiça a Bob Marley. Porque ir ver One Love para trazer só a música, francamente, não chega. Mesmo que a música seja do caraças.

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