O Sr. Glover e a Sra. Erskine são um casal de assassinos

Mr. & Mrs. Smith, o filme de Doug Liman de 2005 com Angelina Jolie e Brad Pitt, ganhou uma adaptação televisiva com Donald Glover e Maya Erskine no Prime Video da Amazon.

Foto
Maya Erskine e Donald Glover são assassinos em Mr. and Mrs. Smith DR
Ouça este artigo
00:00
03:51

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Em 1941, Alfred Hitchcock realizou uma comédia screwball com Carole Lombard sobre um casal em dificuldades que, depois de três anos, descobre que a união entre os dois não era válida. Chamou-se Mr. & Mrs. Smith. Em 2005, o nome foi usado para uma comédia de acção de Doug Liman que juntou (na ficção e depois na vida real, algo que terá feito correr muito mais tinta do que o próprio filme) Angelina Jolie e Brad Pitt. Era sobre um casal que, após cinco ou seis anos juntos, passa por dificuldades, dificuldades essas agravadas pelo facto de serem um casal de assassinos, mesmo que não soubessem a verdade um sobre o outro. Esse filme de 2005 ganhou agora uma nova versão, mantendo a ideia dos assassinos e do casal, mesmo sem as dificuldades de estarem há uns anos juntos.

Mr. & Mrs. Smith, a série, tem oito episódios e chegou ao Prime Video da Amazon no início do mês, tornando-se logo uma das cinco maiores estreias de sempre no serviço de streaming. É encabeçada por Donald Glover e Maya Erskine. Glover, claro, é o argumentista e cómico tornado actor que ganhou fama com Community e com a sua própria série, Atlanta, finada em 2022, bem como com a carreira paralela como rapper sob o nome Childish Gambino. Erskine apareceu em séries como Man Seeking Woman e, ao lado de Anna Konkle, criou e protagonizou, entre 2019 e 2021, PEN15, em que as duas, na casa dos 30, faziam de versões delas em adolescentes no liceu. Mr. & Mrs. Smith é criada por Glover e Francesa Sloane, que tinha escrito para ele em Atlanta e também tinha trabalhado na quarta temporada da série de antologia de Fargo. Hiro Murai, realizador de Atlanta que tem também feito séries como Barry e Station Eleven, além de ser produtor executivo de The Bear, também surge por aqui.

Glover nunca tinha visto o filme de Doug Liman quando foi contactado para esta adaptação. Não ficou propriamente grande fã. O irmão, Stephen, que escreve nas suas séries, resumiu-o como um “bom filme para um encontro romântico”, em que toda a gente se consegue rever em Brad Pitt e Angelina Jolie e depois “volta para casa de mãos dadas” a pensar que não faz uma má equipa com o respectivo parceiro. Com Sloane, magicou uma história em que o casal é juntado à força e se vai conhecendo entre missões dadas por patrões. Estes Smith são millennials que não conseguiram trabalho em mais lado nenhum e são postos numa casa, obrigados a cortar relações com toda a família e pessoas que conheciam antes, e vão recebendo instruções das chefias. São os dois competentes, mas não sabem sequer para quem trabalham, o que é que os seus alvos fizeram nem o que vai acontecer em cada missão.

Originalmente, a protagonista era para ter sido Phoebe Waller-Bridge, a criadora e protagonista de Fleabag que navegou campos parecidos com este, da comédia de acção com assassinos, espiões e emoções, na primeira época de Killing Eve. Tinha sido anunciada em 2021, e uns meses depois abandonou o projecto. À The Hollywood Reporter, Glover falou dessa saída como uma espécie de “divórcio”. São ambos criadores, ou, como diz, “capitães”. “É uma ideia tão grande, esta série, não sei se pode ter dois capitães”, comentou, adicionando que Waller-Bridge reescreveu o guião do episódio-piloto, ele achou que não era o estilo certo para ele, “mas se ela o tivesse feito”, veria e teria pensado: “Esta série é óptima.”

Nunca se saberá como seria essa tal versão com e por Waller-Bridge, mesmo que diálogos dela, segundo essa mesma entrevista com Glover e Erskine, tenham acabado por surgir na relação final. Mas o que acabou por ser é uma série cheia de charme, muito por culpa da química entre os protagonistas, bem como da ajuda de actores convidados como John Turturro, Paul Dano, Sharon Horgan, Ron Perlman, Wagner Moura, Parker Posey ou Michaela Coel, entre outros. Tem muito menos surrealismo do que em Atlanta, muita piada e bastante acção, reflexão e sedução entre os tiros e os mortos. Chega e mais do que sobra.

Sugerir correcção
Comentar