Agricultores polacos bloqueiam fronteira com a Ucrânia
Protesto contra a política europeia e a passividade do Governo face à entrada de produtos ucranianos a baixo preço, que está “a destruir a agricultura polaca”. Mais de 1300 camiões estão bloqueados.
Os agricultores polacos estão irritados com “a passividade” do seu Governo, com o comissário europeu da Agricultura e com a falta de controlo na entrada dos produtos agrícolas ucranianos a baixo preço que, dizem, estão “a destruir a agricultura polaca”. Na sexta-feira iniciaram uma greve geral de um mês contra a política agrícola europeia e este sábado já tinham bloqueado 1300 camiões em três postos fronteiriços com a Ucrânia, de acordo com o jornal Kyiv Post.
“Neste último dia, vimos um aumento das filas no território da Polónia para os veículos de carga que esperam uma oportunidade para passar a fronteira para a Ucrânia”, explicou na televisão Andry Demchenko, porta-voz dos Serviços de Fronteiras. O mesmo referiu que o acesso ao posto fronteiriço de Medyka foi bloqueado por cerca de 100 agricultores e 50 carros.
Os meios de comunicação social polacos referiram a existência de mais de 250 bloqueios em todo o país. As imagens mostravam comboios de tractores a obstruir as estradas e cartazes com os dizeres "Sem nós, passarás fome, estarás nu e sóbrio".
Na sexta-feira, o vice-primeiro-ministro polaco, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, pediu a demissão do comissário europeu da Agricultura, o também polaco Janusz Wojciechowski. "Há um homem na Europa que uniu todos os agricultores europeus e polacos contra a reforma que propôs. Este é Janusz Wojciechowski. Demita-se!"
Membro do partido Lei e Justiça, que o escolheu para o cargo e está actualmente na oposição, Wojciechowski também é criticado pelo líder do seu partido, Jaroslaw Kaczyinski, que disse que iria telefonar-lhe para lhe pedir que se demitisse. Mas o comissário referiu à Polsat News que não tinha atendido o telefone e que faria uma declaração sobre o seu futuro dentro de alguns dias, de acordo com a Reuters.
Wojciechowski defende a sua actuação como comissário, afirmando que foi o único no colégio de comissários que votou contra as importações da Ucrânia.
Os agricultores polacos juntam-se a protestos que se estendem a vários países da Europa, de Portugal à Alemanha, passando por França, Bélgica, Grécia, Espanha e Alemanha, que reclamam contra o aumento dos custos de produção, a concorrência desleal dos produtos de fora da UE e contra as medidas implementadas para lidar com as alterações climáticas.
"Hoje toda a Europa está a arder. Chegou o Acordo Verde, que destruiu o nosso pensamento sobre a agricultura", disse um dos manifestantes, Wieslaw Gryn, à emissora privada TVN24, no posto fronteiriço de Hrubieszow. "Não somos contra as soluções pró-ecológicas, mas estas devem ser acordadas com os agricultores".
O ministro da Agricultura polaco, Czeslaw Siekierski, disse compreender os desafios que os agricultores enfrentam, mas espera que os protestos possam ser organizados de forma a serem "o menos onerosos” possível para os cidadãos.
"Os agricultores têm preocupações, expectativas e exigências legítimas para limitar a entrada excessiva de mercadorias provenientes da Ucrânia, bem como de outros mercados não europeus, na UE, especialmente na Polónia", acrescentou Siekierski, em declarações à rádio pública na sexta-feira.