Câmaras do Dragão Arena desviadas durante agressões a sócios do FC Porto

Arremesso de objectos e agressões físicas escondidos por reposicionamento de câmaras. PSP não entrou no Dragão Arena, apesar de queixas de violência.

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Informação consta do despacho do juiz de instrução criminal na Operação Pretoriano, documento a que o PÚBLICO teve acesso Nelson Garrido
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Os responsáveis de segurança do FC Porto rejeitaram a presença de forças de segurança durante a Assembleia-Geral (AG) de 13 de Novembro manchada por confrontos, não alertando a Polícia de Segurança Pública (PSP) para o cenário de violência vivido no interior do Dragão Arena. Esta informação consta do despacho do juiz de instrução criminal na Operação Pretoriano, documento a que o PÚBLICO teve acesso.

No momento de maior tensão no interior do pavilhão portista, as câmaras de videovigilância foram desviadas para sítios onde não ocorriam altercações. Nos momentos em que esse desvio acontece, regista-se o lançamento de objectos e agressões físicas.

Nos dias que antecederam a AG, poucos eram os que achavam que a AG portista ia reunir pacificamente. A própria PSP, ciente da divisão entre apoiantes de Pinto da Costa e André Villas-Boas, expressou preocupação com a realização do evento. Os Super Dragões estariam interessados na aprovação da revisão estatutária votada nessa noite, diz o Ministério Público (MP), de modo a salvaguardarem os interesses da claque na venda de bilhetes. Esta votação seria ainda favorável à direcção de Pinto da Costa, aponta o MP.

Um agente da PSP que estava na AG portista na qualidade de sócios dos “dragões” alertou o presidente da mesa da AG, Lourenço Pinto, mas o responsável terá ignorado os apelos do polícia. Um dos sócios agredidos ligou para o 112, pedindo apoio médico e de segurança.

Mensagens trocadas dias antes no WhatsApp mostrariam já o clima de intimidação que estava a ser preparado entre vários membros dos Super Dragões. Na altura da acreditação, Fernando Madureira, líder dos Super Dragões, terá passado cartões de sócios a membros da claque, que, sem serem associados do clube, conseguiram assistir à AG.

O chefe da claque portista aguarda o julgamento em prisão preventiva, juntamente com Hugo “Polaco” Carneiro. Vítor Catão ficará em prisão domiciliária, enquanto Sandra Madureira está obrigada a apresentar-se três vezes por semana na esquadra, bem como nos momentos de jogos do FC Porto. Todos os arguidos estão impedidos de ocuparem cargos nos Super Dragões.

O oficial de ligação aos adeptos portista, Fernando Saúl, trocou mensagens com Fernando Madureira. Na correspondência apurada pela investigação, o funcionário portista admitiu ter agredido sócios na AG.

André Villas-Boas foi chamado a testemunhar, bem como os restantes sócios coagidos e agredidos. Também foram ouvidos os jornalistas obrigados a abandonar as imediações do Dragão Arena, após serem ameaçados e coagidos por membros dos Super Dragões.

Em reacção, e através da rede social X, o director de informação e comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, declarou ser "completamente falso que as câmaras de segurança tenham sido desviadas propositadamente".

"Ao contrário do que normalmente acontece em Portugal, o FC Porto cedeu todas as imagens que possuía e fê-lo rapidamente, sem recorrer a expedientes dilatórios, o que nem era difícil. Ou inventando avarias momentâneas, para dizer que nada ficou registado. Isto sim, devia ser notícia", escreveu o responsável da comunicação portista.

"É verdade que uma das câmaras do Dragão Arena não apanhou um dos focos iniciais dos desacatos, apenas porque estava a seguir outros adeptos que eram um potencial foco de problemas. Como é normal, as câmaras vão 'varrendo' diferentes áreas e detêm-se onde há a suspeita de problemas, sendo impossível apanhar todos os focos de possíveis problemas", argumentou.

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