Paquistão: Imran Khan declara vitória e pede aos apoiantes para “protegerem o voto”
Sharif também festejou vitória. Eleitores “gritaram a sua aprovação a Khan” para ser o próximo primeiro-ministro, diz o seu partido, avisando que ignorar resultados poderá ter “consequências mortais”.
Depois de uma longa noite eleitoral e de um dia inteiro com resultados divulgados quase a conta-gotas, o partido do ex-primeiro-ministro Imran Khan divulgou o seu discurso de vitória, gerado por inteligência artificial a partir da prisão, descrevendo uma “resposta sem precedentes da nação”.
Passavam já alguns minutos da meia-noite no Paquistão e os últimos resultados divulgados, com 244 lugares em 266 atribuídos, atribuíam 98 aos independentes – a esmagadora maioria candidatos apoiados pelo partido de Khan –, enquanto a formação do também ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif somava 69.
Khan apelou ainda aos seus membros e apoiantes do seu partido para "protegerem o voto".
Khan, afastado por uma moção de censura em Abril de 2022, está preso e enfrenta mais de 150 processos. Na última semana de campanha foi condenado a dez anos de prisão por violar segredos de Estado a mais de 14 por corrupção. Com Khan impedido de se apresentar a votos, os candidatos do seu Movimento pela Justiça do Paquistão (PTI) optaram por se apresentar como independentes.
Já Sharif contava com uma vitória fácil para a sua a Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N). Admitindo que os resultados não chegam para que possa governar, Sharif fez ainda assim um discurso de vitória, horas antes de Khan divulgar o seu na rede X, festejando que o seu partido fosse “o maior” no Parlamento. Garantindo que respeita os mandatos conquistados pelos outros partidos e pelos independentes, disse que “todos devem juntar-se para formar um governo” e “mudar” o país.
“Nós já tirámos o país de tempos difíceis antes e podemos fazê-lo novamente”, defendeu o político que liderou três governos e foi primeiro destituído num golpe militar (1999) e depois afastado por alegações de corrupção (2017), antes de se mudar para o Reino Unido. Em Outubro, depois do regresso, viu a sua proibição de se apresentar a cargos públicos anulada e foi absolvido de duas acusações de corrupção a tempo de se candidatar.
Os atrasos na divulgação dos resultados geraram muitas suspeitas de irregularidades, numas eleições já marcadas por muita violência (com atentados na véspera e no dia da ida às urnas a fazerem pelo menos 42 mortos) e pelas graves crises política e económica. Com as autoridades em silêncio durante a noite, os políticos não foram os únicos a admitir irregularidades. A demora “é incomum e leva a pensar que algo esteja a acontecer nos bastidores”, afirmou à Al-Jazeera Zoha Waseem, professora na Universidade britânica de Warwick, que estuda a política paquistanesa.
“Nem Sharif nem o seu PML-N esperavam isso e, por isso, passaram a noite em silêncio”, defendeu Waseem. “Estavam demasiado confiantes na sua vitória, mas parece que os eleitores estavam menos inclinados [para isso].”
Para esta académica, a “repressão e ira” do establishment (político e, acima de tudo, militar) contra membros e apoiantes do PTI “saiu-lhes pela culatra”.
Comentando a vantagem dos independentes, Maya Tudor, da Universidade de Oxford, descreveu os resultados dos candidatos de Khan como “chocantes”. “Uma vitória seria extraordinária – em todas as outras eleições na história recente do Paquistão ganhou o candidato preferido dos militares”, disse à BBC. Desta vez, o preferido do Exército era Sharif.
Mas nem a antiga estrela de críquete nem Sharif terão votos suficientes para a maioria simples, que se obtém com 134 lugares, e no actual clima quaisquer negociações para formar uma coligação entre ambos parecem impensáveis.
Raoof Hasan, porta-voz do PTI defendera que os eleitores "gritaram a sua aprovação ao presidente vitalício do PTI, Imran Khan" para ser o próximo primeiro-ministro. “Os detentores do poder devem aprender a respeitar a escolha das pessoas”, disse ainda, avisando que qualquer esforço para “inviabilizar essa decisão” terá “consequências mortais”.
Desde que foi afastado, depois de acusar os Estados Unidos de orquestrarem uma campanha para o derrubar em conluio com a oposição, Khan viu o Exército lançar ataques sucessivos contra o PTI, cujos candidatos foram detidos aos milhares, impedidos de fazer campanha e proibidos de usar o símbolo do partido, o bastão de críquete, nos boletins de voto. Desde então, o político já mobilizou várias vezes os seus apoiantes, como fez agora, e estes chegaram a conseguir obrigar as autoridades a adiar a sua detenção.