Mão-de-obra mais cara faz subir custos de construção em 4% em 2023

Numa altura em que o preço dos materiais já está a baixar, o encarecimento da mão-de-obra continua a fazer subir os custos de construção de habitação nova, embora a um ritmo menos acelerado.

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Custos de construção continuaram a aumentar em 2023 Manuel Roberto
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Os custos de construção de habitação nova voltaram a aumentar no ano passado, mas a um ritmo menos acelerado do que aquele que se verificou nos dois anos anteriores. Este abrandamento é explicado pela queda dos preços dos materiais, numa altura em que os custos da mão-de-obra continuam a aumentar. Os dados foram divulgados, nesta sexta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Segundo o INE, no mês de Dezembro, o índice de custos de construção de habitação nova registou uma subida de 1,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Esta é uma taxa de variação que foi diminuindo praticamente todos os meses ao longo do ano passado, acabando por se verificar uma variação média de 3,9% no conjunto de 2023. No ano anterior, o aumento médio dos custos de construção tinha sido de 12,2%.

A justificar este abrandamento está o custo dos materiais, que ainda registou uma variação positiva no conjunto do ano, graças às subidas acentuadas verificadas nos primeiros meses, mas que tem vindo a cair sucessivamente desde Abril do ano passado. Assim, no conjunto de 2023, a variação média do índice de custos dos materiais para construção de habitação nova foi de 0,9%.

Entre os materiais que mais têm contribuído para as quedas de preços, destaca o INE, estão os materiais de revestimentos, isolamentos e impermeabilização, que registam quebras de cerca de 20%, assim como o aço, com uma redução de cerca de 15%, e os produtos energéticos, com uma diminuição de 10%.

Estas quebras são registadas depois de, em 2022, terem sido alcançados máximos históricos nos custos de construção, num período em que a crise de matérias-primas, provocada inicialmente pelo impacto da pandemia sobre as cadeias logísticas, acabou por ser agravada pela guerra na Ucrânia, que levou os preços de produtos energéticos e de materiais metalúrgicos a disparar.

Em sentido contrário, os custos da mão-de-obra continuaram a aumentar no ano passado, mantendo a tendência dos anos anteriores e até acelerando os aumentos. No ano passado, este índice registou uma variação média de 8,1%, acima da subida de 6,3% registada no ano anterior.

Abrandamento sem reflexo no preço das casas

Este abrandamento da subida dos custos de construção de habitação ainda não está, contudo, a ter um reflexo evidente nos preços de venda das casas novas.

Embora ainda não tenham sido disponibilizados dados para o conjunto do ano passado (o índice de preços da habitação será publicado pelo INE no dia 22 de Março), os dados já disponíveis, relativos ao terceiro trimestre de 2023, mostram que o aumento médio dos preços das casas novas era, nessa altura, de 6,6%, um valor inferior mas que não fica longe da variação média de 7,4% que era registada no início desse mesmo ano.

As principais consultoras imobiliárias antevêem, ainda assim, que poderá começar a verificar-se um abrandamento mais acentuado da subida de preços durante este ano, graças à descida das taxas de juro que se prevê que venha a ocorrer em 2024.

Por outro lado, o encarecimento da mão-de-obra não tem ainda uma solução à vista, numa altura em que o sector se queixa de escassez de trabalhadores. Em Outubro do ano passado, em declarações à Lusa, o presidente do Sindicato da Construção de Portugal, Albano Ribeiro, estimava que, nos últimos seis anos, tenham saído de Portugal cerca de 300 mil trabalhadores da construção civil, dos quais 16 mil são engenheiros civis. O sindicato propõe a subida de salários para combater a saída de mão-de-obra qualificada.

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