Kering regista declínio de vendas no último trimestre e a culpa é sobretudo da Gucci

A Gucci melhorou no quarto trimestre, com uma descida de 4% — em comparação com uma descida de 7% no terceiro trimestre. A marca-estrela é motivo de preocupação no conglomerado.

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Desfile da Gucci na Semana da Moda Masculina de Milão, em Janeiro Reuters/DANIELE MASCOLO
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A Kering registou uma queda de 4% nas vendas do quarto trimestre, atingida pelo abrandamento da procura, numa altura em que tenta dar a volta à sua marca de topo, a Gucci. Em comunicado, o conglomerado francês refere que os investimentos nas marcas podem afectar as margens em 2024.

As vendas do grupo, que também detém emblemas como a Bottega Veneta, a Balenciaga ou a joalheira Boucheron, caíram para 4,97 mil milhões de euros nos últimos três meses de 2023, apesar de terem sido registadas melhorias nos Estados Unidos e na Europa. Este valor está em linha com as expectativas de 4,94 mil milhões de euros, de acordo com as estimativas de consenso citadas pelo RBC, que mede os mercados de capitais.

Depois de um esplendor pós-pandémico que alimentou um crescimento astronómico das vendas das marcas de moda de luxo durante dois anos, os consumidores têm vindo a refrear as compras, em particular a clientela mais jovem e menos rica — mais vulnerável ao aumento da inflação.

“Vamos continuar a investir nas nossas marcas a longo prazo — sim, isso significa que no próximo ano as nossas margens serão menos sustentadas do que nos anos anteriores”, declara a directora financeira da Kering, Armelle Poulou, aos jornalistas. E acrescenta: “Pensamos que é uma boa estratégia para garantir o crescimento a longo prazo das nossas marcas.”

Os esforços da Kering para reavivar as vendas da sua marca-estrela, a Gucci, que ficou atrás dos seus rivais nos últimos dois anos, têm sido em vão, culpa do abrandamento da procura.

Os analistas do Barclays projectam um crescimento de 5% para as empresas de luxo este ano, contra os 9% no ano passado. Trata-se de uma projecção muito aquém do crescimento de dois dígitos em 2021 e 2022.

O desempenho da Gucci melhorou no quarto trimestre, com uma descida de 4% em termos anuais — em comparação com uma descida de 7% no terceiro trimestre. A margem operacional recorrente da marca italiana situou-se em 33,1% para o ano inteiro, inferior ao nível de 35,3% registado no primeiro semestre.

“A Gucci não está a ter um desempenho pior do que o esperado, o que é um alívio”, diz Piral Dadhania, analista do RBC, observando que o foco agora se voltaria para as perspectivas de margem da etiqueta.

No ano passado, a casa de Florença apresentou um novo director criativo — Sabato de Sarno veio substituir Alessandro Michele — com a expectativa de que a novidade servisse para estimular o interesse nos seus produtos. Sarno não trouxe propriamente uma nova identidade para a Gucci e não foi suficiente para combater a inflação.

Resta saber se há recuperação possível para a marca centenária. A Gucci nasceu em 1921 em Florença, Itália, no seio da família homónima. Entre dramas familiares e crises, atingiu o seu expoente máximo sobre a liderança criativa do criador norte-americano Tom Ford, até 2004. É nesse ano que a família se afasta definitivamente da marca e a Kering assume os comandos.