Hamas propõe plano para trégua. Netanyahu fala em caminho para “novo massacre”

Movimento palestiniano quer cessar-fogo de mais de quatro meses para libertar reféns em troca de presos palestinianos detidos em penitenciárias israelitas.

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Destruição após bombardeamento sobre campo de refugiados em Rafah, no Sul da Faixa de Gaza EPA/HAITHAM IMAD
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O Hamas respondeu a uma proposta de cessar-fogo com um plano próprio que apresenta um caminho para o fim da guerra na Faixa de Gaza. Do lado de Israel, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse que a proposta "ilusória" do Hamas "conduzirá a um novo massacre e provocará uma grande tragédia em Israel que ninguém estará disposto a aceitar".

Segundo o documento elaborado pelo movimento palestiniano, estão previstas três fases com a duração de 45 dias cada uma durante as quais irá estar em vigor um cessar-fogo. O Hamas compromete-se a libertar os reféns que mantém sequestrados desde 7 de Outubro, as forças israelitas retirar-se-iam totalmente do território, seriam trocados corpos e restos mortais de ambos os lados e abrir-se-ia caminho para a reconstrução de Gaza, diz a proposta, citada pela Reuters.

Durante a primeira fase, seriam libertadas todas as reféns do sexo feminino, os homens com menos de 19 anos, os idosos e doentes, em troca da libertação de mulheres e crianças palestinianas detidas nas prisões israelitas.

Os restantes reféns seriam libertados na segunda fase e os restos mortais na terceira. O Hamas diz que pretende a libertação de 1500 presos palestinianos, dos quais 500 seriam seleccionados de uma lista de condenados a penas de prisão perpétua. O movimento islamista diz esperar que no fim da terceira fase estejam reunidas as condições para que seja assinado um acordo para pôr fim à guerra.

Gaza desmilitarizada e substituição da UNRWA

Ao final da tarde, numa conferência de imprensa, e depois de um encontro com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, Netanyahu confirmou o que se esperava: uma rejeição da proposta. "Render-se às condições ilusórias do Hamas conduzirá a outro massacre e provocará uma grande tragédia em Israel que ninguém estaria disposto a aceitar", disse.

Netanyahu afirma ter dito ao secretário de Estado norte-americano que Israel assegurará que a Faixa de Gaza será desmilitarizada para sempre após a eliminação do Hamas. "Não parte do Hamas, não metade do Hamas, mas todo o Hamas", assegurou. As Forças de Defesa de Israel actuarão "onde e quando for necessário" em Gaza, afirma o primeiro-ministro israelita, dando a entender que as operações militares na região vão prolongar-se.

O primeiro-ministro disse, ainda, que "tem vindo a debater-se com uma série de acordos de paz importantes" e que acredita que "será possível chegar a uma solução". "Mas não vamos conseguir chegar a esses acordos, a esses tratados de paz e à normalização sem derrotar o Hamas", insistiu.

Na sua intervenção, o responsável israelita pediu ainda a substituição da agência da ONU responsável pelos refugiados palestinianos (UNRWA)​. No final de Janeiro, uma investigação de Israel apontou para o alegado envolvimento de funcionários da UNRWA no ataque do 7 de Outubro, lavando ao fim do apoio internacional de vários países a esta agência. Netanyahu insistiu na ideia de que 60% da ajuda humanitária que chega a Gaza está a ser "controlada pelo Hamas"

Acordo vai demorar

O plano do Hamas, que ainda não foi divulgado oficialmente, surge em resposta a uma proposta de cessar-fogo israelita com mediação dos EUA, Qatar e Egipto, que tinha sido enviada há uma semana. Em declarações ao canal Al-Jazeera, Hussein Haridi, antigo ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros do Egipto, tinha dito que "há um certo ímpeto para uma potencial trégua, mas o anúncio pode não ser iminente". "Talvez seja cedo para um acordo final", insistiu. Haridi sublinhou que Israel irá certamente tentar "diluir alguns elementos da contraproposta do Hamas", sublinhando que "o mais expectável é que Israel não diga que sim a tudo".

No entanto, a pressão para que seja alcançado um cessar-fogo é elevada, sobretudo pelos sinais crescentes de que o conflito está já a ampliar-se para a esfera regional. A notícia de que teriam morrido já mais reféns do que pensado até agora (32 mortes confirmadas e 20 que estão ainda a ser verificadas, segundo o diário norte-americano The New York Times) também levou a ainda mais pressão das famílias dos reféns para um acordo.

Situação em Rafah continua a deteriorar-se

Ao mesmo tempo que a atenção está centrada no acordo para uma nova trégua, a tragédia humanitária em Gaza continua a agravar-se, de forma particular em Rafah, cidade onde se juntaram milhares de palestinianos que procuraram abrigo depois dos bombardeamentos de Israel noutros pontos do enclave.

Repetindo os alertas que tem deixado praticamente desde que as IDF entraram na Faixa de Gaza, o secretário-geral nas Nações Unidas, António Guterres, disse estar "particularmente alarmado" com os relatórios que dão conta de que os militares israelitas pretendem focar a sua acção em Rafah. "Uma acção desse tipo aumentaria exponencialmente o que já é um pesadelo humanitário com consequências regionais incalculáveis", disse Guterres à Assembleia Geral da ONU, apelando novamente a um cessar-fogo humanitário imediato e à libertação incondicional de todos os reféns.

Cerca de 1,9 milhões de pessoas permanecem abrigadas na cidade que faz fronteira com o Egipto depois de terem sido mandadas para lá pelas IDF, que anteriormente descreviam o local como sendo uma "área segura". O Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, a sigla em inglês) afirmou, no início desta semana, que um ataque israelita poderia conduzir a uma "perda de vidas civis em grande escala".

Ainda de acordo com a OCHA desde Janeiro que as missões humanitárias que saíram do Sul de Gaza em direcção ao Norte diminuirão de forma drástica. A agência da ONU disse que das 61 missões planeadas para o Norte, apenas dez foram facilitadas pelas autoridades israelitas; duas foram parcialmente facilitadas; 34 tiveram o acesso negado; e seis foram adiadas pelas organizações de ajuda devido a "constrangimentos operacionais internos", detalha a Al-Jazeera.

As missões facilitadas envolveram principalmente a distribuição de alimentos, ao passo que o acesso das missões de apoio a hospitais e instalações críticas que prestam serviços relacionados com a distribuição de água, produtos de higiene e saneamento foram maioritariamente negados.

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