Bukele venceu eleições em El Salvador ainda antes de todos terem votado
Presidente salvadorenho anunciou vitória esmagadora (mais de 85%) nas eleições presidenciais de domingo, depois de ter prometido acabar com os gangs.
O Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, declarou no domingo que tinha ganho as eleições presidenciais e legislativas do país “com mais de 85% dos votos”, pouco depois de ter anunciado o encerramento das assembleias de voto sem permitir que os cidadãos que ainda estavam na fila pudessem votar. O governante disse ainda que o país não será “lacaio” de ninguém e abre as portas do país a novos “amigos, aliados e parceiros”.
“De acordo com os nossos números, ganhámos as eleições presidenciais com mais de 85% dos votos e um mínimo de 58 dos 60 deputados da assembleia. O recorde em toda a história democrática do mundo”, escreveu Bukele nas redes sociais no domingo. Os seus apoiantes celebraram a vitória nas ruas, agitando bandeiras e parando o trânsito. “O céu estrelado de San Salvador foi momentaneamente iluminado por fogos-de-artifício”, escreve o correspondente do El País em El Salvador, Juan Diego Quesada.
De acordo com os dados provisórios publicados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com cerca de 31,49% dos votos contados, Bukele tem mais de 1.295.000 votos (cerca de 76% de apoio), o que representa uma vantagem abissal sobre a segunda força, a Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), que tem pouco mais de 110.000 votos (6,5%), escreve a agência de notícias espanhola Europa Press.
“El Salvador abre as suas portas aos cidadãos de todos os países do mundo. Queremos que eles venham, que nos visitem, que nos conheçam. Queremos ser seus amigos, seus aliados, seus parceiros. O que não faremos é ser vossos lacaios. E não é apenas porque temos esse direito, que temos, mas também porque tentámos as vossas receitas durante 50 anos e nunca funcionaram”, disse Bukele durante o seu discurso de celebração, referindo-se às críticas internacionais à sua campanha anti-gangs.
“Todos juntos, pulverizamos a oposição”, afirmou, de pé, com sua mulher, na varanda do Palácio Nacional, aos seus apoiantes. “El Salvador passou do país mais inseguro para o mais seguro. Agora, nos próximos cinco anos, esperem para ver o que vamos fazer”, acrescentou Bukele.
Bukele exerceu o seu direito de voto apenas uma hora e meia antes da hora prevista para o encerramento das urnas, num dia que decorreu num clima de normalidade, embora com alguns atrasos na abertura de algumas assembleias de voto. Os partidos políticos da oposição também denunciaram anomalias, como o candidato da Arena Joel Sánchez, que criticou o facto de o partido de Bukele ter continuado a fazer propaganda dentro dos centros de votação e apelou à mobilização para votar.
Mão pesada contra os gangs
O resultado, segundo escreve o diário El País, não apresenta grande surpresa, já que Bukele goza de um índice de popularidade muito grande depois de ter controlado a violência dos gangs. Ainda assim, as organizações humanitárias criticaram algumas medidas levadas a cabo na acção do Governo contra o crime organizado, denunciando detenções aleatórias e a violação de alguns direitos fundamentais dos cidadãos.
Estas críticas não tiveram, porém, qualquer impacto, com Bukele a apontar o dedo aos meios de comunicação estrangeiros e às “elites” pela “perseguição” de que é alvo. “Estamos a celebrar, a agradecer-lhe, a agradecer a Deus, por nos ter livrado deste problema dos gangs. Não queremos voltar a esse passado horrível”, disse à Reuters Guadalupe Guillen, uma comerciante, de 55 anos, apoiante do Presidente, que acrescentou que já não paga 300 dólares de extorsão aos gangs de quinze em quinze dias.
No ano passado, o Supremo Tribunal Eleitoral de El Salvador permitiu que concorresse a um segundo mandato, apesar de a Constituição do país o proibir. Os opositores temem que Bukele tente governar permanentemente, seguindo o exemplo do Presidente da vizinha Nicarágua, Daniel Ortega.
“Toda a gente sabe que é inconstitucional reeleger o Presidente, mas o que as pessoas querem é segurança. Não querem saber se é inconstitucional, só querem sentir-se seguros”, disse Josue Galdamez, 39 anos, um empresário e comerciante que apoiou Bukele devido à sua guerra contra os gangs.
Quando questionado por um jornalista, no domingo, se tencionava reformar a Constituição para incluir a reeleição indefinida, Bukele disse que não achava “uma reforma constitucional necessária”, mas não respondeu directamente a perguntas sobre se tentaria concorrer a um terceiro mandato.