PSD, BE e PAN temem instrumentalização das forças de segurança pela extrema-direita

Montenegro “espera” que não haja “motivos políticos extremistas e populistas”. O PCP exige uma resposta rápida às reivindicações das forças de segurança e o Chega diz-se solidário com reivindicações.

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Os polícias concentraram-se neste domingo na Praça do Comércio, em Lisboa NFS Nuno Ferreira Santos?
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São vários os partidos que neste domingo alertam para o perigo de as forças de segurança serem instrumentalizadas pela extrema-direita. O PSD teme que possa haver "motivos políticos e extremistas e populistas" por detrás das acções de protesto das forças de segurança, ao passo que o Bloco de Esquerda e o PAN pedem às forças policiais que não percam a razão com anúncios de boicotes que ponham em causa a democracia. O PCP ironizou sobre o Governo ser mais lesto a abrir inquéritos a polícias do que a responder às suas reivindicações. Também o presidente do Chega reagiu para se mostrar solidário relativamente às forças de segurança.

O presidente do PSD sugeriu que as polícias podem estar a ser instrumentalizadas pela extrema-direita. Em Ponta Delgada, Luís Montenegro afirmou "esperar que não haja forças extremistas e populistas a estimular este tipo de protestos". Segundo Montenegro, a situação é demasiado "grave para se brincar com o fogo".

Luís Montenegro apontou o Governo como "principal responsável por criar desigualdades" entre forças de segurança, ao avançar com o subsídio de compensação à PJ que não estendeu à PSP e à GNR. Esta decisão é, segundo Montenegro, "um erro que [o primeiro-ministro] não explica nem justifica, numa postura de arrogância e silêncio".

Mas "o erro imperdoável do Governo", para o líder do PSD, "não dá o direito às forças de segurança de violarem a lei, a disciplina, e criarem um sentimento de insegurança nos portugueses". "Mais inexplicável é fazer ameaças de boicote às eleições legislativas", disse Montenegro, em Ponta Delgada, onde esteve para acompanhar os resultados das eleições regionais ao lado do líder da AD-Açores, José Manuel Bolieiro.

Em Coimbra, numa sessão de apresentação das principais propostas do programa para as eleições de 10 de Março, Mariana Mortágua defendeu as reivindicações dos agentes da PSP e militares da GNR, que "garantem a democracia e devem ter remunerações de acordo com a função que desempenham".

"Os elementos da PSP e GNR são trabalhadores que nas últimas décadas tiveram salários estagnados e que hoje se deslocam para ir trabalhar e não conseguem ter um salário para pagar a casa do sítio onde trabalham", sublinhou.

A líder bloquista salientou que as forças de segurança "têm toda a razão nas suas exigências, mas não a devem perder com anúncios de actos que põem em causa o próprio processo democrático, como anúncios de boicote a actos eleitorais". "O Governo deve ouvir as boas razões destes profissionais e responder-lhes com justiça, que é um salário digno que permita a forças de segurança, professores, médicos, enfermeiros, oficiais de justiça, técnicos e toda a gente que constrói o Estado e a democracia viver com dignidade."

"Não se deixem levar por discursos populistas e fáceis"

Por seu lado, a porta-voz do PAN recordou que a Assembleia da República está actualmente dissolvida, o que torna "muito difícil fiscalizar a acção governativa", e salientou que, caso as eleições legislativas não se realizem, "o Governo vai poder fazer aquilo que bem entender e vai continuar de forma transitória".

Falando aos jornalistas na Feira do Relógio, em Lisboa, Inês Sousa Real deixou um apelo: "Apelamos a estas forças de segurança para que permitam que haja o acto eleitoral, que contribuam para que a democracia esteja estável e reposta e, acima de tudo, que não se deixem levar por discursos populistas e fáceis."

"É preciso garantir que, no ano em que vamos celebrar os 50 anos do 25 de Abril, (...) a democracia esteja estável, que haja de facto a valorização destes profissionais. Mas isso só se vai fazer com uma Assembleia plural e democrática, e não com forças populistas antidemocráticas ou com actos que possam pôr em causa a estabilidade de um acto eleitoral", advertiu.

Questionada sobre se considera que o Governo, apesar de estar em gestão, pode responder às reivindicações da PSP e GNR – a equiparação do seu subsídio de missão ao da PJ –, Inês Sousa Real respondeu: "Sem dúvida, o Governo tem esse poder, pode e deve fazê-lo."

"Da mesma forma que o fez para a PJ, deveria tê-lo feito também para os demais agentes de segurança, seja no caso da PSP, da GNR, seja, por exemplo, não tendo rejeitado – infelizmente, PS e PSD rejeitaram – a proposta do PAN que visava a valorização dos bombeiros profissionais", disse. Inês de Sousa Real considerou que é "uma injustiça, do ponto de vista social, esta diferenciação" entre os agentes da PJ e os da PSP e GNR.

Já o secretário-geral do PCP criticou a rapidez com que o Governo abriu processos às forças de segurança, considerando que deveria ser "tão ágil" a responder às suas reivindicações. "Um Governo tão ágil a abrir processos disciplinares e a averiguar deveria aproveitar essa rapidez para, no mínimo, abrir caminhos para a resolução dos problemas que os profissionais estão a enfrentar", defendeu Paulo Raimundo, na Guarda, onde participou numa sessão pública da CDU.

O líder do PCP considerou que "são justas reivindicações, de reconhecimento e valorização do trabalho" dos profissionais das forças de segurança, e defendeu que "um Governo de gestão tem todas as condições de responder, no mínimo abrir caminhos". "Foi o mesmo Governo de gestão que na semana passada decidiu, na teoria, vamos ver na prática, atribuir 500 milhões de euros aos agricultores. Fez bem. Mas é um governo de gestão", argumentou.

O dirigente comunista salientou que há "milhares e milhares de forças de segurança na rua, com o que isso tem de pressão e de sentimento de injustiça". "Não é uma situação para que um governo qualquer, com bom senso, responder de imediato, nem que fosse abrir caminhos para o futuro?", questionou.

André Ventura falou aos jornalistas no início de uma arruada nas ruas do Seixal, no distrito de Setúbal, reagindo a uma entrevista do presidente do Sindicato Nacional da Polícia à estação televisiva SIC-Notícias, na qual disse que não só os jogos de futebol estão em risco como também podem estar as eleições legislativas, porque são os polícias que transportam as urnas de voto.

O líder do Chega disse acreditar que tal não irá acontecer, mas atribuiu ao Governo a total responsabilidade pela actual tensão nas forças de segurança. "Eu acho que isso não vai acontecer. As forças de segurança são as principais interessadas em que haja uma mudança política, seja à esquerda ou à direita, que permita resolver estes problemas", disse, declarando compreender a "frustração e a indignação dos polícias".

"Compreendo a revolta destas pessoas, e eu faria o mesmo no lugar deles. Sei que isto me vai custar votos e apoios mas tenho de dizer porque é o que eu sinto. Estes homens e mulheres não aguentam mais", frisou.