Morreu Hage Geingob, Presidente da Namíbia e “pilar da nação”

Ícone da luta pela libertação, Geingob tinha 82 anos e estava a receber tratamento após ter sido diagnosticado com um cancro.

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Geingob lançou discussões com a Alemanha sobre massacre dos povos herero e nama Reuters/Siphiwe Sibeko
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O Presidente da Namíbia, Hage Geingob, que estava a receber tratamento devido a um cancro, morreu neste domingo aos 82 anos, anunciou a Presidência daquele país africano.

Num comunicado, o vice-presidente do país, Nangolo Mbumba — o actual presidente interino da Namíbia —, disse que Geingob morreu pouco depois da meia-noite (23h de sábado em Portugal continental) no Hospital Lady Pohamba, na capital, Windhoek.

O comunicado sublinha que Geingob morreu na presença da mulher, Monica Geingos, e dos filhos, "apesar dos esforços enérgicos da equipa médica".

"A nação perdeu um ilustre servidor do povo, um ícone da luta pela libertação, o principal arquitecto da nossa Constituição e o pilar da casa da Namíbia", disse Mbuma.

O presidente interino pediu à população que "permaneça calma e serena enquanto o Governo cuida de todos os preparativos e demais protocolos estaduais necessários" e prometeu que o executivo irá reunir-se "com efeito imediato" para tomar as providências necessárias.

As eleições presidenciais e para a Assembleia Nacional da Namíbia estavam previstas para finais de 2024.

A 19 de Janeiro, a Presidência da Namíbia anunciou que Hage Geingob ia iniciar um tratamento contra o cancro, depois de uma biópsia ter detectado células cancerígenas.

"No âmbito dos exames médicos anuais regulares, a Presidência informou o público namibiano de que o chefe de Estado foi submetido a uma colonoscopia e a uma gastroscopia, a 8 de Janeiro de 2024, seguidas de uma biópsia, cujos resultados revelaram células cancerígenas", anunciou a Presidência, a 19 de Janeiro, através de um comunicado.

Geingob ia então iniciar "um tratamento médico adequado" para fazer face ao diagnóstico.

A Namíbia faz parte de um terço dos 54 Estados soberanos de África que vão a eleições — presidenciais, legislativas ou autárquicas — em 2024, após um ano marcado por vários golpes de Estado e avisos sobre a diminuição do espaço democrático em muitos países.

Presidente desde 2015, Hage Geingob foi o principal responsável pelo início das conversações com a Alemanha para a revisão das atrocidades cometidas pelo Império Alemão durante o período colonial, incluindo o eventual pagamento de compensações.

A ocupação alemã de territórios actualmente pertencentes à Namíbia decorreu entre 1884 e 1915.

A 12 de Janeiro de 1904, houve uma primeira revolta dos hereros contra o domínio colonial alemão, seguida, em Outubro do mesmo ano, pela revolta da população nama.

Estima-se que os soldados do Imperador Guilherme II tenham exterminado 65 mil hereros de uma população de 80 mil, e pelo menos 10 mil dos 20 mil namas.

Em Novembro de 2019, o Parlamento alemão usou pela primeira vez a palavra "genocídio" para se referir a este massacre.

Berlim não prevê o pagamento de indemnizações individuais, ao contrário das exigências dos representantes dos povos herero e nama, que apresentaram uma queixa contra a Alemanha em Nova Iorque, em 2017.