Irão afirma que ataque dos EUA “vai desestabilizar a região”

Bombardeamentos norte-americanos na Síria e no Iraque contra milícias apoiadas pelo Irão são vistos na região como “combustível para o conflito no Médio Oriente”.

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Automóvel danificado perto do local do bombardeamento dos EUA no Iraque Reuters/STRINGER
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Os governos do Iraque e da Síria denunciaram, neste sábado, aquilo que dizem ser uma "violação inaceitável" da sua soberania territorial por parte dos Estados Unidos, numa reacção aos bombardeamentos aéreos norte-americanos contra milícias apoiadas pelo Irão presentes nos dois países e que também atingiram posições dos Guardas da Revolução iranianos.

"Este ataque inaceitável ameaça arrastar o Iraque e a região para uma situação com consequências imprevisíveis", disse num comunicado o general Yahya Rasool, um porta-voz do Exército iraquiano.

O ataque dos EUA, levado a cabo por dois bombardeiros B-1 na noite de sexta-feira (madrugada de sábado no Iraque e na Síria), foi uma retaliação pela morte de três soldados norte-americanos num ataque com um drone, no fim-de-semana passado, numa região remota da Jordânia — as primeiras mortes de soldados norte-americanos na região desde o ataque do movimento islamista Hamas contra Israel, a 7 de Outubro.

Segundo o Governo iraquiano, os bombardeamentos mataram 16 pessoas e feriram outras 25 no Iraque, todas elas combatentes do Kataib Hezbollah — um grupo radical xiita iraquiano, apoiado pelo Irão, que foi identificado pelos EUA como o responsável pelo lançamento do drone que matou os soldados norte-americanos.

Na Síria, e segundo informações do Observatório Sírio dos Direitos Humanos — uma organização com sede no Reino Unido e com uma rede de colaboradores no terreno —, os ataques dos EUA mataram 18 militantes de um outro grupo apoiado pelo Irão.

Num comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria classificou os bombardeamentos norte-americanos como "uma agressão" e disse que vão "servir de combustível" para o conflito no Médio Oriente.

Apesar de todos os alertas, vários analistas consideram que a reacção do Iraque e da Síria — e principalmente do Irão — indica que ninguém tem interesse em contribuir para uma escalada após os ataques dos EUA.

Em Teerão, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Nasser Kanaani, disse que os ataques na Síria e no Iraque "são mais um erro estratégico do Governo americano, que terá como consequência um aumento das tensões e a desestabilização da região".

Equilíbrio difícil

"A Administração Biden está a tentar encontrar um equilíbrio entre a dissuasão e a desescalada", disse Abdolrasool Divsallar, especialista em questões iranianas, ao Washington Post. "Eu acho que esse equilíbrio está a ser conseguido."

Segundo o New York Times, os B-1 norte-americanos bombardearam alvos específicos, todos relacionados com ataques anteriores contra posições dos EUA na região. Entre esses alvos estão bunkers, armazéns de armamento e centros de comando e de serviços de informação usados pelas forças al-Quds, a unidade dos Guardas da Revolução iranianos que coordena as várias milícias na região apoiadas pelo Irão.

Numa conferência de imprensa, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, garantiu que nem o Pentágono nem a Casa Branca voltaram a comunicar com o Irão após o ataque que matou três soldados norte-americanos, embora a resposta fosse tida como inevitável desde a semana passada.

Kori Schake, uma ex-funcionária da Defesa dos EUA durante a Administração de George W. Bush, criticou a forma como a Administração Biden geriu a resposta à morte dos soldados, repetindo as críticas do Partido Republicano a uma "lentidão" na tomada de decisões.

Ouvida pelo New York Times, Schake disse que "o evitar de uma escalada é a filosofia predominante" na política externa da Administração Biden, e essa estratégia pode ter efeitos perversos.

"Eles não estão errados por se preocuparem com uma escalada, mas não levam em conta que isso encoraja os nossos adversários. Muitas vezes, parecemos estar muito preocupados em evitar guerras que podemos ganhar, o que motiva os nossos adversários a manipularem o nosso medo", disse Schake.

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