É preciso ter rizz para se ganhar eleições
Dizermos de nós próprios que somos muito carismáticos não soa bem, e provavelmente até serão raras as vezes em que escutamos o termo, à exceção da época pré-eleitoral.
Uma amiga partilhou comigo as “notas escolares” do filho de 3 anos e na descrição feita pela a educadora, lê-se: “É muito sociável e carinhoso, o que faz com que todos os amigos gostem da sua atenção e se aproximem dele para o abraçar. É muito fácil encontrá-lo sempre a brincar e a ajudar os amigos.” Sendo filho de uma amiga minha, a perceção de que o miúdo enternece quem o rodeia, é demasiado evidente. O rosto muito moreno, o sorriso cheio de dentes e um abraço sempre disponível. Este carisma demonstrado no jardim-de-infância, pode ter nuances ao longo do desenvolvimento da pessoa. Quantos de nós, fomos super extrovertidos no 5.º ou 6.º ano de escolaridade, e mais tarde, adotámos outro tipo de postura, mais introspetiva, não sendo sinónimo de inferior carisma. Para muitos a adolescência é um calvário, que mais não é do que uma fase que vai permanecer num passado muito distante, adquirindo-se, por vezes, outro rizz, anos mais tarde.
Rizz foi a palavra do ano 2023, para a Oxford University Press, depois de o vocábulo, gíria que nasceu nas redes sociais, se ter tornado viral com o ator Tom Holland a anunciar não ter rizz (carisma, estilo, charme, atratividade). Mas o carisma é um traço de personalidade que devém sobretudo da leitura que os outros fazem de nós. Dizermos de nós próprios que somos muito carismáticos não soa bem, e provavelmente até serão raras as vezes em que escutamos o termo, à exceção da época pré-eleitoral, onde a palavra portuguesa “carisma”, ganha nova vida. E no meio político, o carisma parece ter um peso substancial na hora de escolher quem vai orientar o rumo dos portugueses.
Numa das últimas edições do espaço de opinião "As Causas", o comentador José Miguel Júdice, disse a este propósito, que o líder do PSD é um candidato com quem se pode casar e ter filhos. Já Pedro Nuno Santos tem sido várias vezes apelidado de candidato sexy. Aliás, Marques Mendes, no dia 17 de janeiro, no seu espaço de opinião, na SIC, disse que Pedro Nuno Santos é carismático, porque tudo o que ele diz não deixa ninguém indiferente. Estamos perante a óbvia assunção de que o carisma, seja ele baseado no talento da oralidade ou no que o visual transmite, conta efetivamente tanto ou mais que as propostas políticas.
Há pessoas que entram numa sala e são invisíveis não porque estejam caladas, mas porque não têm carisma, presença ou força para se fazerem ser notadas. Outras, pela postura corporal, por um je ne sais quoi, atraem olhares e atenções, sem que façam muito esforço para tal. É dramático, mas real, perceber que já nos deixámos iludir com carismas que se revelaram incompetentes. Carisma não é tudo, mas será uma boa parte para se ganhar eleições. Biden tem algum carisma, mas não tanto como Obama. E porquê?
Quem trabalha na rádio, depois de anos e anos de entrevistas, coloca a voz no topo dos critérios para se ser carismático. Uma voz verdadeira, sem hesitações, que não perde força em momentos chave, é decisiva. Alguns líderes políticos precisam de fazer exercícios vocais, para que o que dizem por palavras tenha força suficiente para fazer o eleitorado acreditar. Em Portugal, não estamos a convencer. E nem o carisma de alguns safa. É que existem vários tipos de carisma: o da autoridade, o de chamarmos a atenção, o de sermos visionários, mas na altura conturbada que vivemos, o mais relevante é o carisma da bondade e de olhar o país num todo. Se nos esquecemos de alguns ou se criamos guetos, não estamos a ser carismáticos, mas reles.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990