Tribunal iliba Sotheby’s de ter conspirado para defraudar oligarca russo

Num julgamento em Nova Iorque, os advogados de Dmitry Rybolovlev não conseguiram convencer o júri de que a leiloeira ajudara o negociante suíço Yves Bouver a inflacionar os preços de obras de arte.

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O oligarca russo Dmitry Rybolovlev Eric Gaillard/Reuters
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O oligarca russo Dmitry Rybolovlev, que acusou a Sotheby’s de ter ajudado deliberadamente o negociante suíço Yves Bouvier a vender-lhe obras de arte a preços altamente inflacionados, não conseguiu convencer o júri do tribunal de Nova Iorque onde o caso está a ser julgado, que esta terça-feira deu razão à leiloeira.

Patrão de clubes de futebol como o Mónaco ou o Cercle Brugge, na Bélgica, Rybolovlev defende que Yves Bouvier se fazia passar por seu conselheiro e agente na compra de obras, quando na verdade funcionava secretamente como negociante de arte, vendendo-lhe, com margens de lucro que podiam chegar às dezenas de milhões de dólares, peças que tinha adquirido previamente por preço consideravelmente mais baixo, e em muitos casos através da Sotheby’s.

A leiloeira sempre assegurou que vendera as obras a Bouvier pelo valor máximo que conseguira, argumentando que não lhe dizia respeito o que o comprador viesse a fazer com elas. Uma tese que um júri federal composto por dez pessoas agora validou, negando fundamento às acusações de Rybolovlev.

Para os advogados da Sotheby's, citados pelo jornal New York Times, o coleccionador russo só tem de queixar-se de si próprio por não ter sabido proteger os seus interesses ao comprar a Bouvier obras de arte a preços excessivos.

A leiloeira já reagiu ao veredicto com um comunicado onde se sublinha que a decisão do júri reafirma “o compromisso da Sotheby’s com os mais altos padrões de integridade, ética e profissionalismo”.

Ao longo de três semanas, o tribunal ouviu responsáveis da leiloeira, mas também negociantes, consultores e outras figuras com experiência nos complexos meandros do mercado de obras de arte, proporcionando uma rara visão interna de um meio por norma extremamente reservado.

Daniel J. Kornstein, advogado de Rybolovlev, chamou a atenção para essa dimensão do julgamento num comunicado em que afirma que, apesar de o veredicto do júri ser desfavorável ao seu cliente, o processo legal cumpriu o seu objectivo: combater “a falta de transparência que grassa no mercado de arte”. Para Kornstein, foi este mesmo “secretismo” que agora “tornou difícil provar a cumplicidade num caso de fraude”.

Entre 2003 e 2014, Yves Bouvier vendeu ao multimilionário russo –​ cuja fortuna tem origem na indústria do potássio – uma série de obras de arte pelas quais este pagou, no total, quase dois mil milhões de euros. O agora ilibado acusado não nega que obteve lucros elevados, mas argumenta que o comprador sabia que estava a lidar com um negociante de arte e não com um consultor contratado. E Dmitry Rybolovlev, que processou o suíço em tribunais de vários países, nunca conseguiu provar o contrário. Acabou aliás por chegar a um acordo confidencial com Bouvier no âmbito de um processo que decorria em Genebra, levando um tribunal daquela cidade suíça a encerrar o caso.

A longa relação comercial entre ambos colapsou por mero acaso. O próprio Rybolovlev contou a história no julgamento que agora chegou ao fim em Nova Iorque. Em 2014, comprou através de Bouvier a pintura Nu Reclinado em Coxim Azul, de Amadeo Modigliani, por 108,2 milhões de euros. Acontece que no final desse mesmo ano, numa conversa casual com um consultor de arte, Sandy Heller, ficou a saber que um cliente deste vendera recentemente o mesmo quadro por 85,7 milhões. Só então, garantiu, percebeu que andava há anos a comprar arte altamente inflacionada ao próprio Bouvier, e não por seu intermédio.

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