Câmara do Porto tentará impedir despedimento de 106 vigilantes. Mas ainda não sabe como

Empresa que venceu concurso diz que não vai integrar maioria dos trabalhadores. Executivo vai apresentar proposta para contrariar esse cenário. Mas antecipa problemas judiciais

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Executivo quer impedir despedimento de 106 trabalhadores Paulo Pimenta
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Os vereadores da Câmara debateram o assunto por cerca de uma hora e mostraram-se unidos na vontade de defender os postos de trabalho de mais de 100 vigilantes que correm o risco de ficar sem emprego. A empresa de segurança Prestibel, que venceu o concurso público lançado em Março de 2023, recusa transferir a maioria (106 dos 167) dos trabalhadores que prestam serviços de vigilância em edifícios do município.

Com esta informação, a Câmara do Porto tem agora de decidir o que vai fazer. Com uma certeza, sublinhou Rui Moreira: “Há, em qualquer dos cenários, quase uma certeza de litigância e uma probabilidade de o município ser chamado à responsabilidade por um tribunal”.

À porta dos Paços do Concelho, à hora da reunião, vários trabalhadores manifestaram a sua preocupação perante o caso. No fim, no período aberto ao público, Pedro Lagoa levou aos vereadores a angústia destes dias. “Não sabemos o nosso futuro. Se vamos manter a estabilidade ou se vamos cair num limbo legal para evitar ir para o desemprego”, disse o homem, vigilante há 30 anos, 12 dos quais na Câmara do Porto.

O advogado Pedro Braga de Carvalho, que tem assessorado a Câmara do Porto nesta matéria, foi ao hemiciclo explicar os cenários possíveis. E são três. Anular o concurso público; celebrar o contrato com a Prestibel, colocando os postos de trabalho em risco; ou considerar a decisão da Prestibel como um incumprimento do caderno de encargos e entregar o serviço ao segundo classificado, a empresa Securitas, assumindo um encargo de mais 189,9 mil euros (a Prestibel apresentou a proposta mais baixa, já assumindo que não manterá os trabalhadores actuais, com os actuais direitos, regalias, antiguidade e categoria profissional, etc.).

O assunto foi levado ao debate pelo Bloco de Esquerda, com uma recomendação que acabaria chumbada pela maioria, que entendeu, nas palavras de Rui Moreira, carecer de “pareceres jurídicos” que a fundamentem. O vereador Sérgio Aires recusou retirar a proposta, como o presidente da Câmara do Porto sugeriu, mas só a vereadora da CDU, Ilda Figueiredo, a aprovou, tendo a vereadora socialista Maria João Castro optado pela abstenção.

“Apesar de todos os rodeios do juridiquês, não há grandes dúvidas de que o município do Porto não pode aceitar as condições que estão a ser impostas”, disse Sérgio Aires, apelando, também, à futura internalização deste serviço.

Não é uma solução fora de jogo para Rui Moreira. Mas é um assunto delicado: “Há apenas um município do país que conseguiu fazê-lo.” Independentemente desse futuro, esse debate é, por agora, infrutífero, apontou: “Não resolve os problemas jurídicos nem os dos trabalhadores”.

Apesar de não revelar qual será a proposta da Câmara do Porto, prometida para a próxima reunião do executivo, a 12 de Fevereiro, Rui Moreira foi deixando claro ser contra duas das três possibilidades apresentadas por Pedro Braga de Carvalho: a de anular o concurso e a de entregar o serviço à Prestibel. Tudo indica, portanto, que o município optará por considerar haver um incumprimento do caderno de encargos, passando o segundo classificado a assumir o serviço. A decisão, apontou Rui Moreira, tem de ser respaldada pelo “bem público”.

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