Arquitectura
Um casal de arquitectos emigrados voltou a Alvor e fez uma casa “caleidoscópica”
Na Casa M, a escadaria é aberta ao exterior, o chão trepa pelas paredes e as janelas são tão diferentes "como impressões digitais".
Depois de 15 anos a viverem em Oslo, na Noruega, os arquitectos Inês Almeida e Luís Fonseca decidiram que estava na altura de regressarem a Portugal. Alvor, freguesia onde costumavam passar as férias de Verão, foi o local escolhido para morarem com os filhos. Entre os planos, adiantam ao P3, estava a construção de "uma casa simples" com materiais baratos e portugueses.
Trabalharam com a forma do terreno: um lote estreito e comprido numa rua em declive junto à praia. Chamaram-lhe Casa M. Vista de fora, não é muito diferente das moradias que a ladeiam, mas há pormenores que a tornam única. O portão da garagem deixa ver o pátio interior, e das janelas feitas de tijolo vazado nasceram padrões tão diferentes “como impressões digitais”, destaca Inês Almeida.
“Utilizámos materiais vulgares e baratos e o facto de darmos um pouco de design faz com que as coisas simples ganhem uma certa elegância”, acrescenta.
Os filhos desenharam as janelas dos quartos e os arquitectos do atelier A-Lab fizeram o mesmo com todas as outras. Colocaram o mesmo pavimento de pedra em toda a casa, deixaram em aberto o tecto sob as escadarias dos três pisos, puseram janelas nos quartos com vista para outras divisões e, no último piso, uma cozinha e zona de refeições que só termina na varanda a escassos metros da praia.
O piso das escadas tem uma abertura no topo para que o ar quente saia. Por outro lado, explica Luís Fonseca, a porta perfurada do rés-do-chão deixa entrar mais ar dentro da casa e assim se consegue uma ventilação natural do edifício. “Com esses vãos abertos nas escadas, o ar sai por cima e, se abrirmos as janelas das outras divisões, vai logo querer entrar. Chama-se efeito chaminé”, acrescenta.
Para os arquitectos, a Casa M é uma "inversão dos espaços de habitar": o pavimento da sala trepa pela parede para acomodar o sofá. E as cortinas, que nunca estão junto às janelas, são utilizadas para controlar a acústica das divisões e torná-las mais acolhedoras. “Permitem-nos ter variações na casa e fazer com que espaços mais abertos de repente passem a ser fechados. E enquadrar a paisagem conforme vamos puxando o que torna tudo mais espontâneo”, destaca a arquitecta.
O casal mudou-se para a casa no início de 2023. No Verão não precisaram de ar condicionado e, segundo Luís Fonseca, a espessura das paredes faz com que vivam numa espécie de forno durante estes dias frios de Inverno. “A casa é muito caleidoscópica. As janelas criam sombras diferentes e à noite funcionam como lanternins. Temos luz do lado de fora a iluminar para dentro”, completa Inês Almeida.