ONU e Oxfam acusam Israel de ataque a abrigo e armazéns de ajuda no Sul de Gaza

Departamento de Estado dos EUA critica ataque israelita a centro das Nações Unidas e sublinhou que o estatuto de protecção destes locais tem de ser respeitado.

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Deslocados palestinianos saem de Khan Younis em direcção a Rafah HAITHAM IMAD/EPA
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Um centro de formação em Khan Younis da agência da ONU que apoia refugiados palestinianos, a UNRWA, a funcionar como abrigo para cerca de 800 pessoas, foi atingido por um ataque israelita, deixando nove palestinianos mortos e 75 feridos, disse o director da UNRWA em Gaza, Thomas White.

O ataque com dois disparos de carros de combate provocou, segundo White, um incêndio no local, e o pânico entre a multidão. O Departamento de Estado dos EUA lamentou, mais tarde, o ataque, segundo a agência Reuters, e sublinhou que o estatuto protegido de instalações da ONU tem de ser respeitado.

Enquanto isso, vários ataques têm atingido a zona de Al-Mawasi, que a dada altura foi designada como zona segura para onde Israel disse que deveriam ir as pessoas que estavam noutros locais do Sul, em especial na cidade de Khan Younis, mas que não tinha espaço ou infra-estruturas suficientes.

Um ataque israelita, diz a ONG britânica Oxfam, atingiu dois armazéns de ajuda, um deles de água, onde estavam a abrigar-se mais de 120 civis. “Os ataques mataram quatro pessoas incluindo trabalhadores humanitários, e deixaram mais de 20 feridos”, declarou a organização na rede social X.

A Oxfam está entre 16 ONG, que incluíram ainda a Amnistia Internacional, pedindo o fim de transferência de armas para Israel e para os grupos palestinianos, notando a crise de "gravidade e escala sem precedentes" para os civis palestinianos, e lembrando ainda os reféns israelitas ainda na Faixa de Gaza. Tem continuado a existir uma troca de mensagens entre mediadores e Israel e o Hamas para um acordo de libertação de reféns israelitas e de prisioneiros palestinianos, e de um cessar-fogo, com versões contraditórias sobre o seu avanço.

Os últimos dias têm, entretanto, sido de combates descritos como especialmente duros na cidade de Khan Younis, com 210 mortos entre terça e quarta-feira, segundo a agência Reuters, temendo-se que muitos mais estejam sob escombros de edifícios destruídos.

Os carros de combate israelitas têm avançado pela cidade, a segunda maior do território – Israel diz que a cercou. À população original juntaram-se centenas de milhares de pessoas que saíram do Norte, que inclui a Cidade de Gaza e onde se concentrou, numa primeira fase, a operação terrestre de Israel, e onde o exército ordenou às pessoas para que saíssem – agora, a mesma ordem foi dada para uma parte de Khan Younis.

A zona que Israel mandou evacuar inclui três hospitais e, segundo a ONU, tinha 88 mil residentes e ainda 425 mil deslocados de outras partes da Faixa de Gaza.

No entanto, diz a Reuters, a estrada pela qual as pessoas poderiam fugir para Rafah, cidade de fronteira com o Egipto, estava entretanto cortada pelas forças israelitas, com muitas pessoas a usarem estradas de terra batida para conseguirem sair. Em Rafah estão já uma série de pessoas deslocadas de outros locais.

Estas ordens de Israel têm sido muito criticadas tanto por haver pessoas que podem não se conseguir deslocar, como por continuar a haver ataques nas zonas designadas como seguras.

Desde 7 de Outubro, data do ataque sem paralelo do Hamas contra Israel (em que morreram quase 1200 pessoas no Estado hebraico e cerca de 250 foram feitos reféns), morreram um total de 25700 habitantes da Faixa de Gaza desde 7 de Outubro, números do ministério da Saúde que é controlado pelo Hamas mas onde trabalham pessoas da administração anterior da Fatah, e sem filiação, e que são considerados credíveis pelas agências da ONU e também pelos Estados Unidos. Os números do Hamas não fazem, no entanto, distinção entre combatentes do Hamas (ou da Jihad Islâmica) ou civis.

Israel diz que matou cerca de 9000 combatentes islamistas, o que o Hamas recusa, dizendo que o Estado hebraico está a tentar “mostrar uma vitória falsa”.

Além das mortes nos combates, a entrada a conta-gotas da ajuda tem levado a uma situação de fome que poderá fazer muito mais vítimas, além de que a sobrelotação dos abrigos, falta de condições para higiene e falta de acesso a cuidados médicos poderá também levar a surtos de doenças e mais mortes. Uma rede de ONG palestinianas disse, citada pela Al-Jazeera, que no Norte do território há meio milhão de pessoas em risco de morrer à fome.

Essas são algumas das razões invocadas pela África do Sul para o processo em que acusa Israel de genocídio (ou de não impedir um genocídio) no Tribunal Internacional de Justiça – o tribunal da ONU com sede em Haia anunciou esta quarta-feira que irá pronunciar-se em relação a medidas provisórias (e não sobre o cerne do caso) esta sexta-feira.

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