Britânica Posy Simmonds ganha o Grande Prémio de Angoulême
A autora de Gemma Bovery e Tamara Drewe, 78 anos, é a vencedora do prémio maior do Festival Internacional de Banda Desenhada da cidade francesa, a maior distinção da nona arte a nível mundial.
Posy Simmonds, 78 anos, é ilustradora e escritora de novelas gráficas e livros para crianças, além de cartoonista de jornais. Esta quarta-feira, foi anunciada como vencedora do Grande Prémio do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême, que decorre este ano entre esta quinta-feira e domingo. É a maior distinção de carreira da nona arte a nível mundial, sendo a primeira vez que um autor britânico o conquista e apenas a quarta vez que é uma mulher, isto em mais de meio século de existência. O festival vai na 51.ª edição e este prémio já foi dado a nomes como Will Eisner, Moebius, Gotlib, R. Crumb, Art Spiegelman ou Bill Watterson.
Em 2014, a autora esteve nomeada para este Grande Prémio, e este ano integrava a lista dos três finalistas. Acabou por ficar, na votação dos profissionais de banda desenhada que fazem parte do júri, à frente da francesa Catherine Meurisse, há vários anos finalista, e do americano Daniel Clowes. Por razões de saúde, diz o diário francês Le Monde, Simmonds, sucessora do francês Riad Sattouf, vencedor no ano passado, não esteve presente na cerimónia de anúncio do prémio. Em termos de prémios importantes, já tinha ganho em 2022, na Suíça, o Grande Prémio Rodolphe Töpffer.
Entre as suas obras contam-se as novelas gráficas Gemma Bovery (1999) e Tamara Drewe (2007), adaptações livres de, respectivamente, obras de Gustave Flaubert e Thomas Hardy, ambas por sua vez adaptadas ao cinema em filmes com a actriz Gemma Arterton. É também autora de Cassandra Darke, a partir de Charles Dickens. Estas três novelas gráficas partem todas de literatura do século XIX.
Simmonds é conhecida pelo seu olhar satírico sobre a vida britânica actual. É responsável também por colectâneas como Mrs. Weber's Diary, True Love, Musn't Grumble ou Literary Life. Entre os seus livros para crianças encontram-se títulos como Fred, que foi adaptado para uma curta-metragem de animação, Lavender ou Baker Cat.
O jornal britânico The Guardian, no qual tem publicado desde os anos 1970, incluindo as duas novelas gráficas acima mencionadas, cita a autora, a quem o prémio deixou "deslumbrada". Escrever e desenhar, diz, é algo feito "numa sala sozinha", sendo depois "muito extraordinário" que "o livro", o "trabalho" ou o seu autor ganhem "tão grande exposição [mediática]". "Acho sempre que, num mundo perfeito, o género do vencedor de um prémio como este não devia ser algo tido como notável. Mas é um mundo imperfeito", continua, e o mundo da banda desenhada em que se move "sempre foi um meio masculino, um bocado um clube de rapazes", algo que, "aos bocadinhos, especialmente ao longo da última década", tem sido "infiltrado" por "mulheres". "Fico contente por ser uma delas, claro", remata.
Ao Le Monde, fala de o prémio ser uma "notícia inesperada, que veio como um raio de sol" e a deixa feliz. "O 'Brexit' isolou-nos muito da Europa. Por isso, este prémio prestigiado faz-me sentir parte da família", conclui.
Simmonds nasceu em Berkshire, Inglaterra, em 1945, filha de mãe com raízes francesas. Estudou na Sorbonne e iniciou-se nas lides artísticas com Bear, um cartoon diário, no jornal The Sun. Trabalhou também com outras publicações como o Times ou a Cosmopolitan, chegando, como ilustradora, ao The Guardian em 1972. A sua obra é neste momento alvo de uma exposição no Centro Pompidou, em Paris.