Ainda não há vencedora, mas é certo que o Grande Prémio de Angoulême será feminino

A certeza surge depois da revelação dos nomes das finalistas: as francesas Pénélope Bagieu e Catherine Meurisse e a canadiana Julie Doucet. A vencedora será anunciada no dia 16, véspera do arranque do maior festival de banda desenhada do mundo.

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Pénélope Bagieu Eva Cagin
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Catherine Meurisse Dargaud/Rita Scaglia
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Julie Doucet Kate Mada

Não sabemos ainda quem será o Grande Prémio de Angoulême na 49.º edição daquele que é o maior festival de Banda Desenhada do mundo. Porém, uma coisa é certa: será uma mulher a receber o prémio com que Angoulême distingue o conjunto de obra de um autor. As três finalistas, anunciadas na quarta-feira, são as francesas Pénélope Bagieu e Catherine Meurisse, que já haviam chegado à shortlist em 2021, e a canadiana Julie Doucet.

Tal como acontece desde 2014, os nomes foram seleccionados por profissionais do sector, auscultados pelo Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême. A segunda ronda de votação, que já teve início, decorre até dia 8, e a vencedora será anunciada a 16, véspera do início do festival. Será a terceira vez na história de Angoulême que o Grande Prémio é atribuído a uma autora, depois da francesa Florence Cestac, em 2000, e da japonesa Rumiko Takahashi, em 2019 (em 1982, Claire Bretécher fora igualmente alvo de distinção, no caso com um Grande Prémio de comemoração do décimo aniversário do festival). Em 2021, o Grande Prémio foi atribuído ao norte-americano Chris Ware, autor da série ACME Novelty Library, iniciada em 1993, e de novelas gráficas como Jimmy Corrigan ou The Smartest Kid On Earth.

Pénélope Bagieu, nascida em 1982, foi primeiro notada na blogosfera, onde criou em 2007 Ma Vie Est Tout à Fait Fascinante, espaço onde relatava com humor o dia-a-dia de uma jovem parisiense. O livro daí resultante marcou o início de uma carreira que tem como ponto alto Destemidas – Mulheres Que Só Fazem O Que Querem. Traduzido em 20 línguas (foi publicado em Portugal pela Levoir) e vencedor do Eisner Award em 2019, é um conjunto de biografias de mulheres que, em épocas e geografias distintas, superaram os constrangimentos sociais do seu tempo.

Da mesma geração que Bagieu, Catherine Meurisse, nascida em 1980, trabalhou como cartoonista em diversas publicações, entre as quais o Libération ou o Charlie Hebdo. Foi após o atentado contra este último que se dedicou em exclusivo à banda desenhada – Lightness, publicado em 2016, um ano depois do ataque, debruça-se sobre o trauma provocado pelo trágico acontecimento. Ilustradora de livros infantis e autora de álbuns dedicados a Eugène Delacroix e a Alexandre Dumas, tornou-se em 2020 a primeira autora de banda desenhada incluída a integrar a Academia de Belas Artes francesa.

Quanto à canadiana Julie Doucet, nascida em 1965, construiu carreira como nome destacado da BD underground norte-americana, apontando o alvo ao puritanismo da sociedade em que se move, recorrendo por norma a episódios autobiográficos. Dirty Plotte, uma fanzine fotocopiada em que dava conta do seu quotidiano, das suas lutas e ambições, foi compilada e editada em álbum em 1991, marcando assim o arranque decisivo do seu percurso.

A selecção dos nomeados ao Grande Prémio foi alvo de uma reformulação em 2016, na sequência da polémica suscitada por uma lista de 30 candidatos, seleccionados pela direcção artística do festival, e composta exclusivamente por autores masculinos. O processo de selecção foi desde então alterado, de forma a melhor reflectir a diversidade do universo de criadores.

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