Hoje é o Dia da Escrita à Mão. Ainda pegas na caneta?

A 23 de Janeiro, celebra-se o Dia da Escrita à Mão. As letras traçadas narram uma história que transcende as palavras, transmitindo-a através de curvas, laços e estilo.

Foto
Megafone P3: Ainda pegas na caneta? Hoje é o Dia da Escrita à Mão Getty Images
Ouça este artigo
00:00
03:08

Ainda escreves à mão? Tiras anotações nas reuniões? Fazes apontamentos enquanto estudas ou lês? Guardas um diário onde registas pensamentos e reflexões? Se a resposta a alguma destas questões foi afirmativa, estás de parabéns, pois pertences a uma minoria.

Escrever à mão é um hábito em desuso. Quando dei aulas na faculdade, reparei que os alunos não tinham cadernos, não tiravam apontamentos. Limitavam-se a fotografar o que estava escrito no quadro. Claro, o cenário mudou: não podiam estar numa disciplina de escrita sem escrever, à mão.

Estudos demonstraram que escrever à mão contribui para melhorias na memória e no processamento de informações. Quando escrevemos, envolvemos o cérebro de forma mais profunda do que quando digitamos, o que facilita a aprendizagem e a retenção. Vantagem para quem estuda, mas não só.

Escrever, segurando entre os dedos um lápis ou uma caneta, requer também um certo grau de concentração e atenção plena. Ao contrário da velocidade da digitação num teclado, a escrita à mão é deliberada e mais lenta. Esta lentidão é benéfica para a reflexão e a clareza de pensamento, proporcionando tranquilidade no frenesim do dia-a-dia.

A escrita à mão é uma expressão de identidade e personalidade, sendo única em cada indivíduo, tal como uma impressão digital literária. As letras traçadas narram uma história que transcende as palavras, transmitindo-a através de curvas, laços e estilo. Uma manifestação artística, um reflexo da essência que se materializa em tinta (ou carvão) no papel.

Nas esferas legais e oficiais, a escrita à mão continua a ser fundamental. A assinatura manuscrita é uma representação legalmente reconhecida da nossa identidade, uma ligação inquebrável entre o indivíduo e o documento. Nesta era digital, a assinatura prevalece nas transacções e acordos formais (mesmo, por vezes, numa versão digitalizada).

Em tempos de turbilhão emocional, a escrita à mão representa um refúgio para muitos — a escrita enquanto cura —, recomendada por psicólogos em situações de trauma, cenários de ansiedade ou depressão. A simplicidade de um diário ou caderno de anotações proporciona um lugar seguro para explorar pensamentos e emoções. Uma terapia silenciosa e acessível, mais eficaz do que o scroll infinitivo do dedo no telemóvel.

A 23 de Janeiro, celebra-se o Dia da Escrita à Mão. Deixo por isso, um desafio. Escreve uma carta, um poema e envia a alguém especial ou então, compra um caderno e começa a registar episódios do teu quotidiano, pensamentos, reflexões, anseios, ao jeito de um diário ou, como se diz agora, journaling. Uma vida não registada é uma vida que se esquece.

Enquanto nos deixamos envolver pela tecnologia e pelo digital, não subestimemos a importância de preservar a arte da escrita à mão. Uma habilidade que nutre a mente, expressa a individualidade e nos liga ao passado.

Num mundo acelerado, a escrita à mão permanece como uma âncora que nos mantém ligados ao nosso ser e à humanidade que nos rodeia. Uma arte silenciosa, a não esquecer.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários