Em 2023 voltou a crescer o número de enfermeiros que pretendia emigrar. Foram quase 1700
Foram mais 527 do que no ano anterior. Ordem dos Enfermeiros quer que programas eleitorais tenham medidas destinadas a estancar a emigração
A Ordem dos Enfermeiros alertou, esta segunda-feira, para o facto de Portugal não estar a conseguir estancar a saída de enfermeiros, que encontram noutros países melhores salários, condições de trabalho e de carreira. Só em 2023 aquela entidade recebeu 1689 pedidos de declaração para efeitos de emigração. Mais 527 do que no ano anterior.
Em termos de mera comparação, a ordem indica que o número de pedidos feito no ano passado corresponde “a cerca de 60% dos 2916 enfermeiros” inscritos em 2023, mas isto não significa que foi essa a percentagem de recém-formados que saiu do país, confirma o bastonário Luís Filipe Barreira. “Não sabemos qual é a proporção de recém-licenciados que saiu, mas sabemos que não são só eles. Há também um número considerável de enfermeiros especialistas”, diz.
As razões são as mesmas que têm levado milhares destes profissionais a emigrar nos últimos anos, afirma. “O salário é uma das razões fundamentais e o desenvolvimento da própria carreira, com a perspectiva de terem uma evolução mais rápida. E aqui entra também o desenvolvimento profissional do enfermeiro, porque lá fora têm competências que aqui continuam a ser tabu. Como a prescrição por parte dos enfermeiros. Em Espanha já se avançou, mas em Portugal é algo de que não se fala. Tem vindo a aumentar o número de países que tem permitido o desenvolvimento de outras competências e isto, a par com as condições de trabalho, também conta”, refere.
Segundo os dados divulgados pela Ordem dos Enfermeiros, tal como acontecera no ano anterior, a Suíça é o país que mais está a cativar os enfermeiros portugueses, seguindo-se a Espanha, Bélgica, França e Reino Unido. Este último, apesar do Brexit, “continua a apostar no recrutamento dos enfermeiros” formados em Portugal, realça-se no comunicado da Ordem.
Fora da Europa a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos surgem como destinos cada vez mais apetecíveis para estes profissionais.
“Temos enfermeiros com níveis de exaustão muito grandes e a única coisa que temos para lhes oferecer são contratos de seis meses. Não há qualquer medida atractiva para ficarem cá”, argumento Luís Filipe Barreira.
A menos de dois meses das eleições legislativas de onde sairá o futuro governo do país, a Ordem dos Enfermeiros pediu reuniões a todas as forças políticas, para as sensibilizar para este problema, e tem já estado a reunir-se com algumas delas, diz o bastonário. “Já há cerca de um mês que fizemos uma proposta aos partidos para que, em matérias que parecem consensuais, na área da saúde, pudesse haver um acordo político, nomeadamente ao nível dos recursos humanos”, diz.
Sobre as reuniões que já aconteceram, Luís Filipe Barreira afirma que os representantes dos partidos se têm “mostrado sensíveis”, mas que não há outros sinais além disso. “É importante terem sensibilidade e reconhecerem a existência destes problemas, mas é preciso que passem à acção. Temos de ver isso vertido nos programas dos partidos”, diz.
O elevado número de enfermeiros que emigra é um problema que se mantém há vários anos, embora hoje em proporções menores do que acontecia ainda há pouco tempo. Desde 2010 que o ano em que mais declarações para efeitos de emigração foram solicitadas à Ordem foi o de 2019: foram 4506. No ano anterior, 2018, tinham sido 2736 os pedidos feitos e em 2014 tinha-se verificado o segundo número mais elevado da série - nesse ano 2850 enfermeiros tinham pedido a declaração para efeitos de emigração.