Suspeitas de romance entre procuradores da Georgia podem ajudar Trump

Ex-Presidente dos EUA acusa principais responsáveis pelo processo-crime na Georgia, sobre subversão dos resultados eleitorais de 2020, de usarem fundos públicos para pagarem viagens de lazer.

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A procuradora do distrito de Fulton, Fani Willis, nega as acusações Reuters/ELIJAH NOUVELAGE
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Uma das peças centrais da campanha eleitoral de Donald Trump em 2024 — a alegação, acolhida por uma maioria do eleitorado do Partido Republicano, de que a Administração Biden e os tribunais estão a tentar afastá-lo da corrida à Casa Branca — recebeu um novo impulso nos últimos dias, no meio de uma crise com consequências imprevisíveis para o futuro do processo-crime em que o ex-Presidente dos EUA é acusado, no estado da Georgia, de ter tentado subverter os resultados da eleição presidencial de 2020.

Em causa está a denúncia, feita por um dos co-acusados no processo que envolve Trump, de que a procuradora de Fulton, Fani Willis — a responsável máxima pela acusação na Georgia contra o ex-Presidente dos EUA — mantém um relacionamento amoroso com Nathan Wade, o advogado que a própria Willis contratou para desempenhar o cargo de procurador especial no processo.

Segundo Mark Roman — um antigo funcionário da campanha eleitoral de Trump na Georgia e um dos 15 acusados —, Willis e Wade já namoravam quando a procuradora contratou o advogado, o que levou o ex-Presidente dos EUA a exigir o arquivamento do processo.

“Os dois amantes sabiam que eu não fiz nada de errado e que a eleição presidencial na Georgia, e em muitos outros estados, foi fraudulenta”, disse Trump na rede social Truth Social, na sexta-feira. “Apesar disso, inventaram uma acusação falsa contra mim para ganharem dinheiro e fama.”

Divórcio litigioso

À denúncia de Roman seguiu-se a notícia, conhecida na sexta-feira, de que a ex-mulher de Wade o acusou, no âmbito de um processo de divórcio, de ter viajado para São Francisco e para Miami com Willis em 2022 e 2023. Segundo a mulher, Joycelyn Wade, os dois passaram férias em cruzeiros no Pacífico e nas Caraíbas e as viagens foram pagas com o cartão de crédito do procurador — e, por conseguinte, com parte do salário pago pelo gabinete de Willis.

Ao mesmo tempo, um dos responsáveis políticos do distrito de Fulton, Bob Ellis, do Partido Republicano, abriu uma investigação para determinar se a procuradora Willis “aceitou presentes valiosos ou benefícios pessoais” do procurador especial, e o juiz responsável pelo processo de divórcio dos Wade já intimou a procuradora a prestar declarações.

“Esta situação exige saber se os fundos do distrito que são destinados ao seu gabinete, para o cumprimento das funções de investigação e de acusação, foram usados de forma apropriada, e se alguma parte dos fundos pagos ao sr. Wade foram convertidos a seu favor na forma de viagens subsidiadas ou outros presentes”, escreveu Ellis no documento em que anunciou a abertura de um inquérito.

Num outro desenvolvimento, na quinta-feira, o juiz que preside ao processo-crime contra Trump, Scott McAfee, pediu a Willis que responda à alegação original de Roman — sobre a existência de uma suposta relação amorosa entre Willis e Wade, que ainda nenhum dos dois confirmou — até 2 de Fevereiro, e exigiu-lhe que esteja presente numa audiência agendada para 15 de Fevereiro.

Numa resposta ao tribunal no âmbito do processo de divórcio, Willis acusou Joycelyn Wade de querer prejudicar a sua reputação e de tentar “obstruir um processo-crime”, referindo-se às acusações contra Trump. Além disso, Willis acusou também Joycelyn Wade de “conspirar com partes interessadas no processo” para pôr em causa a sua autoridade como procuradora.

Atrasos nos julgamentos

Não é certo que a existência de um relacionamento amoroso entre Willis e Wade — a comprovar-se — seja motivo para o afastamento de ambos do processo-crime contra Trump na Georgia, mas é possível que os novos desenvolvimentos tenham consequências para o início do julgamento.

O processo na Georgia é a única das quatro acusações criminais contra Trump cujo julgamento não tem ainda data marcada para começar.

Segundo um calendário provisório, o ex-Presidente dos EUA vai a julgamento em Washington, a 4 de Março, num processo com contornos semelhantes ao da Georgia, mas em que a acusação foi deduzida pelo Departamento de Justiça dos EUA.

Ainda em Março, no dia 25, prevê-se que arranque o julgamento de Trump em Nova Iorque, num caso relacionado com o pagamento pelo silêncio de uma antiga actriz de filmes pornográficos durante a eleição presidencial de 2016; e o julgamento sobre a retenção de documentos da Casa Branca tem início marcado para 20 de Maio, na Florida.

O cenário mais provável é que nenhum dos julgamentos arranque nas datas marcadas, o que vai ao encontro do desejo do ex-Presidente dos EUA, que já revelou a sua preferência por ser julgado apenas depois da eleição presidencial de 2024 — numa altura em que poderá ordenar o fim dos dois processos-crime de âmbito federal, em Washington e na Florida, caso seja eleito Presidente dos EUA.

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